Eis o Natal: “Deus se fez homem para nos tornar filhos de Deus” (Santo Irineu). Um acontecimento tão importante e tão decisivo que surpreendeu e transtornou os planos humanos. Eis a alegria do Natal: “Hoje, vos nasceu um Salvador, que é o Cristo Senhor” (Lc 2,11).
O Senhor Jesus veio em meio a nós para nos dizer “não temais”, para dissipar a indiferença uns dos outros, porque Deus, em Jesus seu Filho, se comprometeu com a humanidade, ferida pelo pecado, para nos salvar.
Árvore genealógica de Jesus
Jesus nasce em uma árvore genealógica, não exatamente perfeita, visto os personagens, mas Ele aceita entrar nesta história familiar, que, certamente, não é constelada de Santos.
Alguns Reis eram fiéis, outros idólatras, imorais e assassinos. A genealogia quer testemunhar e confirmar que Jesus é da “estirpe de David” (cf. Mt 1,6ss) e que a promessa que Deus fez a Davi, de construir-lhe “uma casa” (cf. 2Sm, IV domingo do Advento) encontrou sua plenitude em Jesus – que inaugura uma nova história.
Atrás de cada nome, há uma história, através da qual Deus tornou possível a realização de alguma coisa. Por atrás de cada rosto, há uma eleição de Deus e Sua promessa, “como era no princípio, agora e sempre”. Também nós somos “eleitos” pela graça de Deus: “Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi” (Jo 15,16).
Não fomos escolhidos pelos nossos méritos, mas pela sua Misericórdia: “Amo-te com eterno amor” (Jr 31,3). Eis a nossa certeza: “O Senhor chamou-me desde o seio de minha mãe” (Is 49,1).
Como no passado, hoje Jesus entra nesta história e nos convida a olhar para longe, a ler este tempo histórico, não com uma ladainha de derrota e lamentos, mas com aquela Luz, que vem de cima e ilumina tudo.
Manjedoura de Jesus
“Completaram-se os seus dias e ela deu à luz seu filho primogênito, envolvendo-o em faixas, e o depôs em uma manjedoura” (Lc 2,7)
Deus Pai, Todo-Poderoso, por meio de Maria, depôs um Menino, o Emanuel, Deus conosco, em uma manjedoura: um Menino que dá início a um novo Reino, a uma nova História de salvação: Reino de justiça e paz, de amor e verdade.
Os Anjos cantam no céu, enquanto Herodes o perseguia; um dia, será aclamado pelo povo e, no outro, condenado pela mesma multidão.
Há também outro detalhe que, geralmente, é proposto pelos ícones: o Menino é colocado no lugar onde os animais comiam. Este mesmo Menino, que precisava ser nutrido para crescer, é recordado, desde o início, como o “pão” que alimenta: “Fazei isto em memória de mim“.
Da manjedoura, Jesus manda-nos um sinal para que aprendamos a ser “pão que se doa”. Recordemos que a primeira das tentações de Jesus no deserto se referia, precisamente, ao conceito de “alimento”: “Se és Filho de Deus, ordena que estas pedras se tornem pães…” Jesus respondeu: “Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4, 3-4), indicando-nos assim o exemplo que devemos seguir.
Faixas que envolveram Jesus
Maria “envolveu” o Menino “em faixas”: apesar da precariedade do momento, Maria sabe se organizar. O seu exemplo nos ajuda a “nos organizar” para que o Menino, que pede para nascer em nosso coração e em nossa vida, encontre acolhimento, cuidado e proteção.
Em outras palavras, podemos dizer que a memória do Natal de Nosso Senhor ilumina os nossos “natais cotidianos”, onde a fé, ou seja, a amizade com o Menino Jesus, precisa ser acolhida e mantida nas “faixas” das nossas atenções e cuidados, para não desfalecer.
Através daquele “Menino”, envolto em faixas e deitado na manjedoura, somos convidados a observar a lógica com que Deus age, e, aprender a agir “como Deus”, e mudar de mentalidade e perspectiva.
O que conta não é a grandeza e a importância, mas a pequenez, aparentemente insignificante: da grandeza à pequenez, da força à debilidade, do poder ao dom, porque é assim que Deus age!
Também somos chamados a ser “sinais” do poder do amor de Deus, humildes instrumentos do Reino do Senhor. Nosso modo de ser cristãos deve ser um viver e um agir, capaz de demonstrar a alegria do “Natal”, por uma Vida vinda do Alto, capaz de “entregar-se” pelos outros por amor.
Os Pastores que adoraram a Jesus
A entrada de Deus na história dá-se por “portas secundárias” e métodos não convencionais, tanto que os Anjos levam o anúncio aos pastores e não aos sacerdotes do Templo.
Os pastores eram pobres guardiões, pagos para cuidar das ovelhas; eram excluídos do povo por serem nômades e por visitarem pessoas fora do povo, estrangeiras e, portanto, impuras segundo a lei.
Por isso, foi primeiro a eles que os Anjos transmitiram o anúncio. Confia-lhes, por primeiro, a tarefa de adorar e ir anunciar:
“Vamos a Belém e vejamos o que se realizou e o que o Senhor nos manifestou. Foram com grande pressa e viram Maria e José e o Menino deitado numa manjedoura… Os pastores voltaram glorificando e louvando a Deus…” (Lc 2, 15-20).
Naqueles pastores nômades, que, como Jesus, não sabiam “onde repousar a cabeça” (Mt 8,20), vemos os nômades guardiões do nosso coração, aquela nossa parte inquieta que vigia, busca e espera Alguém, mas que, muitas vezes, se confunde, enganando a verdadeira fome e sede do coração.
No fundo, cada um de nós é aquele pastor que tenta seguir seus pobres ideais e, quando pensa ter conseguido, percebe que o caminho ainda é muito longo.
Fonte: Vatican News
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