Não há virtude para a qual a Sagrada Escritura assegure uma recompensa maior do que aos que praticam a virtude da misericórdia. Se Deus recompensa todas as virtudes, então Ele recompensa duplamente a virtude da misericórdia, com bens tanto temporais quanto eternos.

Inúmeras passagens da Sagrada Escritura dão evidências de recompensas preparadas para nós, em troca de nossos atos misericordiosos para com nossos irmãos.

“Quem se apieda do pobre empresta ao Senhor, que lhe restituirá o benefício”(Pr 19,17).

“O homem benevolente será abençoado porque tira do seu pão para o pobre” (Pr 22, 9).

“O que dá ao pobre não padecerá penúria, mas quem fecha os olhos ficará cheio de maldições” (Pr 28,27).

Além disso, o Profeta eloquentemente escreve sobre isso quando diz:

“Sabeis qual é o jejum que eu aprecio? – diz o Senhor Deus: é romper as cadeias injustas, desatar as cordas do jugo, mandar embora livres os oprimidos, e quebrar toda espécie de jugo. É repartir seu alimento com o esfaimado, dar abrigo aos infelizes sem asilo, vestir os maltrapilhos, em lugar de desviar-se de seu semelhante. Então, tua luz surgirá como a aurora, e tuas feridas não tardarão a cicatrizar-se; tua justiça caminhará diante de ti, e a glória do Senhor seguirá na tua retaguarda” (Is 58,6-8).

Também Nosso Senhor promete muitas e grandiosas bênçãos e graças para os misericordiosos quando Ele diz:

“Dai e te será dado…; porque, com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos vós também” (Lc 6,38).

“Fazei bem e emprestai, sem daí esperar nada. E grande será a vossa recompensa e sereis filhos do Altíssimo, porque ele é bom para com os ingratos e maus” (Lc 6,35).

Portanto, essa é a maior recompensa que uma pessoa pode esperar. Nós nos tornamos filhos do Altíssimo por sermos misericordiosos com nossos semelhantes. Logo, podemos ousadamente chamar a Deus nosso Pai, desde que vamos com ajuda a Seus filhos – nossos irmãos.

As escrituras sagradas nos dão alguns exemplos concretos de como Deus recompensa os misericordiosos já nesta vida terrena. A casa de Jó foi verdadeiramente um paraíso da prosperidade terrena até que o Senhor Deus a visitou com provações. Ele mereceu por si mesmo generosas bênçãos porque foi misericordioso com seus semelhantes. Jó diz para si mesmo:

“Era os olhos do cego e os pés daquele que manca. Era o pai dos pobres e examinava a fundo a causa dos desconhecidos. Quem me ouvia me felicitava, quem me via dava testemunho de mim. Livrava o pobre que pedia socorro e o órfão, que não tinha apoio. A bênção do moribundo vinha sobre mim e eu alegrava o coração da viúva” (Jó 29,15-16;11-13).

Da mesma forma, quando Elias, durante a época da fome, morava na casa de uma pobre viúva, ela lhe deu o último punhado de farinha e o restante do óleo que ela tinha e Deus a pagou de maneira milagrosa:

“Não temas! (…) Porque eis o que diz o Senhor, Deus de Israel: a farinha que está na panela não se acabará e a ânfora de azeite não se esvaziará, até o dia em que o Senhor fizer chover sobre a face da terra”. A mulher foi e fez o que disse Elias. Durante muito tempo, ela e seu filho, além de Elias, tiveram o que comer. A farinha não se acabou na panela nem se esgotou o óleo da ânfora, como o Senhor o tinha dito pela boca de Elias” (1Reis 17,13-16).

Quem não sabe da grande recompensa que o misericordioso Tobias mereceu por si mesmo, a quem o arcanjo Rafael disse:

“Boa coisa é a oração acompanhada de jejum e a esmola é preferível aos tesouros de ouro escondidos, porque a esmola livra da morte: ela apaga os pecados e faz encontrar a misericórdia e a vida eterna” (Tb 12,8-9).

Portanto, Deus recompensa abundantemente ações misericordiosas feitas a nossos semelhantes com vários bens temporais.

As recompensas por misericórdia não terminam em bens temporais

Cem vezes mais valiosos são os bens espirituais com os quais Deus recompensa essa virtude. Esses bens são resumidos em perdão e graça diante de Deus. Este é o bem maior, o tesouro mais valioso, a pérola de grande valor que pode ser facilmente encontrada pela prática da misericórdia para com os nossos semelhantes.

Se alguém teve a infelicidade de enfraquecer sua fé dentro de si mesmo e está vagando como um cego, que ele seja misericordioso e, sem dúvida, se encontrará na estrada da luz celestial da qual havia se perdido. Se, além disso, esse alguém ainda não chegar ao conhecimento da misericórdia de Deus e, por essa razão, não pode imitá-lo, então que comece a praticar a misericórdia para com seus semelhantes e seguramente as palavras do Senhor serão cumpridas sobre ele: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia!” (Mt 5,7).

Cornélio, que era capitão dos exércitos romanos e pagão, merecia, por si mesmo, a graça da conversão à fé por meio de suas ações misericordiosas. “As tuas orações e as tuas esmolas subiram à presença de Deus” (At 10, 4-5).

Da mesma forma o Senhor fez saber a Pedro que ele deveria batizar Cornélio e toda a sua família. Embora a primeira graça da conversão não possa ser merecida porque é um ato da infinita misericórdia de Deus. Mas, se alguém se sobrecarregar com dívidas para com Deus, e necessitar da graça especial do perdão para a purificação de seus pecados e para recuperar suas graças de santidade perdidas, ele certamente obterá tais graças pela prática da misericórdia para com seus semelhantes. “Dá esmola dos teus bens e não te desvies de nenhum pobre, pois, assim fazendo, Deus tampouco se desviará de ti” (Tb 4,7).

Assim, a virtude da misericórdia obtém para nós graças e luz, purifica-nos dos nossos pecados, guia-nos ao sacramento da Penitência e salva a nossa alma da morte, isto é, da condenação eterna, como se afirma na Sagrada Escritura:

“Porque a esmola livra do pecado e da morte e preserva a alma de cair nas trevas” (Tb 4,11).

“Porque a esmola livra da morte: ela apaga os pecados e faz encontrar a misericórdia e a vida eterna”  (Tb 12,9).

Por esta razão, o Padre Skarga, SJ, em seu sermão no 4º domingo da Quaresma, chama a atenção para isso: “A esmola faz tão bem quanto a água, que se não for mexida, nem retirada, estraga em pouco tempo, mas quando alguém a extrai, outra água flui para o poço e não pode ser separada. Verdadeiramente aquele que não dá aos pobres por sua abundância perderá tudo; mas aquele que dá não perde nada, porque dos dons de Deus ele recebe mais abundantemente”.

São Crisóstomo se refere à misericórdia como a companheira de Deus que detém as chaves do tesouro celestial e os dá abundantemente aos misericordiosos.

Além destes bens temporais e espirituais recebidos durante esta vida, a virtude da misericórdia também traz uma recompensa imortal. Nosso Salvador nos assegura essa recompensa quando fala da sentença que será dada no último julgamento:

“Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo, porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim. (…) todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes” (Mt 25,34-37.40).

E por esta mesma razão, Santo Agostinho disse: “Se você desejas ser um comerciante prudente ou um sábio mordomo, dê aquilo que não pode manter, e tomarás aquilo que nunca perderá; dê uma pequena porção, e receba de volta cem vezes, dê coisas temporais e receba em troca bens eternos.

Bem-Aventurado Miguel Sopoćko

artigo publicado pela primeira vez na edição de janeiro-março de 1963 do informativo Marian Helpers

 

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