Jesus diz que a vinda do Filho do homem será «como foi nos dias de Noé». Mas que dias foram os de Noé? Eis a resposta: «Nos dias que precederam o dilúvio, comia-se, bebia-se, os homens casavam e as mulheres eram dadas em casamento» (Mateus 24, 37-39).

A geração de Noé, no fundo, o que fazia de mal? Satisfaziam as necessidades fundamentais, como comer, e os instintos primários, como a procriação. Mas Jesus acrescenta: «Não deram por nada até chegar o dilúvio, que a todos arrastou».

Não se deram conta do que estava a acontecer, e toda uma geração foi destruída. Alimentar-se e reproduzir-se: quando se reduz a vida humana só a isto, é-se esmagado pela própria vida que se faz. Comer e unir-se sexualmente sem dar conta de nada é próprio dos animais, não dos seres humanos.

Desta maneira, a geração do dilúvio é uma figuração de cada geração degenerada. Ao contrário, vigiar significa não reduzir a própria vida à pura satisfação das necessidades, das pulsões e dos instintos primários que, com o tempo, nós, humanos, aprendemos a refinar e a civilizar.

Mas vigiar significa também não nos reduzirmos a apagar os instintos sociais cujo nome é interesse, lucro, vantagem. Com efeito, Jesus Cristo veio para «nos ensinar a viver neste mundo» (Tito 2,12), ou seja, para nos ensinar um modo de viver as relações, de plasmar uma geração, de criar uma civilização, em síntese, um modo de estar no mundo segundo a vontade de Deus.

Por isso, vigiar é precisamente o contrário daquele não se dar conta de nada. Vigiar é dar-se conta de tudo. Dizendo «vigiai», o Senhor diz a cada um de nós: «Dai-vos conta de tudo», isto é, sê tudo em cada coisa. Coloca tudo aquilo que és na mais pequena coisa que fazes. Sê inteiro e não excluas nada de ti.

Vigiar significa então dar-se conta de que na nossa humanidade e a nossa fé joga-se inteiramente nas ações grandes ou pequenas que cada dia cumprimos e nas palavras importantes ou simples que saem da nossa boca.

Vigiar significa estar consciente de que a qualidade do nosso estar no mundo é dada pelas escolhas como pelas renúncias a que cada dia somos chamados, muitas vezes forçados, a fazer.

Vigiar é uma decisão da vontade e não um impulso do instinto. Sempre que se vigia noite adentro, deve estar-se preparado para o cansaço, para a resistência, até à luta consigo próprio, com os seus medos, as fraquezas, o torpor do sono. Mas preparar-se também para a fadiga de exercitar a inteligência iluminada pelo Evangelho, única condição para não se adequar passivamente àquilo que todos dizem e todos fazem.

Só quando constatarmos a distância e, por vezes, a total incompatibilidade do nosso pensar com o pensamento dominante, é que teremos então começado a ter em nós «o pensamento de Cristo» (1 Coríntios 2,16). Vigia por Cristo quem tem o pensamento de Cristo.

 

Ir. Goffredo | Mosteiro de Bose, Itália
fonte: Imissio

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