Um capelão universitário fala do “lugar mais alegre, humilde e inspirador do mundo”.

Certa vez, eu estava em um ônibus com um grupo de pessoas mais idosas que eu, na volta de um aeroporto. Viram que eu era sacerdote e começaram a me fazer perguntas:

– O senhor faz tudo o que os padres fazem?

– Sim.

– Também a questão da confissão?

– Sim, sempre.

Uma senhora bem idosa suspirou: “Acho que esta deve ser a pior parte, deve ser muito deprimente, ouvir todos os pecados das pessoas…”.

Eu lhe disse que era exatamente o contrário. Não há nada mais grandioso do que estar com alguém enquanto volta a Deus. “Seria deprimente ver alguém se afastando de Deus, mas eu acompanho as pessoas quando elas voltam para Ele”.

O confessionário é o lugar mais alegre, humilde e inspirador do mundo.

O que eu vejo durante a confissão?

Em primeiro lugar, vejo a misericórdia de Deus agindo. Fico face a face com o poder esmagador e transformador do amor de Deus. Vejo de perto o amor divino e isso me lembra como Deus é bom.

Nem todo mundo consegue ver como o sacrifício de Deus na cruz irrompe constantemente na vida das pessoas e derrete os corações mais duros. Jesus consola os que choram pelos seus pecados e reforça os que sentem a tentação de render-se diante de Deus ou da vida.

Como padre, vejo estas coisas todos os dias.

Vejo um santo “em processo de fabricação”

Também vejo uma pessoa que ainda está lutando, um santo em fase de fabricação. Não me interessa se é a terceira vez na semana que a pessoa se confessa: se ela procura o sacramento da Reconciliação, significa que está lutando, que está tentando.

Isso é tudo que me interessa. Este pensamento é digno de consideração: ir se confessar é um sinal do fato de que não nos rendemos diante de Jesus.

Se eu fico lembrando dos seus pecados? Não!

As pessoas costumam me perguntar se me lembro dos pecados que ouço. Como sacerdote, é bem raro que isso aconteça. Pode parecer impossível, mas a verdade é que não são tão dignos de atenção. Não são como um pôr-do-sol memorável, nem como uma chuva de meteoros ou um filme de suspense… Parecem mais um monte de lixo e pronto.

E se os pecados são como lixo, então o padre é como o varredor de Deus. Se você pergunta a um gari qual foi o maior lixo que ele já recolheu, pode ser que se lembre, mas o fato é que, uma vez acostumados a tirar o lixo, este deixa de ser digno de atenção.

Sinceramente, uma vez que a pessoa percebe que o sacramento da Confissão não tem tanto a ver com o pecado, mas sim com a morte e ressurreição de Cristo que vencem na vida de alguém, então os pecados perdem seu fulgor e a vitória de Jesus ocupa o lugar central.

Na Confissão, encontramos o amor transformador de Deus, que nos recorda: “Você é digno de que eu morra por você… inclusive nos seus pecados”.

Cada vez que alguém vem se confessar, eu vejo essa pessoa como alguém profundamente amado por Deus e que está correspondendo a este amor. É assim, isso é tudo o que importa.

Na confissão, vejo minha fraqueza

Outra coisa que o padre vê quando escuta as confissões é sua própria alma. Para um sacerdote, o confessionário é um lugar que dá medo. Nem me atrevo a lhe contar quão humilde me sinto quando alguém se aproxima da misericórdia de Jesus através de mim.

Os pecados das pessoas não me intimidam; o que me impressiona é que sejam capazes de reconhecer em suas vidas pecados aos quais eu estive cego, na minha vida. Escutar a humilde de alguém destrói meu orgulho. É um dos meus melhores exames de consciência.

Mas por que a confissão impressiona tanto um sacerdote? Pela maneira como Jesus confia no fato de que eu seja um sinal vivo da sua misericórdia.

Um dia depois da minha ordenação, fizemos uma pequena festa e meu pai fez um brinde. Ele havia trabalhado a vida inteira como cirurgião ortopédico e era muito bom nisso. Seus pacientes sempre me procuravam para me contar como sua vida tinha se transformado depois da cirurgia com meu pai.

E então, meu pai estava lá, no meio de todas essa pessoas, e disse: “Durante toda a minha vida, usei as mãos para curar o corpo quebrado das pessoas. Mas, de hoje em diante, meu filho Michael, padre Michael, usará suas mãos para curar as almas quebradas. Suas mãos salvarão mais vidas que as que eu salvei”.

O confessionário é um lugar poderosíssimo. Tudo o que eu posso fazer é oferecer a misericórdia, o amor e a redenção de Deus, mas não quero “colocar Jesus em apertos”. O padre não julga ninguém. No confessionário, a única coisa que eu tenho que oferecer é a misericórdia.

Eu me sacrifico por você

Quando um padre escuta as confissões, por fim, ele assume outra responsabilidade.

Uma vez, depois da faculdade, eu fui me confessar, depois de muito tempo e de muitos pecados, e o padre me deu como penitência apenas uma Ave-Maria.

Eu fiquei surpreso.

– Padre, o senhor ouviu tudo o que eu disse?

– Sim.

– E não acha que eu deveria receber uma penitência maior?

Ele me olhou com grande amor e disse: “Não. Esta pequena penitência é tudo o que eu lhe peço”. Depois de hesitar um pouco, ele acrescentou: “Mas saiba que eu farei jejum por você nos próximos 30 dias”.

Fiquei sem palavras. Não sabia o que fazer. Ele me disse que o Catecismo ensina que o sacerdote deve fazer penitência por todos aqueles que se confessam com ele. E lá estava ele, assumindo uma penitência forte pelos meus pecados.

Por isso, a confissão revela a alma do sacerdote, revela sua disponibilidade para sacrificar sua vida oferecendo a misericórdia de Deus.

Lembre-se: a confissão é sempre um lugar de vitória.

Independentemente do fato de você ter confessado um pecado particular pela primeira vez, ou pela 12.956ª vez, a confissão é uma vitória para Jesus. E eu, um padre, estou lá. Vendo Jesus recuperar seus filhos a cada dia.

Isso é tremendamente impressionante.

fonte: Aleteia