A máxima misericórdia de Deus foi manifestada a nós no mistério da Redenção, ou seja, pela Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. Neste mistério, Deus revelou o quanto nos ama, e até que ponto está disposto a ir para realizar a salvação eterna do gênero humano.

Gostaria de convidá-los a refletir sobre a Imagem de Jesus Misericordioso nesta perspectiva do mistério da Redenção, a qual ela está plenamente inserida.

Como sabemos, a Imagem da Divina Misericórdia se originou de uma visão que Santa Faustina teve no dia 22 de fevereiro de 1931. Ela registrou esse acontecimento em seu Diário, que manteve a pedido do Senhor.

Ela escreveu:

“À noite, quando me encontrava na minha cela, vi Nosso Senhor vestido de branco. Uma das mãos erguida para a bênção, e a outra tocava-Lhe a túnica, sobre o peito. Da túnica entreaberta sobre o peito saíam dois grandes raios, um vermelho e o outro pálido. Em silêncio, eu contemplava o Senhor; a minha alma estava cheia de temor, mas também de grande alegria. Logo depois, Jesus me disse: Pinta uma Imagem de acordo com o modelo que estás vendo, com a inscrição: Jesus, eu confio em Vós. Desejo que esta Imagem seja venerada, primeiramente, na vossa capela e, depois, no mundo inteiro.”  (Diário, 47).

Sob a direção de Santa Faustina, o Bem-aventurado Miguel Sopocko, seu confessor, convidou o artista Eugene Kazimirowski, para pintar a imagem. Isso aconteceu entre os anos 1934 e 1935. Santa Faustina não ficou contente com a imagem pintada. Ela sentiu que a imagem pintada não transparecia a magnificência e a beleza da visão que ela teve de nosso Senhor.

Ela escreveu no seu Diário a sua percepção:

“Em determinado momento, quando fui a casa daquele pintor que está pintando a Imagem e vi que ela não era tão bela como é Jesus, fiquei muito triste com isso, mas escondi essa mágoa no fundo do meu coração. Quando saímos da casa do pintor, a Madre Superiora ficou na cidade para resolver diversos assuntos e eu voltei para casa sozinha. Imediatamente dirigi-me à capela e chorei muito. Disse ao Senhor: “Quem Vos pintará tão belo como sois?” Então ouvi estas palavras: O valor da Imagem não está na beleza da tinta nem na habilidade do pintor, mas na Minha graça.” (Diário, 313).

Foto: Bênção dos Quadros na Festa da Misericórdia 2018  |  Imagem de Jesus: pintura de Piotr Moskal

 

Muitos outros artistas também quiseram pintar a imagem de Jesus Misericordioso. Mas, o essencial é compreender o sentido e o simbolismo desta, pois deste simbolismo encontramos o seu significado, que nos conecta diretamente ao mistério da nossa salvação.

 

Então, o que a Imagem significa? 

 

01) A Imagem do Cristo Ressuscitado – portando os sinais da paixão

A imagem de Jesus Misericordioso é certamente a imagem de Jesus ressuscitado com os sinais da paixão e morte. Suas mãos e pés traspassados nos lembram do amor que Deus tem por nós. Jesus nos ama tanto que morreu por cada um de nós! Jesus disse: “Ofereço aos homens um vaso, com o qual devem vir buscar graças na fonte da misericórdia. O vaso é a imagem com a inscrição: “Jesus, eu confio em Vós.”  (Diário, 327).

Para que a nossa reflexão fique mais compreensível, somos convidados a contemplar a passagem da Sagrada Escritura que encontramos no Evangelho de São João 20,19-23.

Esta narra a aparição de Jesus aos discípulos no dia da ressurreição. A imagem que Jesus pediu que Santa Faustina mandasse pintar se encontra inteiramente conectada com aquele acontecimento vivido pelos apóstolos há 2000 anos.  Os discípulos estão envoltos em medo, desconfiança e trevas, e no meio destas trevas assustadoras o Senhor Ressuscitado aparece a eles portanto a sua luz e a sua paz.

Assim, vemos que a imagem que o Senhor pede para Santa Faustina pintar está plenamente conectada com  o mistério da redenção do Senhor – como nos apresentado nas Sagradas Escrituras. Também nós, envoltos em trevas neste nosso mundo, somos convidados a contemplar a imagem do Misericordioso Senhor e nela encontra as forças que nascem da confiança filial no seu amor.

 

 

02) A Imagem de Cristo, o Sumo e eterno Sacerdote

Na imagem  Cristo é apresentado com vestes sacerdotais. Além disso, o Senhor representado na imagem tem a mão direita levantada em forma de bênção enquanto a mão esquerda toca o coração do qual saem dois raios, um claro e outro vermelho.

Cristo é de fato o Sumo Sacerdote da nova e eterna aliança como nos diz a carta aos Hebreus: “Tal é, com efeito, o Pontífice que nos convinha: santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores e elevado além dos céus, que não tem necessidade, como os outros sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrifícios, primeiro pelos pecados próprios, depois pelos do povo; pois isso o fez de uma só vez para sempre, oferecendo-se a si mesmo.”

O Sacrifício de Cruz, como sabemos, foi antecipado na Quinta-Feira Santa, através da instituição da Eucaristia e da vida sacramental da Igreja, caminho pelos quais nos chega a graça salvifica de Cristo. Na imagem de Jesus Misericordioso a Eucaristia é representada pelo raio vermelho, como veremos a seguir.

Para além destes elementos centrais, a imagem de Jesus Misericordioso traz outros elementos simbólicos que nos ajudam a aprofundar a conexão entre a imagem de Jesus Misericordioso e o mistério da redenção, vejamos:

 
 

I. Os raios

Quando perguntado sobre o significado dos raios que partem do seu Coração trespassado, Jesus explicou: “O raio pálido representa a Água que torna as almas justas. O raio vermelho representa o Sangue que é a vida das almas… Esses dois raios foram emitidos das profundezas de Minha eterna misericórdia, quando Meu Coração agonizante foi aberto por uma lança na Cruz” (Diário, 299).

Em outras palavras, esses dois raios significam os sacramentos da misericórdia (Batismo e Penitência) e a Eucaristia – resumem todos os sacramentos da Igreja, pelos quais como canais nos descem a graça de Cristo.  A Eucaristia é o sangue das almas, levando o alimento que sustenta a vida para nossa jornada espiritual. A água é análoga aos sacramentos do Batismo e da Penitência, pois através desses sacramentos nossas almas são lavadas. “Mas vós fostes lavados, fostes santificados, fostes justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus” (I Cor 6,11).
 
 

II. A inscrição de Jesus, eu confio em Vós

Outro elemento que se destaca na imagem é a inscrição: Jesus, eu confio em Vós. A confiança é um dos elementos centrais na espiritualidade da Misericórdia. E aquilo que nos aproxima de Deus. No Evangelho a fé e a confiança é o que dá ao ser humano a possibilidade de “ganhar” a graça.  Jesus repete constantemente: “Vai a tua fé te salvou”. A um Deus que se se encarnou, e que sofreu a paixão e morte pela nossa salvação só resta prestar o culto da nossa confiança irrestrita.
 
 

III. O Olhar

O próprio Jesus revela a Santa Faustina o significado do seu olhar: “O Meu olhar nesta Imagem é o mesmo que eu tinha na Cruz” (Diário, 326).  No Evangelho é muito comum encontrar referências ao olhar de Cristo (cf. Mc 10,21). O seu olhar é pleno de misericórdia e perdão. E justamente este olhar que faz com as pessoas, mesmo as mais pecadoras, não tenham medo de se aproximar de sua Divina Pessoa. O apóstolo Pedro experimentou a profundidade do amor misericordioso do Senhor durante o Julgamento de Jesus, na qual lemos: “Voltando-se o Senhor, olhou para Pedro. Então, Pedro se lembrou da palavra do Senhor: “Hoje, antes que o galo cante, tu me negarás três vezes”. Saiu dali e chorou amargamente.” (Lc 22,61-62).

O misericordioso olhar de Cristo provocou no apóstolo uma grande mudança, porque naquele olhar se podia contemplar a “luz do mundo”.

Na imagem de Jesus Misericordioso, o olhar só pode cair sobre nós diretamente se nos aproximarmos como quem fica embaixo da cruz.

 

 

Por Provincial Padre Jair Batista, MIC,
para a Revista Divina Misericórdia Ed. 82