O Papa Francisco celebrou a Santa Missa desse domingo, dia 03, na República de Malta antes de concluir a sua 36ª Viagem Apostólica.

Na homilia, inspirada no episódio da mulher adúltera narrado no Evangelho de João, o Papa falou sobre perdão e misericórdia:

“Deus que sempre perdoa, continua a crer em nós e todas as vezes dá a possibilidade de recomeçar. Não há pecado ou fracasso que, levados a Ele, não possam tornar-se ocasião para começar uma vida nova, diferente, sob o signo da misericórdia.”

 

Na Praça dos Celeiros, em Floriana, falando para cerca de 20 mil fiéis e representantes de diversas religiões presentes na celebração, Francisco iniciou explicando que as pessoas procuram Jesus para escutá-lo, pois “sua doutrina não é abstrata, toca a vida e liberta-a, transforma-a, renova-a”, o que revela o “faro do povo de Deus”, “que não se contenta com o templo feito de pedras, mas reúne-se à volta da pessoa de Jesus”.

O Papa destacou que nesta narrativa, havia alguns ausentes: a mulher – uma pessoa perdida, extraviada procurando a felicidade por caminhos errados -, e seus acusadores, os escribas e fariseus, que “pensam que já sabem tudo, não precisam do ensinamento de Jesus”.

Traça da hipocrisia e o vício de apontar o dedo

Sob o manto da sua fama de homens religiosos, observadores da lei de Deus, pessoas regradas e justas, os acusadores da mulher adúltera – explica Francisco – parecem peritos de Deus aos olhos do povo, porém, não reconhecem Jesus; antes pelo contrário, veem-No como um inimigo que precisam eliminar. Pressionam para que a mulher seja apedrejada, derramando sobre ela a aversão que eles sentem pela compaixão de Jesus.

Esse fato, explica Francisco, mostra que mesmo na nossa religiosidade “se podem insinuar a traça da hipocrisia e o vício de apontar o dedo; e isto a todo o momento, em qualquer comunidade”. Há sempre o perigo de entender mal Jesus, ter o seu nome nos lábios, mas negá-Lo nas obras. E pode-se fazê-lo mesmo quando se levantam estandartes com a cruz.

 

A misericórdia é o coração de Deus

Francisco pergunta: “Então como saber se somos discípulos na escola do Mestre? “Pelo nosso olhar pelo modo como olhamos para o próximo”, que pode ser como o faz Jesus, com misericórdia, ou como os acusadores do Evangelho, de forma acusatória e com desprezo:

Na realidade, quem julga defender a fé apontando o dedo contra os outros, até pode possuir uma visão religiosa, mas não adota o espírito do Evangelho, porque esquece a misericórdia, que é o coração de Deus.

 

Pobreza interior, tesouro mais precioso do homem

Para compreender se somos verdadeiros discípulos do Mestre, “é preciso verificar também como olhamos para nós mesmos”.

Nos acusadores falta a pobreza interior, que é o tesouro mais precioso do homem. De fato, para Jesus o que conta é a abertura disponível de quem não se sente perfeito, mas necessitado de salvação.

 

Jesus busca a verdade do coração

Neste sentido, “quando estivermos em oração e mesmo quando tomarmos parte em belas cerimônias religiosas, será bom perguntarmo-nos se estamos sintonizados com o Senhor”, perguntando a Ele: «Jesus, estou aqui convosco, mas Vós que quereis de mim? Que quereis que mude no meu coração, na minha vida? Como quereis que veja os outros?».

Perguntas de grande valia, “porque o Mestre não Se satisfaz com a aparência, mas busca a verdade do coração. E quando Lhe abrimos de verdade o coração, Jesus pode operar maravilhas em nós.” E isso, acontece com a mulher adúltera, “sua situação parece irremediável, mas aos seus olhos abre-se um horizonte novo, inconcebível”.

A mulher “conheceu a misericórdia na sua miséria e volta curada pelo perdão de Jesus”, o que nos sugere, como Igreja, “que principiemos de novo a frequentar a escola do Evangelho, a escola do Deus da esperança que sempre nos surpreende”, pois se imitarmos Jesus, “não seremos levados a concentrar-nos na denúncia dos pecados, mas a sair amorosamente à procura dos pecadores”.

Disse o Papa, que este caso nos ensina:

“que qualquer advertência, se não for movida pela caridade e não contiver caridade, afunda ainda mais quem a recebe. Deus, pelo contrário, deixa sempre aberta uma possibilidade e sabe encontrar, todas as vezes, caminhos de libertação e salvação”.

A vida daquela mulher muda graças ao perdão. Apetece-me pensar que, perdoada por Jesus, ela por sua vez aprendeu a perdoar. Talvez passasse a ver os seus acusadores, já não como pessoas rígidas e perversas, mas como aqueles que lhe permitiram encontrar Jesus. O Senhor quer que também nós, seus discípulos, nós como Igreja, perdoados por Ele, nos tornemos testemunhas incansáveis de reconciliação: testemunhas dum Deus para o Qual não existe a palavra «irrecuperável»; dum Deus que sempre perdoa, continua a crer em nós e todas as vezes dá a possibilidade de recomeçar. Não há pecado ou fracasso que, levados a Ele, não possam tornar-se ocasião para começar uma vida nova, diferente, sob o signo da misericórdia.

 

 

Fonte: Vatican News