Obras de misericórdia corporais – 3ª parte

Este já será o terceiro artigo de uma série na qual apresentamos aos queridos leitores extratos de um interessante livro escrito pelo Fundador dos Padres Marianos, o bem-aventurado Padre Estanislau Papczyński, intitulado Templum Dei Misticum: O Templo Místico de Deus, que contém a mais completa e detalhada exposição no Ocidente Cristão do século XVII da doutrina sobre as obras de misericórdia. Nesses escritos, o Padre Papczyński, seguindo uma ordem de apresentação própria, faz uma descrição de cada uma das obras de misericórdia. Acompanhando essa ordem de apresentação, nos artigos anteriores já expusemos ao nossos leitores breves comentários sobre 5 das 7 obras de misericórdia corporal: visitar os enfermos, prover alimentos e dar de beber aos necessitados; depois, redimir os cativos e cobrir os nus. Neste artigo iremos apresentar as duas restantes. Na sequência: dar pousada aos peregrinos e enterrar os mortos.

Peregrinos excipere: dar pousada aos peregrinos é a sexta das obras de misericórdia corporal. Segundo o Padre Estanislau Papczyński é uma obra de grande mérito. O Filho de Deus experimentou o consolo de ser favorecido pela prática dessa obra pelos discípulos de Emaús, na casa dos quais foi convidado a permanecer para a Ceia. Enquanto partia o pão, mostrou-se Deus e Homem. “Feliz de tal cidade ‒ exclama o Padre Estanislau ‒ possuidora de cidadãos assim piedosos, que ofereciam aos estrangeiros tão generosa hospitalidade”. “Ai de vós ‒ exclama dirigindo-se, por outro lado, àqueles que descuram esta obra de misericórdia ‒ que talvez dais farto alimento aos cães e permitis que homens morram de fome! A vós que fechais os batentes da porta aos peregrinos e impedis, também às vossas portas, a entrada aos homens pios e religiosos, Cristo não vos expulsará da porta do Céu?”.

“Não sabeis ‒ continua o Padre Papczyński ‒ que a prostituta [Raab], pela hospitalidade oferecida benevolamente aos dois espiões, foi recebida nas moradas celestes?” (Cf. Jos 2, 1-22; 6, 22-23.25). No final da sua reflexão ele cita o provérbio latino: Hospes venit, Christus venit, isto é, o hóspede que chega é Cristo que chega, que em polonês e português é popularmente conhecido como: “Hóspede em casa, Deus em casa”, e explica: “quem recebe um hóspede recebe Cristo; e Cristo, por sua vez, não receberá nos tabernáculos eternos aquele que o acolheu?”. A resposta a essa pergunta é: sim, há de recebê-lo, certamente.

Considerando a sétima das obras de misericórdia corporal ‒ Sepelire mortuos: enterrar os mortos o Padre Estanislau exorta os fiéis a sepultar os mortos gratuitamente, sem interesses, por caridade somente; e isto, segundo o Padre Papczyński, não é para Deus um serviço de pouco valor. “Esta obra de misericórdia acontece raramente ‒ anota ele ‒ porque são poucos os que nela participam e também poucos os que a fazem. Entre estes, famosíssimo é Tobias, o velho, o qual pelas suas ações de piedade, como a de sepultar os mortos, se torna amigo de Deus”. O Padre Papczyński cita as palavras dirigidas a Tobias pelo Arcanjo Rafael: “Enquanto rezavas, tu e a tua nora Sara, eu apresentava as vossas orações diante da glória do Senhor. Da mesma forma, enquanto enterravas os mortos, eu também estava contigo” (Tob 12, 12). E conclui: “certamente de um modo eficacíssimo reza aquele que, crendo obter a misericórdia de Deus, a exerce para com o homem. E que misericórdia pode ser mais insigne do que a prestada aos mortos, dos quais não se pode esperar nenhuma recompensa, nenhuma gratidão e nenhum louvor?”.

“Por isso ‒ conclui o Padre Papczyński ‒ os que fazem tais coisas, sem dúvida, procuram a vida imortal”.

Pe. Casimiro Krzyzanowski, MIC
Capítulo transcrito do livro Obras de Misericórdia.