Ao apresentar oficialmente a nova encíclica do Papa Francisco Laudato Si na Sala Nova do Sínodo, o Presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz, Cardeal Peter Turkson, assinalou que embora o documento aborde o tema da mudança climática não se reduz a isto. O Cardeal assegurou que a Laudato Si confronta temas complexos e urgentes que “hoje são objeto de debate no âmbito científico”.

Entretanto, precisou, “o objetivo não é intervir neste debate que compete aos cientistas, nem dizer em que medida a mudança climática é consequência da ação humana”.

O desejo do Papa, indicou, é suscitar “ações positivas” e “pequenos gestos” cada dia, não só individuais, mas coletivos. “O Papa não pensa somente nos cidadãos de maneira individual mas também em organizações, na sociedade civil”.

“A humanidade, em sua relação com o meio ambiente, encontra-se diante de desafios cruciais que requerem também de políticas adequadas que se encontram na agenda internacional”, assinalou o Cardeal, e por isso a nova encíclica “terá um impacto nestes processos”.

O Cardeal assinalou que a figura de São Francisco está presente em todo o documento e “é uma fonte de inspiração”. O santo italiano é “o exemplo por excelência do cuidado com os mais frágeis e de uma ecologia integral”, assinalou o purpurado.

Uma das questões que segundo o prelado deve ser abordada por todos a partir de agora é o futuro que espera as novas gerações se o planeta continuar sendo danificado. À sua vez, isto leva a questionar-se por exemplo a razão do viver e do trabalhar.

“Estas perguntas nascem da constatação de que a terra tão maltratada está se queixando”, algo que se soma a “todos os pobres e pessoas ´descartáveis´ do mundo”.

O Papa, disse o Cardeal, “convida – também as comunidades internacionais – a que o escutem, e convida a uma conversão ecológica, a mudar de rumo” para “comprometer-se a cuidar o planeta”.

A respeito disso, “o Papa mantém a esperança: o mundo ainda pode colaborar nisto, pode intervir positivamente. Nem tudo está perdido, é possível optar pelo bem e regenerar-se”.

O Cardeal Turkson assinalou que “o Papa põe no centro da encíclica o conceito de ecologia integral como paradigma capaz de articular as relações das pessoas com Deus, os seres humanos e a criação”.

O Presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz assinalou que Francisco “critica o novo paradigma e as formas de poder que derivam da tecnologia”. Se trata de um “convite a valorizar as formas de progresso, do sentido humano da ecologia, a responsabilidade da política, a cultura do descarte e a procurar outras maneiras de entender a economia e o progresso”.

Outra das vertentes da encíclica é a ecumênica. Na apresentação do documento se encontrou o representante do Patriarca Ecumênico Bartolomeu, o Metropolita de Pérgamo, Ioannis Zizioulas.

O Metropolita assegurou que a Laudato Si “foi motivo de grande alegria e satisfação para os ortodoxos”, que agradecem a Francisco “que tenha escutado nossa voz para chamar a atenção da necessidade de proteger a criação dos danos que nós humanos causamos com nosso comportamento”.

“Vislumbro uma dimensão ecumênica muito importante” e um “convite a encarar juntos um desafio comum que vai além das divisões tradicionais”, assinalou.

Na apresentação também participou John Schellnhuber, fundador e diretor do Postdam Institute for Climate Impact Research, quem falou do desgaste do planeta e de algumas das causas da contaminação. O perito afirmou que a encíclica “escuta e reflete sobre a ciência”.

Por sua parte, Carolyn Woo, diretora executiva e presidenta do Catholic Relief Services e decana do Mendoza College of Business da Universidade de Notre Dame nos Estados Unidos, refletiu sobre o futuro que espera as próximas gerações.

Sobre o possível rechaço do documento por parte de alguns setores, esclareceu que o mesmo foi elaborado com o trabalho das Pontifícias Academias das Ciências e das Ciências Sociais e “apresenta dados fidedignos”. “Não se pode simplesmente eliminar a mensagem porque nós não gostamos dos dados ou sua procedência”, assinalou.

Woo destacou que “a tecnologia deve estar ao serviço do ser humano e não devemos nos limitar a ser simples consumidores”. De igual maneira, “a criação do emprego não pode depender só da força dos mercados e a tecnologia”.

Por último, o P. Federico Lombardi revelou que a nova encíclica se preparou “de uma forma nova respeito a outras encíclicas”.

“Há um mês, enviaram-se materiais por email aos bispos ordinários das dioceses”, indicou.

O Pe. Lombardi contou ainda que há dois dias enviou a íntegra a milhares de bispos, incluindo um breve texto escrito do próprio Francisco que dizia assim: “Querido irmão: no vínculo da caridade e da paz no que vivemos como Bispos, envio minha carta ‘Laudato Si, sobre o cuidado de nossa casa comum’, acompanhada por minha bênção. Unidos no Senhor, e, por favor, não se esqueça de rezar por mim”.

 

fonte: ACI