Cristo é Rei. Ouvimos muitas referências sobre isso e lemos muito sobre o tema, principalmente nos Evangelhos. Para muitos, trata-se de um dado óbvio, pois Ele mesmo o disse diversas vezes em sua vida pública. O problema não está em ter ciência disso, mas em compreender com a devida profundidade o que significa Cristo ser Rei.

Provavelmente todos os que ouviram Nosso Senhor afirmar publicamente que era Rei (com exceção de Nossa Senhora e de São José) pensaram que se tratava de uma referência a um reinado temporal, circunscrito àquele período. Pois era justamente um rei messiânico que os judeus esperavam há séculos. Quando Cristo foi preso e crucificado, muitos dos que o seguiram o abandonaram, por terem visto nesses dois episódios o fracasso de uma promessa que, no fundo, teria sido mais uma mentira.

Infelizmente, não compreenderam – por falta de Fé – o verdadeiro sentido da afirmação. A primeira prova de que Nosso Senhor falava a verdade sobre o seu Reinado veio com o martírio de 11 dos 12 Apóstolos (como sabemos, São João foi o único a não sofrer o martírio). Por quê? Porque os Apóstolos só conquistaram a sua geração e as seguintes porque Cristo Reinou no coração de cada um deles de modo pleno, a ponto de terem se tornado exemplos vivos daquilo que já havia dito São Paulo: “Não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim”.

Portanto, quando falamos em Reinado de Cristo, o primeiro ponto que deve ficar claro para todo católico disposto a seguir o Mestre até as últimas consequências é este: Ele deve ser o Rei dos nossos corações. E o que isso significa? Significa que nós devemos nos configurar com Ele de tal forma que seremos, cada um, alter Christus. E isso deve se expressar em nosso desejo e, mais do que isso, em nossa luta diária para seguirmos os Mandamentos, amarmos a Igreja em seu Magistério de 2.000 anos, sempre em união com o Santo Padre.

Alguém poderia logo perguntar: o que isso tem a ver com o Reinado Social de Cristo? Ora, tem tudo a ver! Se cada católico aceitar que Cristo é Rei de seu coração e procurar agir em conformidade com isso, qual será a consequência? A Lei de Deus conformará a sociedade em todas as suas dimensões (política, cultura, economia, arte, etc.) de modo espontâneo e orgânico, ao contrário do que pretende o islamismo radical, por exemplo, segundo o qual a crença deve impor a toda a sociedade um estado teocrático cujas leis confundem-se com o próprio livro que se considera sagrado. Quem pensa que o Reinado Social de Cristo pode se concretizar de cima para baixo, via decretos papais, está redondamente enganado. Se Ele não reinar primeiro no coração de cada católico, jamais poderá reinar na sociedade, embora continue sendo o Rei do Universo.

Este é mais um mistério de relação entre o indivíduo e Deus. Mesmo sendo Rei Supremo de toda a criação, Cristo quer contar com cada um de nós para que esse reinado conforme a sociedade em que vivemos. É justamente por causa desse mistério que podemos falar, em sentido correto, de amor e liberdade. É só através do Reinado de Cristo em cada coração que poderá haver um Reinado Social no qual o amor e a liberdade serão entendidos e vividos de modo correto e pleno.

 

Guilherme Ferreira Araújo

Filósofo

artigo publicado da Revista Divina Misericórdia