No dia 11 de dezembro de 1670, depois de receber a dispensa dos votos religiosos dos Escolápios, Santo Estanislau de Jesus e Maria proferiu a sua Oblatio, ato de entrega de si mesmo a Deus Pai, Filho e Espírito Santo e a Virgem Maria. Para nós, Padres Marianos, este gesto marca a data da fundação da nossa Congregação, que este ano de 2020 completa, segundo esta data, o jubileu de 350 anos de existência.

Quero refletir com os leitores sobre o sentido desta oblatio para o nosso Santo Fundador e para nós marianos.

 

Em nome de nosso Senhor, Jesus Cristo Crucificado. Amém.

  1. Eu, Estanislau de Jesus e Maria Papczyński… ofereço e consagro a Deus Pai Todo-Poderoso, e ao Filho, e ao Espírito Santo, bem como à Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria concebida sem a mácula original, o meu coração, a minha alma, a inteligência, a memória, a vontade, os sentimentos, toda a mente, todo o espírito, os sentidos interiores e exteriores, e o meu corpo, nada absolutamente deixando a mim mesmo, para que dessa forma seja a partir de agora servo do mesmo Todo-Poderoso e da Beata Virgem Maria.
  2. Prometo-Lhes, portanto, que até o final da minha vida servirei em castidade e com zelo nesta Sociedade dos Padres Marianos da Imaculada Conceição (que por graça divina quero fundar) e que adaptarei a minha forma de vida às suas leis, às suas constituições” e ritos, e que jamais farei ou permitirei, nem concordarei, mesmo que indiretamente, que eles sejam de alguma forma abolidos ou mudados, ou que deles seja concedida dispensa, a não ser por necessidade séria e de acordo com a lei.
  3. Prometo, além disso, a obediência prudentemente compreendida a Sua Santidade o Vigário de Jesus Cristo e à sua autoridade delegada, bem como a todos os meus superiores indiretos e diretos, e que não possuirei nada como propriedade privada, mas que tudo considerarei como propriedade comum.
  4. Confesso que creio em tudo em que crê a santa Igreja Romana e no que no futuro apresentar para a crença, e de maneira especial confesso que a Santíssima Mãe de Deus Maria foi concebida sem a mácula original, e prometo que difundirei a Sua honra e que a defenderei, mesmo que seja à custa da minha própria vida, para o que peço a ajuda de Deus e deste Seu Santo Evangelho.

Foto: Canonização de Santo Estanislau, Roma 2016

Como se pode ver claramente, a oblatio é um ato de consagração a Deus Pai, Filho e Espírito Santo e Maria Santíssima feita pelo Pe. Fundador. Temos imagens deste tipo consagração em muitas passagens da Bíblia Sagrada, como por exemplo, a vocação de Jeremias (Jr 1, 4-8.)

Na visão bíblica sobre a consagração, surge em primeiro plano a iniciativa de Deus, que escolhe o ser humano como alguém Dele, especialmente próximo e conhecido, que é escolhido pelo seu nome. Deus concede ao mesmo tempo todos os dons de que o escolhido necessita para cumprir a sua missão. A missão que o Senhor confia ao escolhido não é somente para ele mesmo, mas para o bem dos outros, em definitivo para a salvação dos outros.

Somente depois surge a resposta humana, primeiramente assinalada pelo temor, pela fraqueza, por vezes até consciência do pecado, e algumas vezes pela dificuldade na compreensão da lógica da escolha divina. A escolha manifesta a condição humana do escolhido, mas ao mesmo tempo o poder de Deus e o Seu amor, que só podem ser aceitos pela confiança em quem escolhe, ou seja, em Deus. Assim se molda o diálogo que acompanha a pessoa consagrada por toda a vida. Em princípio, trata-se da incessante continuação daquele mesmo diálogo da escolha por Deus e da resposta do ser humano que ocorreu já no início do caminho do escolhido − do consagrado.

É interessante perceber que essas dimensões da consagração estão nitidamente presentes na Consagração de Santo Estanislau. Ao analisar essa sua consagração mariana, cujo coroamento foi a profissão do ato de entrega, por nós chamado Oblatio e por nós traduzido em princípio como “entrega de si mesmo”.

Foto: iStock

Vemos assim que Oblatio é o ato do oferecimento de si mesmo a Deus como sacrifício, da forma como se oferece o pão e o vinho. Isto pode ser percebida  pelas expressões por ele especialmente escolhidas, aludindo ao Sacrifício da Santa Missa: “Ofereço e consagro a Deus Pai Todo-Poderoso, e ao Filho, e ao Espírito Santo, bem como à Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria concebida sem a mácula original, o meu coração, a minha alma, a inteligência, a memória, a vontade, os sentimentos, toda a mente, todo o espírito, os sentidos interiores e exteriores, e o meu corpo, nada absolutamente deixando a mim mesmo, para que dessa forma seja a partir de agora servo do mesmo Todo-Poderoso e da Beata Virgem Maria”.

Quanto nessas palavras de desvelo para não deixar fora nada de si mesmo, nada deixar a si mesmo, mas para tudo depositar no ato do oferecimento de si mesmo a Deus! Para ele, ao mesmo tempo, trata-se do ato da sua profissão religiosa pessoal, professado na Congregação dos Padres Marianos, que com esse ato já começou a fundar.

É interessante que esse ato da Oblatio tenha sido precedido de uma especial graça divina, que o nosso Fundador havia recebido ainda durante a permanência com os Escolápios. Não sabemos quando isso aconteceu e não conhecemos os detalhes da ação de Deus. Sabemos, no entanto, que o nosso Fundador recebeu uma inspiração especial, que chama “visão impressa pelo Espírito Divino em sua alma”, antes ainda de se afastar dos Escolápios, e que naquela visão se encontrava também a profissão da Oblatio.

Sabemos também que já tinha então, pronto e escrito, o texto da Oblatio. Sabemos que Deus o preparou para essa nova consagração num diálogo repleto de amor, que na vocação de fundador infundiu os dons a isso necessários e que a resposta da parte de S. Estanislau, foi o ato da Oblatio − a expressão exterior daquilo que espiritualmente estava nele amadurecendo havia algum tempo, no período final da permanência na Ordem dos Escolápios.

Dessa forma realizou-se o ato da nova consagração, que se tornou o seu caminho no tornar-se nosso Fundador. E para nós o início desta comunidade religiosa, da qual somos membros e Seus filhos espirituais.

 

Por Provincial do Padres Marianos, Padre Jair Batista, MIC.