A proximidade dos atos devocionais do Sagrado Coração de Jesus e a Divina Misericórdia

Horas Santas, Comunhões das primeiras sextas-feiras, novenas e terços

Esses vários atos devocionais estão unidos sob um único título para ilustrar que a nova devoção à Divina Misericórdia se ajusta muito bem à tradicional devoção ao Sagrado Coração e dele facilmente decorre.

Antes de mais nada, o próprio Senhor Jesus pediu a Santa Margarida Maria que fizesse uma Hora Santa semanal diante Dele no sacrário, dizendo a ela:

“Se ao menos os homens me prestassem alguma retribuição pelo Meu amor, Eu pensaria como tenho feito pouco por eles e, se fosse possível, desejaria sofrer mais ainda. Mas a única retribuição que me prestam por todo o Meu desejo de lhes fazer o bem é rejeitar-Me e tratar-Me com frieza. Pelo menos tu consola-Me suplicando pela ingratidão deles até onde isso te seja possível… Para Me fazer companhia na humilde oração [no Jardim das Oliveiras] que então ofereci a Meu Pai em meio à Minha agonia, todas as noites, entre quinta e sexta-feira, te levantarás entre as onze horas e a meia-noite e permanecerás prostrada comigo por uma hora, não só para aplacar a ira divina pedindo misericórdia para os pecadores, mas também para mitigar de alguma forma a amargura que senti naquela ocasião, encontrando-Me abandonado pelos Meus apóstolos, que Me obrigaram a repreendê-los por não serem capazes de vigiar uma hora comigo”.[1]

Assim, nosso Senhor pediu a Santa Margarida Maria que ela consolasse o Seu amoroso Coração fazendo uma Hora Santa todas as semanas. Mas não prescreveu nenhum tipo de orações ou meditações fixas para ela fazer durante esse tempo. Na realidade, é muito apropriado que os devotos do Seu Coração incluam nas suas Horas Santas a recitação do Terço da Divina Misericórdia. O Terço foi ditado pelo próprio Senhor Jesus a Santa Faustina e envolve um oferecimento do Seu “Corpo e Sangue, Alma e Divindade” ao Pai Eterno, a fim de que graças de misericórdia sejam derramadas sobre o mundo inteiro.

Nada poderia ser mais apropriado do que recitar essas orações na presença do próprio Jesus Eucarístico na sagrada Hóstia. Além disso, as orações da Novena à Divina Misericórdia de Santa Faustina são também apropriadas para a Hora Santa, visto que a maior parte delas é oferecida para “consolar” o Coração de Jesus e para trazer todos os pecadores à “mansão do Vosso compassivo Coração” (Diário, 1209-1229) – justamente as mesmas coisas que Jesus pediu a Santa Margarida fazer em suas Horas Santas![2] [No Brasil, no Santuário da Divina Misericórdia de Curitiba – PR, acontece a Hora da Misericórdia todos os dias, às 15 horas, com a recitação do Terço da Misericórdia. Aos domingos é celebrada santa Missa nesse horário. Esses momentos são transmitidos online pelas redes sociais do Santuário]. Trata-se de uma bela e natural síntese das tradições do Sagrado Coração e da Divina Misericórdia.

Nosso Senhor também pediu a Santa Margarida Maria que comungasse em todas as primeiras sextas-feiras do mês, tendo prometido graças extraordinárias àqueles que o fizessem com as disposições apropriadas. Como sabemos de seus próprios escritos e dos escritos de um dos seus diretores espirituais, Pe. Jean Croiset, SJ, essas disposições devem ser fomentadas nesse dia através de atos de oração reparadora e de consagração ao amoroso Coração de Jesus.[3] Novamente, o Terço é inteiramente apropriado nesse contexto. Afinal, nas primeiras sextas-feiras as almas devotas não devem prestar reparação apenas pelos próprios pecados, mas também pelos pecados do mundo inteiro, e é precisamente esse também o objetivo do Terço:

“Eterno Pai, eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade de Vosso di­letíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e dos do mundo inteiro” (Diário, 476).

 

Devoções diárias

Mais uma vez, não é difícil manter a prática diária das devoções do Sagrado Coração e da Divina Misericórdia ao mesmo tempo. De fato, elas facilmente se harmonizam e combinam facilmente com as devoções marianas básicas.

Por exemplo, o tradicional “Oferecimento da manhã” ao Sagrado Coração é uma excelente maneira de começar cada dia, oferecendo todas as nossas orações, trabalho, alegrias e sofrimentos, em união com o Coração de Jesus no santo sacrifício da Missa. Ao meio-dia, podemos seguir o conselho do Papa Paulo VI e recitar o “Ângelus” pedindo a intercessão de Maria e o seu exemplo de fé para nos guiar durante o dia.[4] Às três horas da tarde, estamos prontos a fazer uma oração pedindo misericórdia para nós mesmos e para o mundo inteiro, porque nessa hora a maioria de nós já está ficando cansada de carregar as próprias cruzes diárias. As orações da “Hora da Misericórdia” das três horas são bem adequadas para atender a essa necessidade, e, ao mesmo tempo, elas nos capacitam a ter uma breve lembrança da Paixão de nosso Senhor naquela hora, como o próprio Jesus pediu à Santa Faustina.[5] As orações costumeiras para essa hora do dia, na tradição da Divina Misericórdia, foram escritas pela própria Santa Faustina, embora não fossem destinadas a ser usadas exclusivamente durante essa hora:

“Vós morrestes, Jesus, mas uma fonte de vida jorrou para as almas, e abriu-se um mar de misericórdia para o mundo. Ó Fonte de Vida, insondá­vel misericórdia de Deus, envolvei o mundo todo e derramai-Vos sobre nós” (Diário, 1319).

“Ó Sangue e Água, que jorrastes do Coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós, eu confio em Vós!” (Diário, 84).

O oferecimento da manhã, o “Ângelus” e as orações da “Hora da Misericórdia” são apenas três maneiras de nos mantermos recolhidos na presença de Deus e dos Seus santos no decorrer do dia. Dessa forma, cada dia nos aproximamos mais do Coração de Jesus em busca de conforto espiritual. Nenhuma dessas orações demora mais de um minuto para ser recitada. E assim, longe de serem um “peso”, elas, na realidade, nos abrem para receber muitos benefícios espirituais.

A noite é ocasião tradicional (e geralmente mais prática) para rezar o Rosário conjuntamente, em família. Os devotos da Divina Misericórdia devem lembrar-se de que o Rosário não rivaliza com o Terço da Misericórdia, ainda que sejam rezadas nas mesmas contas. Antes de mais nada, o Rosário é principalmente uma oração de meditação. Convida-nos a meditar com Maria sobre todos os mistérios da nossa redenção, ajudando-nos a fazer o que São Lucas nos diz que a própria Mãe de Deus fazia: Ela “conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração” (Lc 2,19;51).

O Terço da Misericórdia, por outro lado, é principalmente uma oração de intercessão: uma súplica ao Senhor por “misericórdia para nós e para o mundo inteiro”. Além disso, é importante notar que nosso Senhor nunca pediu que o Terço da Misericórdia fosse recitado diariamente. Naturalmente pode-se recitá-lo todos os dias, e essa é certamente uma prática recomendável, mas não é um padrão que Jesus ou Santa Faustina tivessem especificamente exigido. De fato, as instruções de nosso Senhor a Santa Faustina eram ao mesmo tempo mais flexíveis e mais exigentes. Ela era encorajada a recitar o Terço da Misericórdia “sem cessar” (Diário, 687), em outras palavras, não uma vez por dia, mas  – exatamente porque se trata de uma oração intercessora – sempre que e onde quer que a intercessão fosse necessária. Nossa Senhora de Fátima, contudo, pediu especificamente aos fiéis que procurassem recitar ao menos uma parte do Rosário todos os dias:

“Sou a Senhora do Rosário. Vim para admoestar os fiéis a emendarem as suas vidas e a pedirem perdão pelos seus pecados… As pessoas devem rezar o Rosário. Continuem a fazê-lo todos os dias”.[6]

Quaisquer que sejam as orações e devoções que alguém possa escolher para santificar cada dia, o importante a lembrar é que o Senhor não olha o número ou a magnitude das devoções que praticamos, mas a fé e o amor com que as oferecemos. Pelos atos de piedade, é apenas isso que traz deleite ao Misericordioso Coração de Jesus. Além disso, tais práticas piedosas são meios, não fins em si mesmas. Elas têm por objetivo alimentar e formar em nós, pela graça de Deus, não apenas devoções e “devocionismos”, mas a verdadeira devoção: o verdadeiro amor a Deus. Em outras palavras, não devemos apenas permanecer contemplando imagens do Misericordioso Coração de Jesus, ou recitando orações a Ele; antes, somos convidados a conhecer o Seu amor para conosco tão profundamente, pessoalmente e intimamente que penetremos nesse Coração como numa fonte e oceano de Misericórdia, uma fornalha ardente de amor e luz.

Nisso, no objetivo final, como em muitos outros aspectos, a devoção ao Sagrado Coração e a devoção à Divina Misericórdia estão em prefeito acordo. Para concluir, só nos resta citar as palavras de Santa Faustina e da Irmã Josefa, para mostrar que essas devoções recomendam os mesmos meios – uma completa e confiante entrega ao Coração de Jesus – para atingir o mesmo objetivo, a saber, a união mística com o Coração como um verdadeiro “mar de misericórdia” e “abismo de luz”.

“Hoje o Senhor me disse: Abri o Meu Coração como fonte viva de misericórdia; que dela tirem vida todas as almas, que se aproximem desse mar de misericórdia com grande confiança. Os pecadores alcançarão justificação e os justos serão confirmados no bem. O que confiou na Minha misericórdia, derramarei na hora da morte a Minha divina paz na sua alma” (Diário, 1520).

 “Mestre meu, eis que Vos entrego totalmente o leme da minha alma; conduzi-a Vós mesmo segundo as Vossas divinas preferências. Encerro-me no Vosso Coração Compassivo que é um mar de misericórdia insondável” (Diário, 1450).

“Eu estava assim conversando com Jesus, quando novamente Ele me fez entrar na Chaga do Seu lado… Não posso descrever com precisão o que vi; o meu coração era consumido por uma grande chama. Eu não podia ver o fundo desse abismo, porque é um espaço imenso e cheio de luz. Estava tão impressionada com o que vi, que não era capaz de falar ou perguntar qualquer coisa… Passei a meditação e parte da Missa dessa maneira… até que, um pouco antes da elevação, meus olhos, estes meus pobres olhos… viram o Amado Jesus, o desejo do meu coração, meu Senhor e meu Deus; o Seu Coração estava em meio a uma grande chama. Não posso dizer o que se passou; não é possível… Pudesse o mundo todo conhecer o segredo da felicidade! Há apenas uma coisa a fazer: amar e entregar-se; o próprio Jesus vai se encarregar do resto” (Irmã Josefa Menendez).[7]

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Capítulo do livro “Jesus, misericórdia encarnada”, de autoria de Robert Stackpole.

Este foi sexto e último texto da série que reflete sobre a proximidade das devoções do Sagrado Coração e da Divina Misericórdia.

Leia também os outros textos desta série

Para ler o primeiro texto desta série “O Sagrado Coração de Jesus e a Divina Misericórdia”, clique aqui!

Para ler o segundo texto “O Sagrado Coração e a Divina Misericórdia são inseparáveis”, clique aqui!

Para ler o terceiro texto “O Sagrado Coração transborda de amor misericordioso para conosco”, clique aqui!

Para ler o quarto texto “A devoção ao Sagrado Coração facilmente se mescla com a devoção à Divina Misericórdia”, clique aqui!

Para ler o quinto texto “As festas litúrgicas da Divina Misericórdia e do Sagrado Coração de Jesus”, clique aqui!

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[1]Santa Margaria Maria Alacoque, The autobiography.

[2]Santa Margarida Maria, The autobiography.

[3]Pe. Jean Croiset SJ, The Devotion to the Sacred Heart of Jesus.

[4]Papa Paulo VI, Exortação Apostólica “Marialis Cultus”.

[5]Cf. Santa Faustina, Diário, nº 1320 e 1572. Jesus lhe disse: “Nessa hora realizou-se a graça para todo o mundo: a misericórdia venceu a justiça” (Diário, 1572).

[6]Pe. Edward Carter SJ, The Spirituality of Fatima and Medjugorje.

[7]Menendez, The Way of Divine Love.

O Diário de Santa Faustina

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