A relação entre São João Paulo II e a Divina Misericórdia é estreita e profunda. A Festa da Divina Misericórdia foi por ele instituída na Igreja Católica. Conduziu a beatificação de Irmã Faustina, bem como a canonizou.
São João Paulo II nasceu no dia 18 de maio de 1920, em Wadowice, na Polônia. Foi batizado com o nome de Karol Wojtyła. Em outubro de 1942, entrou no seminário de Cracóvia clandestinamente, por causa da invasão comunista em seu país.
Foi durante a juventude que Karol Wojtyła teve os primeiros contatos com a mensagem da Divina Misericórdia, comunicada por Jesus à Santa Faustina Kowalska, na época em ele estudava no seminário clandestino de Cracóvia (1942-1946).
Sobre este período, João Paulo II falou na sua última viagem a Polônia, quando consagrou o Santuário da Divina Misericórdia:
“Muitas das minhas recordações pessoais se relacionam com este lugar. Eu vinha aqui, sobretudo, durante a ocupação nazista, quando trabalhava no estabelecimento Solvay, situado perto daqui. Ainda hoje me recordo do caminho (…) que eu todos os dias percorria para ir trabalhar, nos diversos horários, com os sapatos de madeira nos pés. Eram assim os sapatos naquela época. Como era possível imaginar que aquele homem com sapatos de madeira, um dia teria consagrado a basílica da Misericórdia Divina, em Łagiewniki de Cracóvia?”
No dia 1º de novembro de 1946, Karol foi ordenado sacerdote. Em 4 de julho de 1958, o Papa Pio XII o nomeou bispo auxiliar de Cracóvia. A ordenação episcopal de Wojtyla foi em 28 de setembro do mesmo ano. No dia 13 de janeiro de 1964, foi eleito arcebispo de Cracóvia. Em 26 de junho de 1967, foi tornado cardeal por Paulo VI.
Como cardeal, João Paulo II concluiu o processo informativo para a beatificação de Irmã Faustina. Anos depois, eleito Papa, celebrou a beatificação (1993) e a canonização (2000) da religiosa. Na celebração da beatificação, a saudou assim:
“Ó Faustina, quão maravilhoso foi o teu caminho! (…) É verdadeiramente maravilhoso o modo pelo qual a sua devoção a Jesus Misericordioso se difunde no mundo contemporâneo e conquista tantos corações humanos!”.
João Paulo II foi eleito Papa em 1978 e apenas dois anos depois (1980) ele publicou a encíclica Dives in Misericordia (Rico em Misericórdia) dedicada exclusivamente à Divina Misericórdia. Nela, ele incentiva os cristãos à confiança na ilimitada Misericórdia Divina:
“Em nenhum momento e em nenhum período da história – especialmente numa época tão crítica como a nossa – a Igreja pode esquecer a oração, que é o grito de apelo à Misericórdia de Deus perante as múltiplas formas de mal que pesam sobre a humanidade e a ameaçam… Quanto mais a consciência humana, sucumbindo à secularização, perder o sentido do significado próprio da palavra ‘misericórdia’ e quanto mais, afastando-se de Deus, se afastar do mistério da misericórdia, tanto mais a Igreja terá o direito e o dever de fazer apelo ao Deus da Misericórdia com grande clamor” (DM 15).
Em 1981, ao celebrar a solenidade de Cristo Rei, no Santuário do Amor Misericordioso, em Roma, reafirmando a mensagem dessa encíclica, João Paulo II revela: “Desde o princípio do meu ministério na Sé de São Pedro, em Roma, considerava esta mensagem como minha tarefa primordial.A Providência confiou-a a mim na situação contemporânea do homem, da Igreja e do mundo. Poderia também se dizer que precisamente esta situação atribuiu-me como dever essa mensagem, como minha tarefa ante Deus…”
A Festa da Misericórdia
Por anos, os devotos esperaram a instituição da Festa da Misericórdia para toda a Igreja. Foi no Jubileu do ano 2000, que João Paulo II proclamou solenemente que o primeiro domingo após a Páscoa seria dedicado à Divina Misericórdia.
A Festa da Misericórdia passou a fazer parte do calendário litúrgico na mesma data em que João Paulo II canonizou Santa Faustina. Na oportunidade, ele afirmou: “a luz da misericórdia divina, que o Senhor quis como que entregar de novo ao mundo através do carisma da Irmã Faustina, iluminará o caminho dos homens do terceiro milênio”.
A acolhida e a partilha da misericórdia são um apelo dele aos cristãos:
“Cristo ensinou-nos que o homem não só recebe e experimenta a misericórdia de Deus, mas é também chamado a ter misericórdia para com os demais (…) A canonização da Irmã Faustina tem uma eloquência particular: mediante este ato quero hoje transmitir esta mensagem ao novo milênio. Transmito-a a todos os homens para que aprendam a conhecer sempre melhor o verdadeiro rosto de Deus e o genuíno rosto dos irmãos”.
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A missão de testemunhar a misericórdia divina
Em 17 de agosto de 2002, na mesma ocasião da consagração do Santuário da Misericórdia de Łagiewniki, Cracóvia – Polônia, João Paulo II consagrou o mundo à Divina Misericórdia. Disse naquela oportunidade:
“Quanta necessidade da misericórdia de Deus tem hoje o mundo! Em todos os continentes, do profundo do sofrimento humano, parece que se eleva a invocação da misericórdia. Onde predominam o ódio e a sede de vingança, onde a guerra causa o sofrimento e a morte de inocentes, é necessária a graça da misericórdia para aplacar as mentes e os corações, e para fazer reinar a paz. Onde falta o respeito pela vida e pela dignidade do homem, é necessário o amor misericordioso de Deus, a cuja luz se manifesta o indescritível valor de cada ser humano. É necessária a misericórdia de Deus para fazer com que toda a injustiça no mundo encontre o seu fim no esplendor da verdade… Por isso hoje, neste Santuário, desejo confiar solenemente o mundo à Misericórdia Divina. Faço-o com o desejo ardente de que a mensagem do amor misericordioso de Deus, aqui proclamado por intermédio de Santa Faustina, chegue a todos os ambientes da terra e cumule os seus corações de esperança. Esta mensagem se difunda deste lugar em toda a nossa Pátria e no mundo. (…) é necessário transmitir ao mundo este fogo da misericórdia. Na misericórdia de Deus o mundo encontrará a paz, e o homem a felicidade! (…) confio-vos esta tarefa a vós. Sede testemunhas da misericórdia!”
Uma santa coincidência ou providência?
O Papa João Paulo II morreu precisamente no dia litúrgico do Domingo da Misericórdia. Sobre essa singular coincidência, disse Bento XVI, em 30 de abril de 2008: “de fato, o seu longo e multiforme pontificado tem aqui o seu ápice; toda a sua missão ao serviço da verdade sobre Deus e sobre o homem e da paz no mundo resume-se neste anúncio, como ele mesmo disse em Cracóvia-Łagiewniki em 2002: ‘Fora da misericórdia de Deus não há qualquer outra fonte de esperança para os seres humanos’”.
Para a oração do Regina Caelida da Festa da Misericórdia do ano em que faleceu (2005), João Paulo II havia preparado o seu último texto. Não foi ele o leitor. Mas, suas palavras foram ouvidas, ao final da celebração da Santa Missa, diante da multidão de fiéis reunidos na Praça de São Pedro para a sua despedida.
Ele havia escrito assim: “À humanidade, que por vezes parece estar perdida e dominada pelo poder do mal, do egoísmo e do medo, o Senhor ressuscitado oferece como dom o seu amor que perdoa, reconcilia e volta a abrir o espírito à esperança. É um amor que converte os corações e dá a paz. Quanta necessidade tem o mundo de compreender e de acolher a Misericórdia Divina!”
Não há como pensar em São João Paulo II e a Divina Misericórdia de maneira separada. Que seu exemplo e mensagem movam nosso coração. Sejamos testemunhas da Misericórdia, como ele nos pediu.
No dia 22 de outubro, a Igreja Católica celebra o dia de São João Paulo II. A data foi estabelecida pelo Papa Francisco por simbolizar o dia em que Karol Wojtyla celebrou sua primeira missa como Papa, em 1978, quando iniciou o seu pontificado. Nos preparemos em oração para celebrar esta data tão especial, do Santo que contribuiu de forma tão eloquente para a propagação da divina misericórdia ao mundo.
São João Paulo II, rogai por nós!