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Torturados, humilhados, agredidos: mesmo assim, os cristãos de Aleppo, na Síria, e de Erbil, no Iraque, oferecem o seu sofrimento pela salvação dos seus perseguidores

Corajosos, heroicos, mártires do nosso tempo: seu testemunho é admirável e comovente; sua história indelével é de fé cristã capaz de resistir e sobreviver na perseguição. E eles protagonizaram no Encontro de Rímini (edição de 2005 – 20-26 de agosto)  um dia de grande intensidade emocional e de autenticidade da fé.

O Pe. Douglas Al Bazi, pároco de Mar Eillia, em Erbil, no Iraque, e o Pe. Ibrahim Alsabagh, franciscano que é pároco em Aleppo, na Síria, contaram suas histórias e a das pessoas que estão sofrendo uma perseguição ainda mais sangrenta que a dos primeiros séculos do cristianismo.

Ao apresentar o encontro, o pe. Stefano Alberto, professor de teologia na Universidade Católica do Sagrado Coração, de Milão, declarou: “Justo na terra em que Deus chamou Abraão e despertou a consciência do homem ao tratá-lo face a face, a violência cega do fanatismo se escancarou”.

Depois de lembrar que havia no Iraque cerca de dois milhões de cristãos até 2003 e que hoje há pouco mais de duzentos mil, o pe. Douglas Al Bazi explicou: “Eu nasci neste país e tenho amigos muçulmanos. Nós, cristãos, somos o sal deste país. Somos, além disso, a faixa mais bem educada da população”.

O sacerdote foi sequestrado e torturado durante nove dias. É um milagre a sua coragem de ficar no país. “Eles quebraram o meu nariz, bateram de martelo na minha boca, nos meus ombros e na minha coluna vertebral. Durante quatro dias, fui deixado sem água. Eles aumentavam o volume da televisão para abafar os meus gritos e me espancavam todas as noites. Depois me acorrentavam com um cadeado”.

Para sobreviver e não perder a fé e nem a razão, o Pe. Douglas usava os elos das correntes como rosário e o cadeado como o marco para o Pai-Nosso. “Houve também momentos de calma, em que as mesmas pessoas que me batiam à noite me perguntavam como se comportar com a sua esposa. Eu dizia para eles serem bons para com elas”.

Interrompendo a narrativa, o Pe. Douglas se dirigiu ao público: “Eu pareço amedrontado? A mesma coisa pode ser dita do meu povo. Jesus nos disse para carregarmos a cruz, mas o importante não é isso, e sim segui-lo, desafiar-se, comprometer-se. Se eles nos destruírem no Oriente Médio, a última palavra vai ser ‘Jesus nos salvou’”.

Sóbrio e intenso, o Pe. Douglas admitiu que, mais cedo ou mais tarde, irão matá-lo. E pediu: “Rezem pelo meu povo, ajudem e salvem o meu povo. Eu não estou preocupado comigo, mas com o meu povo”.

Quanto ao Padre Ibrahim, ele falou das condições terríveis em que se sobrevive em Aleppo: “Vivemos na instabilidade, falta comida, a água é pouca, somos bombardeados e doenças estão se espalhando. As pessoas nos pedem água do poço do convento. Tentamos captar em tudo isto os sinais do Espírito, partilhando essas necessidades e milhares de outros problemas com todos, cristãos e muçulmanos”.

Para compreender o espírito com que os cristãos continuam fazendo o bem numa atmosfera de inferno, o Pe. Ibrahim relatou o comentário de um muçulmano que foi buscar água: “Quando eu vejo as pessoas vindo buscar água sem brigas, sem gritos, eu fico maravilhado. Nos outros lugares todos se agridem e gritam. Vocês são diferentes”.

É claro que muitos cristãos estão sonhando em fugir. “Mas muitos estão convencidos de que nosso Senhor, já nos dias de São Paulo, plantou a árvore da vida no Oriente Médio. Não queremos tirar de lá essa árvore”.

A uma mulher preocupada com os tantos cristãos que tiveram de fugir, o Pe. Ibrahim respondeu: “Será que não é nosso Senhor quem quer mudar as pessoas ao nosso redor, para que o aroma de Cristo chegue até elas? É uma missão que o Senhor nos confiou”.

Sobre os franciscanos de Aleppo, o Pe. Ibrahim declarou: “Nós amamos mais, perdoamos mais, mas não vamos embora”. E, apesar das condições tristes e da violência brutal do conflito, ele tem palavras de compaixão e perdão. “Não podemos só convidar os outros a resistir. A ação tem que ser positiva: Jesus nos ensina no Evangelho a perdoar quem crucifica, mesmo quando eles não pedem perdão”.

Às lágrimas, ele concluiu: “Não sabemos quando vai acabar. O importante é dar testemunho de Cristo. Testemunhar a vida cristã amando, perdoando e pensando na salvação também daqueles que nos fazem o mal. Ofereçamos o nosso sofrimento pela salvação deles. Oremos por eles”.

fonte: Tempi e Zenit

abaixo, o testemunho em vídeo: