O Diário de Santa Faustina é uma obra católica muito conhecida hoje na Igreja
Traduzido para vários idiomas no mundo, leva a mensagem de Jesus Misericordioso a todos e é um sinal visível da ação salvadora de Deus no mundo contemporâneo.
Num dia como hoje, 28 de julho, no ano de 1934 — por ordem do seu confessor, Padre Miguel Sopoćko, a Irmã Faustina começou a escrever o seu Diário, com o título A Misericórdia Divina na minha alma, no qual ela anotou suas vivências espirituais.
Morando em Wilno, no dia 28 de julho de 1934, Santa Faustina escreve o seu ‘Primeiro caderno’:
“Devo anotar os encontros de minha alma Convosco, ó Deus, nos momentos de Vossas especiais visitas. Devo escrever sobre Vós, ó inconcebível em misericórdia para com a minha pobre alma. A Vossa santa vontade é a vida da minha alma. Recebi essa ordem de quem Vos representa aqui na terra, ó Deus, e ele me esclarece sobre a Vossa santa vontade. Jesus, bem vedes como me é difícil escrever e como sou incapaz de descrever com clareza o que experimento na minha alma. Ó Deus, poderá a pena descrever aquilo para que muitas vezes não há nem mesmo palavras? Mas sois Vós, ó Deus, que mandais que eu escreva, e isso me basta.” (Diário, 6).
Esta história surgiu de uma maneira muito simples, acompanhe a seguir
No dia 17 de janeiro de 1933, Padre Miguel Sopoćko foi nomeado para ser confessor da Congregação das Irmãs de Nossa Senhora da Misericórdia na cidade de Wilno (Vilnius), na Lituânia.
O primeiro encontro entre Irmã Faustina e seu confessor aconteceu provavelmente no decorrer de uma semana após a vinda de Irmã Faustina a Wilno, ou seja, no final de maio ou no começo de junho de 1933.
Esse encontro, em Wilno, da simples religiosa mística e do professor de teologia foi decisivo na história do desenvolvimento da devoção à Divina Misericórdia.
Irmã Faustina anotou em seu Diário:
“Veio a semana da confissão e, para a minha alegria, vi aquele sacerdote que já conhecia antes de vir a Wilno. Conhecia-o da visão. Então, ouvi na alma estas palavras: Eis o Meu servo fiel, ele te ajudará a cumprir a Minha vontade aqui na terra. No entanto, não me dei a conhecer logo a ele, como o Senhor desejava. E, por algum tempo, lutei com a graça. Em cada confissão a graça de Deus invadia-me de maneira estranha, todavia eu não desvendava minha alma diante dele e até pretendia não me confessar com esse sacerdote. Depois dessa decisão, uma terrível ansiedade se apoderou de minha alma. Deus me censurava fortemente. Quando abri toda a minha alma a esse sacerdote, Jesus derramou na minha alma todo um mar de graças. Agora compreendo o que é a fidelidade a uma graça particular e como ela atrai toda uma série de outras.” (Diário, 263)
Como experiente confessor e teólogo, Padre Sopoćko reagiu com cuidado às palavras da religiosa a respeito de que, segundo o prognóstico de Jesus, ele deveria ajudar-lhe na divulgação da mensagem sobre a Divina Misericórdia. Não há por que se espantar com isso. Certamente em sua vida sacerdotal já tinha encontrado pessoas que lhe falaram de pretensas visões. “Menosprezei esse relato dela e a submeti a uma prova, a qual fez com que, com a permissão da superiora, Irmã Faustina começasse a procurar outro confessor. Algum tempo depois voltou a mim e declarou que suportaria tudo, mas de mim já não se afastaria” – recordava o sacerdote. Para ter mais certeza sobre a Irmã Faustina e para não cair na ilusão, alucinação ou na fantasia, o Padre Sopoćko pediu à superiora do convento de Wilno, a madre Irena Krzyżanowska, primeiramente, uma opinião a respeito dela e, depois, um exame de sua saúde psíquica e física. Os exames constataram a boa saúde da Irmã Faustina, sem sintomas neuropáticos, nem quaisquer desvios psíquicos.
Desde que a Irmã Faustina começou a contar ao sacerdote o que estava acontecendo em sua alma, as confissões dela tornaram-se longas, suscitando comentários maldosos das Irmãs, por isso Faustina procurava confessar-se por última. Mas essa atitude não melhorou muito a situação. O próprio Padre Sopoćko também ficava sem muito tempo para ouvir as longas confidências da Irmã Faustina no confessionário, por isso recomendou à Faustina que ela registrasse tudo em um caderno e de vez em quando entregasse para que ele pudesse examinar. Mas parece que a falta do tempo não foi o único motivo dessa ordem.
O Padre Sopoćko podia agora analisar as visões descritas pela Irmã Faustina tranquilamente e com calma, sem a pressa ocasionada pela fila da confissão. Independente dos motivos, graças à atitude do Padre Sopoćko, surgiu um extraordinário documento: Diário das vivências espirituais e místicas da Irmã Faustina.
O Diário não surgiu com facilidade. Em primeiro lugar, a Irmã Faustina não era instruída – ela tinha concluído apenas três séries da escola fundamental. Em segundo lugar, as condições para escrever eram limitadas, estava ocupada com o trabalho na horta, para escrever tinha somente os momentos livres, tendo para isso que se ocultar diante das Irmãs.
A principal característica do Diário não está nos acontecimentos exteriores, relativamente fáceis de escrever, mas na essência do Deus misericordioso conhecida através das vivências místicas de Santa Faustina, e das regras de sua atuação no mundo, bem como da participação direta na contemporânea história da salvação de Faustina.
É incomum não apenas o conteúdo do Diário, mas também a sua forma. Embora não fosse instruída e cometesse erros ortográficos, a autora escrevia com uma caligrafia muito bonita e uniforme. E, o mais importante, no texto não há nada riscado, modificado. Isto não deixa margem à dúvida de que o que ela transmitia – e, além disso, em condições desfavoráveis – fluía diretamente da alma, por inspiração do próprio Deus. “Muitos teólogos, com longos anos de estudos, não seriam capazes de solucionar, mesmo por aproximação, essas dificuldades teológicas com a correção e a facilidade com que o fazia Irmã Faustina” – observa o Padre Sopoćko.
Inicialmente Faustina escrevia em fichas, e depois num caderno que lhe comprou a superiora do convento, a pedido do confessor. Ela preencheu seis cadernos – Diário – que guardava em sua cela. Começou a escrever no ano de 1933 e terminou no ano de 1938. Um ano depois do início das suas anotações (1934), quando na primavera o Padre Sopoćko viajou para a Terra Santa, aconteceu uma coisa estranha. Irmã Faustina, influenciada pelo conselho de um pretenso anjo, que mostrou ser o demônio, queimou o Diário. Depois da volta do Padre Sopoćko, novamente obedecendo a sua ordem começou a escrever o Diário.
O demônio várias vezes incomodava Irmã Faustina para que deixasse de escrever o Diário, mas ela sempre escrevia vitoriosa.
“No momento em que estava escrevendo estas palavras ouvi o grito de satanás: ‘Ela escreve tudo, escreve tudo, e por isso nós perdemos tanto! Não escrevas sobre a bondade de Deus. Ele é justo!’ — E, uivando furioso, desapareceu.” (Diário, 1338).
O Diário nasceu no meio de vários desafios e lutas e hoje é uma grande riqueza da nossa igreja e a resposta de Deus para os tempos de hoje. Quando a Irmã Faustina esgotada pelos sofrimentos e lutas pensava que já havia feito de tudo, ouvia esta voz de Deus:
“Durante a Hora Santa, à noite, ouvi estas palavras: Estás vendo a Minha misericórdia para com os pecadores que, neste momento, se manifesta com todo o seu poder. Repara como escreveste pouco sobre ela. Isso é apenas uma gota. Faz o que estiver ao teu alcance para que os pecadores conheçam a Minha bondade” (Diário, 1665)
A devoção de Jesus Misericordioso sofreu uma grande prova, como profetizou a Irmã Faustina.
“Virá o tempo em que essa obra, que Deus tanto recomenda, será como que totalmente destruída — e, depois disso, a ação de Deus se manifestará com grande força, dando testemunho da verdade.” (Diário, 378).
No ano de 1959, a Santa Sé proibiu a divulgação do culto de Jesus Misericordioso nas formas propostas pela Irmã Faustina.
A proibição terminou quando, na cidade de Cracóvia, Polônia, começou o processo de beatificação da Irmã Faustina. Naquela oportunidade foram examinados todos os escritos de Irmã Faustina e não se encontrou nenhum erro.
A Santa Sé, no ano de 1978, retirou a proibição e abriu o caminho para que um dia o Diário pudesse ser editado. Poucos meses depois, o cardeal de Cracóvia, Karol Wojtyła, foi escolhido como chefe da Igreja Católica do mundo adotando o nome de João Paulo II.
João Paulo II, tendo o auxílio dos escritos da Irmã Faustina, no dia 30 de novembro de 1980, publica a encíclica sobre a Misericórdia de Deus, chamada Dives in misericordia.
Somente no ano 1981 foi feita a primeira edição do Diário
Esta edição foi conjunta: das Irmãs de Nossa Senhora Mãe de Misericórdia e da Congregação dos Padres Marianos, dos Estados Unidos. Esta primeira edição serviu como modelo (edição típica) para que se fizessem no mundo inteiro outras versões linguísticas.
No Brasil, a primeira edição do Diário foi feita no ano de 1982, pela Congregação dos Padres Marianos e suscitou a ideia de fundar no Brasil o Apostolado da Divina Misericórdia. Hoje o Diário na sua versão brasileira está na sua 43ª edição, sem contar as várias reimpressões.
Publicação do Diário de Santa Faustina no Brasil ao longo dos anos. (1982-2020).
Texto escrito pelo Pe. André Lach, MIC