Relação do Terço com a Liturgia

Dentro do Terço da Misericórdia encontramos duas invocações que possuem um claro sabor litúrgico. A primeira delas é: Tende misericórdia de nós e do mundo inteiro. Com efeito, no rito de entrada da S. Missa encontram-se as seguintes invocações: «Kyrie, eleison; Christe, eleison» («Senhor, tende piedade de nós; Cristo, tende piedade de nós»). Estas invocações, inicialmente, estavam relacionadas com a oração dos fiéis, que agora se recuperou. Nos primeiros séculos – segundo o relato da peregrina Egéria, de finais do séc. IV –, depois das leituras bíblicas e da homilia, a cada petição da oração dos fiéis, a assembléia respondia «Kyrie, eleison». Talvez tenha sido o papa Gelásio, em finais do século V, quem passou esta invocação para o rito inicial, com a famosa «deprecatio Gelasii». – Outra invocação é a que se faz ao final do Terço: Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal, tende piedade de nós e do mundo inteiro. Esta oração se relaciona com o famoso Triságio oriental. Do grego “tris-agion” (três vezes Santo), é o nome que se dá à aclamação de louvor «Santo Deus, Santo Forte, Santo Imortal», testemunhado pela primeira vez no Concílio de Calcedônia. Por vezes, deu-se-lhe um sentido só cristológico, mas, na maioria dos casos, o sentido foi trinitário, como louvor ao Deus Trino.

Nos ritos orientais, sobretudo no bizantino, tem o seu lugar na procissão de entrada da Missa, como também acontece nos dias mais solenes do rito hispânico. Noutras liturgias orientais, canta-se antes das leituras bíblicas. Na Liturgia romana conservou-se só em Sexta-Feira Santa, durante a adoração da Cruz (cf. Missal Romano, “Lamentos do Senhor”, 1992, pp. 262ss). Também a Igreja Ortodoxa o conserva em sua Liturgia. Outra circunstância litúrgica em que também se pode falar de «triságio» é na aclamação do Sanctus, da Oração Eucarística: «Santo, Santo, Santo». Vê-se, assim, que a oração do Terço da Misericórdia, longe de nos afastar da Sagrada Liturgia, retoma algumas de suas fórmulas para alimentar a nossa piedade – tanto do Cristianismo ocidental como oriental!

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