Para “levar para o Reino celeste o homem que estava há muito perdido” o Senhor, Rei dos céus, quis nascer de uma Virgem, realizando a profecia de Isaías que diz: “eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe porá o nome de Emanuel” (Is 7,14).

O evangelista Lucas narra perfeitamente como os fatos foram acontecendo, e o faz após uma profunda reflexão.

“Muitos tentaram escrever a história dos acontecimentos que se cumpriram
entre nós, tal como nos transmitiram aqueles que desde o princípio foram
testemunhas oculares e ministros da Palavra. Assim, eu também decidi
escrever-te, ilustre Teófilo, uma narração bem ordenada, depois de ter
investigado cuidadosamente todas as coisas desde o princípio. Isso para que
fiques certo de que os ensinamentos que recebestes são sólidos” (Lc 1, 1-4).

A Lei secular de Israel prescrevia que toda jovem se tornasse esposa, e toda esposa mãe, para levar ao Senhor o seu filho varão. Maria Santíssima tinha, portanto, diante de si o percurso normal pelo qual seguiam as jovens de sua época, também ela deveria cumprir a ordem da lei. Sendo da estirpe de Davi e de Arão, a própria Lei tutelava a sua condição de realeza, ao ordenar que cada homem fosse dada a mulher de sua estirpe. Por isso, o esposo a quem ela estava prometida era José de Jacó, da tribo de Davi. Lucas deixa isso bem claro antes de entrar na cena da Anunciação do Anjo à Virgem Maria. “No sexto mês, o Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma virgem prometida em casamento a um homem chamado José, da tribo de Davi” (Lc 1,26-27).

Eis, contudo, que em meio às ocupações e expectativas do seu matrimônio com José, Maria é surpreendida pelo anúncio, jamais esperado para si, da maternidade divina. “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo” (Lc 1,28). Aquela que vivia toda na expectativa da vinda do Messias havia sido destinada escolhida para ser a Sua Mãe. Para isso, desde a mais tenra idade “o Espírito Santo havia preparado Maria com sua graça”. Para isso, guiada pela graça do Espírito, Maria havia crescido na ciência e na graça, aos olhos de Deus e dos homens; não tendo, em toda a sua vida, senão um só pensamento: dirigir a Deus o seu coração, estando atenta à vontade do Senhor.


Trecho extraído do livro Fátima e a Divina Misericórdia –
Um mistério em comum para os nossos dias
, páginas 113 e 114.