Santa Faustina entendeu que a Virgem Maria tinha uma relação especial com a Divina Misericórdia, tanto que o próprio nome de sua comunidade religiosa se chama: Irmãs de Nossa Senhora da Misericórdia. E curiosamente, de todos os lugares onde a Imagem da Divina Misericórdia poderia ter sido exposta pela primeira vez, de acordo com os desígnios do Senhor, aconteceu na capela Ostra Brama (Santuário dedicado a Nossa Senhora Mãe de Misericórdia) em Vilnius, Lituânia (cf. Diário, 89).

Além disso, no desejo de difundir a mensagem e a devoção à Divina Misericórdia, Santa Faustina compreendeu que unir-se à Virgem Maria era uma forma benéfica de exaltar a misericórdia de Deus:

“Para exaltar dignamente a misericórdia do Senhor, com Vossa Mãe Imaculada nos unimos, e então o nosso hino Vos será mais agradável — porque Ela é a escolhida dentre os anjos e os homens.” (Diário, 1746).

Santa Faustina oferece uma profunda razão de Maria estar associada à Divina Misericórdia, baseado na noção de misericórdia presente no Magnificat de Maria (cf. Lc. 1, 50,54). Simplificando, Maria, devido à sua Imaculada Conceição e ao dar à luz à Misericórdia Encarnada, “é a primeira a louvar a onipotência da Sua misericórdia”.

Na festa de Nossa Senhora da Misericórdia de 1935, Maria revelou a Santa Faustina o vínculo entre a sua maternidade espiritual e a Divina Misericórdia: Sou Mãe de todos vós, graças à insondável misericórdia de Deus. Com efeito, Santa Faustina entendia Maria como a “Mãe da Misericórdia” e, por isso, muito associada na mensagem e na devoção a Jesus, a Divina Misericórdia.

Modelo de vida interior

A confiança é uma virtude que dá a capacidade de viver uma vida profundamente interior, não sendo influenciado pelos muitos acontecimentos externos da vida, mas vendo todas as coisas como o desvelar da Divina Misericórdia.

Era isso que a confiança significava para Santa Faustina e, dentro dessa compreensão da confiança, ela olhava para Maria como modelo e mestra para viver uma vida interior de confiança.

As Constituições de 1909 da comunidade religiosa de Santa Faustina [Irmãs de Nossa Senhora da Misericórdia], diziam que as Irmãs devem viver sua vocação “pela reflexão sincera sobre as virtudes e os sentimentos de sua Mãe e Padroeira, a misericordiosa Mãe de Deus”.

Santa Faustina entendeu a Virgem Maria, no momento supremo da história humana – isto é, a Encarnação – como uma lição de confiança no desígnio misericordioso de salvação de Deus:

“(…) o seu Coração puro — abre-se com amor à vinda do Verbo, crê nas palavras do mensageiro divino e na confiança se confirma.”(Diário, 1746).

Nisto Maria serve de modelo e mestra da vida interior e daquela virtude maravilhosa que se chama confiança. De fato, Santa Faustina referiu-se muitas vezes a Maria como modelo:

“Vós sois o modelo e a estrela da minha vida.” (Diário, 874) e “Eu modelo a minha vida em ti” (Diário, 1232).

Curiosamente, a própria Mãe de Deus comunicou a Santa Faustina que ela ganharia para Faustina uma profunda vida interior:

“Pedirei para ti, minha filha, a graça da vida interior tal que, mesmo vivendo essa intimidade espiritual, sejas capaz de cumprir exteriormente todas as tuas obrigações com uma exatidão ainda maior. Permanece com Ele continuamente no teu próprio coração. Ele será tua força.” (Diário, 785).

O fato de Maria ter ajudado Santa Faustina a crescer na confiança por meio de uma profunda vida interior é um tema constante em seu Diário. Esta modelagem da sua vida na confiança da Virgem Maria envolveu também o elemento da confiança no meio da dor, como se vê quando, na Festa da Apresentação de 1937, Santa Faustina relatou que queria ser como Maria no seu sofrimento: “Mãe dulcíssima, ensinai-me a vida interior. Que a espada dos sofrimentos nunca me abata.” (Diário, 915).

Em seu desejo de se render e tornar-se pequena em resposta à misericórdia de Deus, Santa Faustina frequentemente se retratava como uma filha de Maria. Consciente de suas próprias lutas na vida espiritual, Santa Faustina comentou em termos afetuosos: “porque sou tão fraca e inexperiente, aconchego-me, como uma criança, ao seu Coração [de Maria]” (Diário, 1097).

Crédito: Rainha Maria

A relação filial que Faustina tinha com Maria também incluía uma dimensão cristocêntrica. Isso é facilmente visto quando se nota que em muitas das ocasiões em que Santa Faustina viu Nossa Senhora, Maria estava segurando o Menino Jesus nos braços. Em uma ocasião, quando Santa Faustina parece ter participado de uma novena a Nossa Senhora, ela conta como Maria pediu a ela um espírito infantil:

No dia do encerramento da novena em Ostra Brama, à noite, após o cântico da ladainha, um dos sacerdotes trouxe o Santíssimo Sacramento no ostensório. Quando o depositou no altar, logo vi o Menino Jesus pequenino, que estendia as Suas mãozinhas para a Sua Mãe que, naquele momento, tinha um aspecto vivo. Enquanto a Mãe Santíssima falava comigo — Jesus estendia as mãozinhas para o povo reunido. A Mãe Santíssima dizia-me que aceitasse todas as exigências de Deus como uma pequena criança, sem nenhuma indagação, pois de outra forma isso não agradaria a Deus. Nesse momento desapareceu o Menino Jesus e a Mãe de Deus deixou de se mostrar viva; a imagem ficou como era antes, mas a minha alma estava cheia de alegria e de grande felicidade.” (Diário, 529)

 

 


Texto extraído do livro “Mais puro de todos os lírios: A Virgem Maria na espiritualidade de Santa Faustina”, de Pe. Donald Calloway, MIC, Padres Marianos dos EUA.