Celebramos hoje, 12 de dezembro, a festa de Nossa Senhora de Guadalupe, Padroeira da América. No início de dezembro, em 1531, ornada com as vestes reais da imperatriz asteca, a Virgem Santíssima, apareceu grávida, resplandescente como o sol a um indígena mexicano convertido, Juan Diego, canonizado em 2002 pelo então Papa São João Paulo II.

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Porventura não estou Eu aqui?

De Maria
nunquam satis – sobre Maria nunca se falará o bastante – com esta manifestação de respeito expressa por muitos santos concordamos todos aqueles a quem foi dado a graça de conhecer Nossa Senhora.

Para outros pode parecer que pensar e falar sobre Maria desvia a atenção do Salvador, mas estes, na verdade, não compreendem que a beleza espiritual da Mãe de Deus aponta sempre e nos conduz efetivamente para Deus.

O estudo de teologia, mesmo as orações com base nos próprios esquemas, não necessariamente nos aproximam de Deus, mas um encontro espiritual com Maria tem sempre uma eficácia irrevogável. É também por isso que a antiga tradição de piedade cristã concede títulos a Maria e neles medita.
Tudo isto, a fim de estar perto dela, encontrar-se na sombra de sua presença e tornar-se um favorecido seu. As manifestações de reverência para com a Mãe de Deus relacionados com a revelação de Guadalupe podem, evidentemente, variar muito, uma delas está relacionada com a verdadeira e fiel amizade apresentada por Maria em relação a Juan Diego.

Ou esta mulher encontrada no caminho não provou ser a melhor amiga do aflito índio? Sim, diz ser sua mãe, mas não apresenta nisso nem um mínimo sinal de sentimento de superioridade. A sua é uma oferta da mais profunda e mais verdadeira amizade que como que cria Juan Diego novamente, faz dele alguém diferente do que era antes. Ainda que ele tenha dito de si mesmo: “Porque em verdade eu sou um homem do campo, sou “mecapal”, sou padiola, sou cauda, sou asa; eu mesmo necessito ser conduzido, ser levado às costas…” (São Juan Diego, Nican Mopohua, 55), Ela dirigiu-se a ele com as célebres palavras:

Que tens, meu filho, o menor de todos [meu filhinho querido]?
O que é que entristece o teu coração?
Não se perturbe o teu rosto, nem o teu coração.
Porventura não estou Eu aqui, Eu que tenho a honra de ser tua mãe?
Não estás sob a minha sombra e proteção?
Não sou eu a fonte da tua alegria?
Não estás sob o meu manto e nos meus braços?
Necessitas algo mais?
(12.12.1531. Cf. Nican Mopohua, 107,108, 119)

Sim, a distância entre Juan Diego e Maria era enorme, mas a Mãe de Deus procurou reduzi-la, para levantar o pobre homem o mais alto possível, o mais próximo de si e de Deus.

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Assim como na ordem da graça foi mãe de Juan Diego, assim também foi para ele amiga apenas por causa do seu amor. E o amor de Deus, como diz São João da Cruz, sempre tende a igualar o amado com aquele que o ama tanto quanto, obviamente, é possível, devido à natureza humana.

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Portanto, podemos chamar a Mãe de Deus de nossa melhor amiga, mas, igualmente, tratando-a com grande respeito, gratidão e amor.

É um grande presente ter uma amiga assim, ter a certeza de sua ajuda, compreensão e cuidado. É uma grande alegria poder conhecê-la e se deixar moldar por esse conhecimento. Este é, pois, o mistério de Maria – o seu sorriso cura, a sua beleza remove nossa feiura espiritual, a sua presença transforma mais profundamente do que qualquer esforço humano.

Por isso, é importante pedir o dom da amizade da Mãe de Deus. Da sua parte, ela está sempre com a mão estendida em nossa direção, mas frequentemente falta a nossa resposta, ou esta é tíbia, desconfiada, insuficiente.

Muitas vezes não sabemos que podemos pedir tão grande graça e não apreciamos a sua humildade e o seu amor, seu desejo de nos conceder todas as graças necessárias para que não percamos as nossas vidas e um dia também nos tornemos santos.

São Juan Diego, certamente, nunca se esqueceu dos encontros na colina do Tepeyak, muitas vezes deve ter voltado ali, considerando a forma como tinha sido tratado por esta mulher extraordinária. E certamente a considerava como a amizade mais próxima. Certamente tinha consciência que Ela mesma era uma resposta à sua miséria, medos e limitações da natureza com as quais, como todos, teve que lidar até o fim de sua vida. Que nisso possamos imitá-lo…

 

Ladek Piasecki