Neste domingo, celebramos a solenidade da Santíssima Trindade, mistério central da fé e da vida cristã. A Santíssima Trindade nos identifica como cristãos. Somos os únicos crentes que adoram um Deus em três pessoas. Nosso Deus, não é solitário, pelo contrário, é solidário, é família, é comunidade.
Desde que fomos batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, a Santíssima Trindade passou a ocupar o primeiro lugar em nossas vidas e ações. Não se concebe um cristão que não inicie ou não termine o seu dia sem fazer o sinal da cruz, invocando a Santíssima Trindade. Ao iniciar e ao encerrar qualquer oração, pública ou particular, as pessoas invocam a Santíssima Trindade. Muita gente também inicia e termina um trabalho sob o olhar de Deus Uno e Trino.
Embora seja tão invocada, nem sempre os cristãos têm consciência do que de fato é a Santíssima Trindade. Esta constatação perdura desde os tempos de Santo Agostinho que em sua obra “As Confissões” exclama: “Quem poderá compreender a Trindade onipotente? E quem não fala dela, ainda que não a compreenda? É rara a pessoa que, ao falar da Santíssima Trindade, saiba o que diz. Discute-se, debate-se, mas ninguém é capaz de contemplar esta visão, sem paz interior”.
O mistério da Santíssima Trindade
Segundo o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, o mistério da Santíssima Trindade constitui um mistério inacessível à pura razão humana. Este mistério foi revelado por Jesus Cristo e é a fonte de todos os outros mistérios da fé cristã (CCIC 45).
A doutrina da Santíssima Trindade foi explicitada no decurso dos primeiros séculos e finalmente definida no Concílio de Nicéia (325 d.C.), onde ficou esclarecida a divindade de Jesus Cristo; e no Concílio de Constantinopla (381 d.C.), quando se defendeu a divindade do Espírito Santo. O objetivo da Igreja com estas definições foi aprofundar a própria fé e, ao mesmo, defendê-la de três erros que então eram propagados: o modalismo, o subordinacionismo e o triteísmo.
O modalismo consistiu na opinião de alguns teólogos (Noeto e Praxéias, no século II e Sabélio, no século III) que reduziam as três Pessoas da Santíssima Trindade a simples modo de expressão do único e mesmo Deus.
O subordinacionismo foi defendido pelo bispo Paulo de Samósata e pelo padre Ario de Alexandria. Eles ensinavam que o Pai é o único Deus, enquanto que o Filho e o Espírito Santo são criaturas subordinadas ao Pai.
O triteísmo ensina que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três substâncias independentes e autônomas. Afirma, portanto, que a Trindade, na verdade, são três deuses.
No Ocidente, Tertuliano, que viveu no século II, foi o primeiro a usar a palavra “Trindade” para se referir a Deus em três Pessoas. No Oriente, esta tarefa coube a Teófilo de Antioquia que também viveu no século II.
Leonardo Boff, em seu estudo, lembra que a Santíssima Trindade deve ser considerada a partir de sua dimensão mistérica e de sua dimensão sacramental. Com relação à dimensão mistérica, a melhor atitude é o silêncio e a adoração. Diante da dimensão sacramental cabe a celebração e o esforço para assumir o que ela significa para nossa vida de fé.
O que o Papa Francisco ensina sobre a Santíssima Trindade
Neste último sentido, nosso Papa Francisco tem feito pregações muito apropriadas. Em 2018, na hora do Ângelus emitiu esta mensagem:
“Hoje, domingo depois de Pentecostes, celebramos a Solenidade da Santíssima Trindade. Uma solenidade para contemplar e louvar o mistério do Deus de Jesus Cristo, que é um na comunhão de três Pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Para celebrar com sempre novo espanto Deus-Amor, que nos oferece sua vida de graça e nos pede para espalhá-lo no mundo. (…).
Portanto, a Solenidade da Santíssima Trindade nos faz contemplar o mistério de Deus que incessantemente cria, redime e santifica, sempre com amor e por amor e a toda criatura que o acolhe, dá a oportunidade de refletir um raio de sua beleza, bondade e verdade”.
Em 20017, também na hora do Ângelus, na mesma Solenidade da Santíssima Trindade a mensagem foi a seguinte:
“Deus é uma “família” de três Pessoas que se amam tanto a ponto de formar uma só. Esta “família divina” não está fechada em si mesma, mas está aberta, comunica-se na criação e na história. Entrou no mundo dos homens para chamar todos a fazer parte dela. O horizonte trinitário de comunhão envolve-nos todos e estimula-nos a viver no amor e na partilha fraterna, na certeza de que onde há amor, há Deus”.
Dom Manoel João Francisco
Bispo de Cornélio Procópio (PR)