“Solenidade acima de todas as solenidades − é a Ressurreição de nosso Senhor e Redentor Jesus Cristo”. É o que lemos no Martirológio¹ Romano. De fato, é a solenidade mais maravilhosa, que proporciona a máxima alegria e que anuncia ao mundo a total glorificação de Jesus Cristo, a glorificação de toda a Sua natureza humana − tanto do corpo como da alma.

 

Trata-se da maior prova da Sua Divindade, visto que ressuscitou pelo Seu próprio poder, “como havia dito” (cf. Mt 28,6). Trata-se de toda a essência e de todo o conteúdo do cristianismo, que se sustenta ou que cai com essa verdade: “E se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é sem fundamento, e sem fundamento também é a vossa fé”, fala com razão o Apóstolo das Gentes (1Cor 15,14).

Por isso, reflitamos sobre a realidade e a veracidade da ressurreição.

Cristo Senhor realmente ressuscitou. Assegura-nos isso sobretudo a Sagrada Escritura, que confirma com toda a certeza a Sua morte, e a seguir fala do aparecimento de Jesus a Madalena (cf. Mc, 9ss.), às outras mulheres (cf. Mt 28,9), a Pedro (cf. Lc 24,34), aos dois discípulos no caminho de Emaús (cf. Mc 16,2), aos apóstolos reunidos no Cenáculo sem Tomé (cf. Jo 20,19ss.), aos apóstolos e a Tomé (cf. Jo 20,26), aos apóstolos à beira do lago de Genesaré (cf. Jo 21,1-23), aos apóstolos no monte, a caminho da Galileia (cf. Mt 28,16-20), e “mais tarde, apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez” (1Cor 15,6).

Ao aparecer, Jesus conversa com os apóstolos, permite ser tocado, inclusive na chaga do Seu lado, como fez São Tomé; com os apóstolos consome alimentos e institui os santos Sacramentos.

A ressurreição de Jesus Cristo é confirmada pelos Anjos, que dizem às mulheres: Vós não precisais ter medo! […] procurais Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui! Ressuscitou, como havia dito! Vinde ver o lugar em que ele estava (Mt 28,5-6). Por que procurais entre os mortos aquele que está vivo? Não está aqui. Ressuscitou!

Lembremo-nos do que Ele vos falou, quando ainda estava na Galileia: “É necessário o Filho do Homem ser entregue nas mãos dos pecadores, ser crucificado e, no terceiro dia, ressuscitar” (Lc 24,5-7). Esse fato é também confirmado pelas mulheres: “Então, Maria Madalena foi anunciar aos discípulos: ‘Eu vi o Senhor’, e contou o que ele lhe tinha dito” (Jo 20,18); é também confirmado por todos os apóstolos, que anteriormente haviam duvidado, mas depois anunciam a ressurreição ao mundo inteiro: Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus (cf. At 4,33).

Hoje essa ressurreição de Cristo é testemunhada por todo o mundo cristão.

Nenhum dos evangelistas fala de que maneira Jesus Cristo saiu do túmulo, porque ninguém O viu no momento da ressurreição. Mateus assinala que a saída ocorreu sem a pedra ter sido movida e que a própria ressurreição veio acompanhada de fenômenos extraordinários: “De repente, houve um grande terremoto: o anjo do Senhor desceu do céu e, aproximando-se, removeu a pedra e sentou-se nela. Sua aparência era como um relâmpago, e suas vestes, brancas como a neve. Os guardas ficaram com tanto medo do anjo que tremeram e ficaram como mortos” (Mt 28,2-4). A pedra, portanto, foi removida pelo anjo, mas o sepulcro já estava vazio, e justamente por isso, por ser inteiramente desnecessária, a pedra havia sido removida.

Acessoriamente confirmam a ressurreição de Jesus também os judeus. Porquanto eles não tinham negligenciado nada para impedir a ressurreição, e após o fato, acima de qualquer dúvida, em vez de examinar a questão eles subornam os soldados para que afirmassem que o corpo do Salvador havia sido roubado enquanto eles dormiam, como se tal relato não culpasse os soldados, por não terem vigiado na guarda.

Eles também não investigam os discípulos de Jesus, que proclamavam em todos os lugares a Sua ressurreição, nem os abordam, para dessa forma não contribuírem para a descoberta oficial da verdade da ressurreição.

A Sinagoga encontrou-se, portanto, num último e profundo embaraço, e não poupou dinheiro para o silêncio e as mentiras dos soldados romanos.

Cristo, no entanto, tinha de ressuscitar, porque assim está escrito: “o Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia” (Lc 24,46), − porque assim haviam anunciado os profetas: “Pois não vais abandonar minha alma no sepulcro, nem vais deixar que teu santo experimente a corrupção” (Sl 16,10), − porque assim anunciaram os seus protótipos, que foram sobretudo Isaac e Jonas.

O próprio Cristo anunciou a Sua ressurreição aos apóstolos e aos judeus, primeiro vagamente, e depois clara e enfaticamente. Com frequência citava o milagre de Jonas como sinal da Sua missão e dignidade messiânica, e os judeus se lembravam desse prenúncio.

Os olhares de todos estavam voltados para o túmulo, e após o fato ninguém dos interessados negou a ressurreição, de modo que o próprio silêncio confirma esse fato.

Se o Salvador não tivesse ressuscitado, teria sido prejudicada a dignidade da Sua pessoa, teriam sido frustrados os Seus planos, teria sido desperdiçada toda a Sua obra, tão cuidadosamente preparada − numa palavra, tudo estaria perdido. Seria um erro, pior que todos os outros, seria uma decepção para todos os Seus adeptos. Portanto, Cristo tinha que ressuscitar, e realmente ressuscitou.

Por isso, a Igreja comemora esse mistério com a máxima solenidade, como a máxima manifestação da infinita misericórdia de Deus. Por isso, na santa Missa estimula os fiéis à máxima alegria na antífona: Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e alegremo-nos nele (Sl 118,24), apontando a seguir que o motivo dessa alegria é a misericórdia de Deus que a nós se revela: “Celebrai o Senhor, porque ele é bom; pois eterno é seu amor” (Sl 118,1).

O que o Salvador havia iniciado no monte Tabor tornou-se agora plena realidade: revestiu o Seu corpo de esplendor e beleza, espiritualizou-o completamente, tornou-o delicado e transparente, inteiramente dependente da Sua vontade.

A alma iluminada, unida à Divindade, penetra o corpo, desperta nele novas energias, torna-o capaz de atravessar portas e muros, rochas e pedras, capaz de transportar-se à vontade, de ocultar-se e de se tornar irreconhecível, conforme o Seu querer.

Misericordiosíssimo Salvador, ideal da mais sublime beleza, e ao mesmo tempo o mais perfeito modelo do nosso ser! Tu foste o primeiro a sentir em Teu corpo o deleite da eterna felicidade. Eu Te saúdo, nosso ressuscitado Irmão primogênito! Nós também ansiamos por uma vida glorificada, por um corpo espiritualizado, por formas exteriores espiritualizadas. Desejamos vivenciar a Páscoa, queremos conquistar para a nossa alma a vitória sobre os estímulos inferiores do nosso corpo e alcançar a imortalidade feliz.

 

 

 

Fonte: Texto reduzido e adaptado do livro “A Misericórdia de Deus em Suas obras – volume 2”, Editora Divina Misericórdia, Curitiba-PR.