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De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde o suicídio é a terceira causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos. A cada quarenta segundos uma pessoa morre no mundo por suicídio e a cada três segundos acontece uma tentativa.

Com a pandemia os riscos à saúde mental e a automutilação entre jovens aumentaram, e com ela vem a necessidade de combater o estigma e lançar luzes sobre o problema do suicídio.

O Padre Licio de Araujo Vale, autor do livro Mente suicida – Respostas aos porquês silenciados; e membro da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção ao Suicídio (ABEPS), traz informações importantes sobre a prevenção ao suicídio, bem como o papel da família e a missão dos sacerdotes.

Imagem: Vatican News

De acordo com o autor a vergonha e a ausência de informações dificultam a busca por apoio para depressão, estresse, ansiedade, entre outros transtornos, que comprometem o trabalho de prevenção ao suicídio.

Pais, professores, profissionais de saúde, que estão na linha de frente do atendimento, precisam saber identificar se a pessoa está sofrendo; e buscar respostas às perguntas, disponibilizar o máximo de informações sobre esse tema tão difícil.

 

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Ajuda familiar

O círculo afetivo de uma pessoa tem um papel fundamental. Por isso, antes de tudo, é preciso que familiares e pessoas mais próximas tenham uma atitude de escuta empática.

“Ouvir atentamente, entender os sentimentos da pessoa, expressar respeito por suas opiniões, não julgar e mostrar preocupação e cuidado são formas de promover uma conversa aberta, saudável e que proporcione um ambiente seguro. Mas não basta só conversar. É preciso, também, agir! Encorajar a busca por auxílio médico, indicar apoio emocional especializado, fortalecer a rede de apoio dessa pessoa e, principalmente, restringir acesso a métodos possíveis de suicídio são as principais formas de ação”, afirma o Padre.

A forma de se relacionar com uma pessoa em depressão pode ser o grande amparo de que necessita para enfrentar a doença. Além disso, é importante não esperar a doença piorar para pedir ajuda médica e de confiança.

Ajuda para encontrar o sentido da vida

“Eu penso que a primeira coisa que nós precisamos fazer é rezar pela pessoa, interceder a Deus por ela, para que ela não caia na tentação de uma tentativa. Então, primeira dica: intensificar a oração e intercessão pela pessoa. Segunda dica: estar próximo, o mais afetivamente possível.  Um cuidado maior deve-se ter com quem já tentou suicídio. Os estudos mostram que a pessoa que tentou suicídio, tem um risco maior de tentar novamente. Também estar próximo afetivamente e sempre motivar a pessoa a cuidar de si mesma e das suas dores da alma”.

“Nos casos em que se considera poder existir risco de uma nova tentativa de suicídio é importante nunca deixar a pessoa sozinha e sempre que possível acompanhar e ajudar no tratamento, levando e participando das sessões de psicoterapia e seguindo as orientações dadas pelo psicólogo”.

“Outra coisa importante, é também observar se a pessoa está tomando a medicação indicada de maneira correta, de acordo com tratamento planejado pelo psiquiatra, e nesses casos é importante se colocar à disposição e acompanhar a pessoa”, aconselha o Padre Lício.

 

Evitar o suicídio: missão dos sacerdotes

“O suicídio pode ser prevenido. Gosto sempre de lembrar que o conceito de prevenção é no sentido de minimizar os riscos. O primeiro passo é ficar atentos aos sinais de risco; a grande maioria das pessoas que atentam contra a própria vida dão sinais: sinais de falas (diretas), por exemplo: “eu quero morrer”, “Eu vou me matar”, “eu não aguento mais isso”, “Se eu morrer tudo melhora”. E também frases indiretas, tais como: “Eu estou pensando em fazer uma grande besteira”, “Se isso acontecer de novo, eu acabo com tudo”, acompanhadas de mudanças comportamentais. É importante ficar atentos às mudanças de comportamento tais como: comportamento retraído, isolamento, olhar distante e dificuldade de manter contato, queda no rendimento escolar, a pessoa começa a faltar no trabalho, mudança de humor, irritabilidade, pessimismo, apatia, mudanças na rotina de sono.  Então, é muito importante avaliar os riscos”.

Segundo passo: chamar a pessoa para conversar e ouvi-la com amor, com carinho, com afeto, sem julgar, sem condenar, sem despejar discursos religiosos, inclusive. Ser capaz de acolher a dor do outro. Nunca desqualificar a dor do outro com frases tipo: “Você está querendo se matar por causa disso?”, “Mas, você tem tudo”. Dor não se compara. Para nós que estamos de fora pode parecer uma bobagem, mas dói muito para quem sente aquela dor. Nunca comparar a dor: Você está querendo se matar por causa desse sofrimento, e às crianças que estão com câncer?”. Dor não se compara. Só sabe o tamanho e a intensidade da sua dor aquele que a sente.  O segundo passo importante na prevenção de suicídio é ser capaz de acolher a dor do outro”.

“O terceiro passo é não ficar indiferente ou paralisado, ou seja, buscar incentivar a pessoa a buscar ou mesmo conduzir, (uma pessoa sem esperança e muito fragilizada, como quem tem depressão, por exemplo, não tem a iniciativa própria de buscar ajuda), até um serviço de saúde mental como o CAPS, por exemplo, ou um profissional de saúde mental, como psicólogo e/ou psiquiatra. A direção espiritual feita por um sacerdote também pode ser grande valia. Muitas vezes as pessoas estão tão mal que não conseguem buscar ajuda”, conclui padre Lício.

 

Fonte: Entrevista concedida à Vatican News