Santa Teresinha e seus pais.

Santa Teresinha e seus pais.

A Igreja celebra, ao iniciar-se o mês de outubro, a festa de Santa Teresinha, declarada “Doutora da Igreja” por S. João Paulo II, em 1997. Quis a Providência Divina, neste ano de 2015, agraciar Santa Teresinha com a canonização de seus pais, os beatos Louis Martin e Zélia Guérin, num momento em que a Igreja tanto precisa das nossas orações e da intercessão dos santos para haurir luzes no Sínodo da Família, a começar na próxima semana. Todos ansiamos que o Sínodo confirme a doutrina de sempre da sacralidade do matrimônio e da família.

Louis Martin e Zélia Guérin se santificaram porque souberam cumprir a vontade de Deus, com a docilidade e a confiança absoluta no Senhor. Ambos desejaram ardentemente abraçar a vida religiosa, mas Deus lhes reservava a missão do matrimônio, ocorrido em 12 de julho de 1858. Tiveram nove filhos, e quando havia nascido as primeiras quatro filhas, oraram com fervor para que Deus lhe desse um filho. O pedido foi atendido e puseram o nome de José Maria, mas faleceu cinco meses depois. Queriam tanto um outro menino, desejando inclusive consagrá-lo ao Senhor. E nasceu outra criança, que puseram o nome de José. Mas também faleceu a criancinha, nove meses depois. Como conta o Pe. João Batista Lehman, em seu livro “Na Luz Perpétua” (Livraria Editora ‘Lar Católico’, 1956), Louis Martin e Zélia Guérin “desistiram então de pedir ao céu outro missionário. Contudo realizou-se-lhes plenamente o desejo na pessoa da última filha, de todas a mais abençoada e privilegiada, alma providencial, a quem Deus deu uma missão grandiosa, verdadeiramente divina”: Santa Teresinha. Aqui no Brasil, é certamente a mais popular de todas as santas, depois de Nossa Senhora.

Lehman também ressalta:

“Nos pais, os filhos viam o exemplo de cristãos santos. Amigos da oração, todas as manhãs se reuniam aos pés do altar e à mesa eucarística. Rigorosamente observavam a lei do jejum e da abstinência, eram escrupulosos na santificação do domingo, faziam com assiduidade as práticas de piedade, com a leitura espiritual e a oração em comum. Não faltavam certamente provações, mas a única resposta que davam a Deus era sempre uma total resignação a tudo o que a alta Providência quisesse determinar. Embora houvesse certo bem-estar na família Martin, ninguém se excedia em luxos desnecessários, e em tudo reinava grande simplicidade. Em família de sentimentos tão cristãos e generosos, a virtude da caridade achava terreno mais amplo de atividade. Das economias o piedoso casal reservava anualmente avultada quantia para a Obra da Propagação da Fé. A casa estava-lhes sempre aberta para os pobres, e grandes eram as esmolas que lá recebiam, na distribuição da caridade, o Sr. Martin não conhecia o respeito humano, e muitos são os casos em que com as próprias mãos servia a pobres desamparados. Não é, pois, caso de estranhar que o nobre homem em suas empresas se visse acompanhado da benção de Deus”. 

Num lar verdadeiramente abençoado, os filhos aprenderam também a enfrentar os sofrimentos com docilidade e confiança absoluta em Deus, como exemplo disso, deram os próprios pais, quando acometidos pela doença. A própria Santa Teresinha relata em sua memorável “História de uma Alma”, o quanto o exemplo dos pais foi imprescindível para refrear seus ímpetos voluntaristas e compreender a pedagogia da santificação. “Com uma índole como a minha, se fosse criada por pais carentes de virtude, ou até se fosse como Celina mimada por Luísa, ter-me-ia tornado bem maldosa e talvez me tivesse perdido… Mas Jesus olhava pela sua esposinha. Quis que tudo redundasse para o bem dela. Seus próprios defeitos, refreados a tempo, serviram-lhe para crescer na perfeição”. O que a fez definir tão bem qual é a perfeição desejada por Deus:

“O mesmo ocorre no mundo das almas, o jardim de Jesus. Ele quis criar grandes santos, que podem ser comparados aos lírios e às rosas; mas criou também outros menores, e estes devem se conformar em ser margaridas ou violetas destinadas a alegrar os olhos de Deus quando contempla seus pés. A perfeição consiste em fazer sua vontade, em ser aquilo que Ele quer que sejamos… Compreendi também que o amor de Nosso Senhor se manifesta tanto na alma mais simples, que não coloca nenhuma resistência a sua graça, quanto na alma mais sublime. É próprio do amor abaixar-se. Se todas as almas se parecessem às dos santos doutores que iluminaram a Igreja com a luz de sua doutrina, parece que Deus não teria que se abaixar bastante para vir a seus corações.”

E mais:

“Não tendo em redor de mim senão bons exemplos, era natural que os quisesse seguir.”

“Quero passar o meu céu empenhada em fazer o bem na terra”

Ao elevar o casal Louis Martin e Zélia Guérin à honra dos altares, canonizando-os em 18 de outubro próximo, temos um sinal evidente de esperança, de que o modelo cristão de família, testemunhado pelos pais de Santa Teresinha, dão eloquência do que precisamos hoje para salvar as famílias dos tantos ataques e forças adversas que querem destruí-la. Por isso, a Igreja apresenta ao mundo o exemplo de santidade vivido por eles, especialmente aos jovens. Como destacou S. João Paulo II, “os jovens de hoje como são, o que buscam? Poder-se ia dizer que são como os de sempre”. E a Igreja é chamada hoje a afirmar com coragem a doutrina de sempre em favor da família, lembrando o que diz o Catecismo da Igreja Católica:

“…para que o ‘sim’ dos esposos seja um ato livre e responsável e para que a aliança matrimonial tenha bases humanas e cristãs sólidas e duráveis, a preparação para o casamento é de primeira importância: O exemplo e o ensinamento dos pais e da família continuam sendo o caminho privilegiado desta preparação”. (CIC, 1632)

Daí que esperamos dos padres sinodais, neste relevantíssimo Sínodo, o enaltecimento, com vigor, da sã doutrina católica, que faz a Igreja ser rocha inconcussa; doutrina ensinada por Nosso Senhor Jesus Cristo, que forjou, ao longo dos séculos, muitos santos; doutrina que traz exigências e desafios, em todas as épocas, mas cuja solidez é que garantiu a Igreja e a instituição da família, a atravessar cada época, e civilizar, buscando salvaguardar a dignidade de cada pessoa humana.

Se a família está fragilizada nos dias de hoje, extenuada por todas as pressões que visam seu aniquilamento, é justamente nesta hora grave que a Igreja é chamada a defender os princípios e valores que a sustentam e podem fazer revigorá-la, para o bem de todos. Daí que doutrina e pastoral devem caminhar juntas, e o desafio do Sínodo é indicar uma pastoral conjugada com a sã doutrina, capaz de combater as causas da fragilização da família, e não os seus efeitos. E uma das exigência atuais, no combate dessas causas, é o de preparar melhor os casais na doutrina daquilo que a Igreja ensina, há séculos, capaz de dar ao mundo, com o realismo cristão, em cada tempo histórico, os melhores exemplos de santidade.

A canonização dos beatos Louis Martin e Zélia Guérin confirma a força da “comunhão dos santos” que rezamos no Credo, comunhão esta que age pela graça de Deus a proteger a Igreja de seus inimigos. A batalha agora é defender a sacralidade do matrimônio e a estrutura natural da família, do que os pais de Santa Teresinha dão um testemunho eloquente. É também Santa Teresinha, pela graça de Deus, zelando por nós, como ela própria desejou, ao afirmar: “Quero passar o meu céu empenhada em fazer o bem na terra”.

Por: Hermes Rodrigues Nery