No tempo litúrgico do advento, a Igreja nos convida a aprofundar nossa intimidade com o Senhor mediante a contemplação do mistério da Sua encarnação e do Seu nascimento.

Assim nos colocamo-nos diante do Verbo que “se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14), “assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens” (Fl 2,7).

Logo, o Catecismo da Igreja, recordando as palavras de Santo Irineu de Lião, fala da pedagogia divina que está encerrada na encarnação de Jesus:

“O Verbo de Deus habitou no homem e fez-Se Filho do Homem, para acostumar o homem a apreender Deus e Deus a habitar no homem, segundo o beneplácito do Pai” (n. 53).

Portanto, pela encarnação Deus se humaniza para que o homem seja divinizado. E este é um tremendo mistério de amor, que pode ser contemplado somente pela luz da misericórdia de Deus que não quer a morte do pecador, mas sim que se converta e viva (Ez 33,11).

Na plenitude dos tempos

O advento é tempo de preparação, mas também de tomada de consciência de que chegou o momento esperado para Deus agir na história humana e na vida de cada um de nós.

E Deus não faz as coisas na véspera e nem no dia seguinte. Em seu desígnio de amor, Ele age no momento oportuno, no tempo da graça, no kairós.

Logo, São Paulo declara esta verdade quando escreve aos gálatas:

“Quando veio a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, que nasceu de uma mulher” (Gl 4,4).

Aqui a presença de Maria é destacada como condição pela qual a natureza divina se une à natureza humana.

Maria é, pois, na plenitude dos tempos, a mulher que estabelece o vínculo entre Deus e o homem. Mas não para o homem ter acesso direto a Deus, por seu próprio esforço e empenho, mas para que Deus derrame sua infinita misericórdia aos homens. E assim, tornando-se carne da mesma carne, nascido como todos os homens do ventre de uma mulher.

Advento: a espera pela primeira vinda do Senhor

No advento, celebramos a preparação de toda a humanidade e de cada um de nós, em particular, para a primeira vinda do Senhor.

Contudo, não se trata apenas do episódio histórico, ocorrido há mais de 2 mil anos. Mas sim daquele encontro pessoal com o Cristo que cada um de nós deve realizar em sua caminhada espiritual.

A Igreja celebra, assim, no advento, de modo universal, o mistério do encontro profundo de Deus com cada pessoa e com a comunidade dos seguidores de Jesus.

Como, por intermédio de Maria, Deus feito carne fez-se dom de amor para a humanidade, faz-se igualmente dom de amor para cada um de nós, por meio também de Maria.

No advento aguardamos a segunda vinda do Senhor

Enquanto aguardamos a volta de Jesus, vivemos em permanente estado de advento, de espera, de preparação. Logo, vivemos aquilo que São Paulo expressa com as palavras “já, mas ainda não”.

De fato, Cristo já veio e a obra da redenção foi operada, mas ainda aguardamos o desfecho final dessa história de amor entre Deus e sua criatura predileta.

Deus nos permite viver a espera por respeitar nossa liberdade: não quer que o amemos por imposição, porque amor imposto não é amor, mas medo e submissão.

Ao contrário Deus quer que façamos a experiência de livremente optar por Seu amor, como o pai do filho pródigo que não obrigou o retorno do filho, não enviou seus empregados para trazê-lo de volta. Mas o aguardou com paciência e amor.

O papel de Maria na preparação da segunda vinda do Senhor

Como São Luís Maria Grignion de Montfort ressalta, em seu Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, “por meio de Maria começou a salvação do mundo e é por Maria que deve ser consumada” (n. 49).

E mais, ainda:

“A formação e a educação dos grandes santos, que aparecerão no fim do mundo, lhe está reservada, pois só esta Virgem singular e milagrosa pode produzir, em união com o Espírito Santo, as obras extraordinárias e singulares” (n. 35).

Enfim, que a vivência do advento alimente em nós a atitude constante de, como Maria e por sua intercessão, esperar a vinda do Senhor.

E com Santa Faustina, peçamos a graça de ter nosso coração incendiado, durante o advento, com as chamas da “saudade de Deus” (Diário, 180). Que cresça em nós o desejo ardente de buscá-Lo e amá-Lo sempre mais.

 

Pe. Ednilson de Jesus, MIC