Obras de misericórdia corporais – 2ª parte

No penúltimo número da nossa Revista apresentamos aos nossos queridos Leitores um interessante livreto escrito pelo Fundador dos Marianos, o bem-aventurado Pe. Estanislau Papczyński, com o título Templum Dei Misticum (O Templo Místico de Deus). Nesse livreto encontramos a mais completa e detalhada exposição, no Ocidente Cristão do Século XVII, da doutrina sobre as obras de misericórdia. Nesse livreto, o autor faz um comentário sobre cada uma delas. O padre Papczyński menciona 7 obras corporais, porém segue sua própria ordem. Das obras de misericórdia corporais apresenta primeiro a visita aos enfermos, em segundo lugar dar alimento a quem tem fome e, em terceiro, dar de beber ao que tem sede. Na sequência segue a sua apresentação comentando sobre a quarta e quinta obra de misericórdia: Redemptio captivorum e nudos operire.

“Redemptio captivorum, isto é, empenho em libertar os prisioneiros, especialmente das mãos dos infiéis. Oh, como é gloriosa! Como é rica em mérito!”, exclama o Pe. Papczyński, em louvor desta quarta obra de misericórdia corporal.

Como exemplo, ele apresenta o ato corajoso do Bispo Paulino de Nola, o qual, “depois de ter prodigalizado para este fim tudo o que pertencia à Igreja e o que ele mesmo possuía, ofereceu-se voluntariamente como prisioneiro aos Vândalos, em substituição de um jovem, filho de uma viúva pobre”.

Pe. Papczyński, certa vez, dirigiu-se aos ricos perguntando-lhes se “o seu ouro, que gemia na prisão [isto é, em qualquer esconderijo], não deveria ser usado de um modo mais conveniente para redimir os prisioneiros que, então, gemiam como escravos nas mãos dos Mouros e dos Tártaros”. Ele citava com louvor São Pedro Nolasco e São Raimundo que fundaram uma Congregação de religiosos que se dedicavam à redenção de prisioneiros, até ao ponto de se oferecerem, eles mesmos, para obter a libertação dos prisioneiros. “Pena é ‒ dizia ele ‒ que tais homens, tão santos e piedosos, chamados de mercedários, não se encontrassem na Polônia, pois poderiam prestar auxílio à tropas inteiras de polacos que, então, estavam detidos nas mãos dos Tártaros e dos Turcos, expostos ao perigo de perder a salvação eterna”, evidentemente, perdendo a fé.

O Pe. Papczyński oferece-nos ainda outro exemplo: “no cálculo de Deus, diz ele, um comediante chamado Cornélio foi equiparado ao santo asceta Teódulo. Para remediar a vergonha de uma certa mulher e para obter a liberdade ao seu marido dissipador que havia sido encarcerado pelos credores, esse comediante vendeu o vestuário e os móveis da própria casa, e com quatrocentas moedas de ouro, assim adquiridas, socorreu a miséria de outrem”. Disto se vê, conclui Pe. Papczyński, que “Deus vos estima muito, a vós que não tendes nenhuma estima pelos vossos tesouros, quando os gastais em favor dos pobres”.

A quinta obra de misericórdia corporal consiste em cuidar de “nudos operire, isto é, vestir os nus, dever que nos é imposto, segundo o Pe. Papczyński, pela própria lei da natureza. Porque, quem somos nós para poder suportar descoberta a carne proveniente da nossa carne?

“Não o pôde, diz ele, aquela Taumaturga de Sena [Santa Catarina de Sena], que se despojou da sua túnica para cobrir um pobre, e, por isso, como dom de Cristo, obteve a impassibilidade ao frio”.

“Não o pôde suportar Martinho, ainda catecúmeno, o qual, com a metade do seu manto, cobriu um homem nu, isto é, Cristo”, continua Pe. Estanislau.

“Não o pôde suportar, João [na verdade, Pedro] Gamrat, Bispo de Cracóvia, que (…) costumava distribuir aos indigentes que encontrava em seu caminho alimentos e demais víveres que habitualmente levava consigo. Por isso, mereceu ser, pelo Céu, avisado da sua morte, em tempo oportuno, a fim de que pudesse juntar a penitência à misericórdia e pudesse alcançar a salvação.

“E vós que estais imersos no lodo dos pecados – pergunta Pe. Papczyński – não vos desvencilhareis dele por meio daquilo que podeis prover aos pobres?

Pe. Casimiro Krzyrzanowski, MIC
Capítulo adaptado do livro Obras de Misericórdia