Deus, sempre bondoso com seus filhos, preparou-os um caminho de felicidade que impulsiona para além de si. Assim, estes realizam-se consigo mesmos e realiza-se a comunidade de fiéis ao seu redor, tecendo uma teia de relações saudáveis, onde um é motivo de edificação para o outro.

Esta é a beleza da comunidade cristã que não se entregou ao igualitarismo genérico, tendo maturidade para construir um único edifício com pedras diversas: “Há diversidade de dons, mas um só Espírito. Os ministérios são diversos, mas um só é o Senhor. Há também diversas operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos.” (I Cor 12, 4-6).

O nome que damos a este caminho é vocação. A Vocação é especificamente o chamado a um estado de vida; basicamente três: leiga, consagrada e clerical. Os trabalhos que cada um desempenha na sociedade são chamados na abordagem clássica por “dons” ou “graças de estado” e não constituem necessariamente meu chamado essencial.

A vocação leiga é aquela que comporta a maior parte dos fiéis e tem como missão “procurar o reino de Deus exercendo funções temporais”. Abrange todos os fiéis, exceto o clero. Dentro da vocação leiga é que temos a vocação matrimonial que celebra o amor por meio de uma união definitiva (via unitiva) e gera filhos, educa-os na fé e nos bons costumes (via procriativa).

A vocação consagrada é formada pelos fiéis que pertencem a comunidades religiosas, institutos seculares e sociedade de vida apostólica. São aqueles que tem como missão buscar a santidade por meio da profissão dos conselhos evangélicos, das constituições e modelos de vida segundo um carisma. Aqui se encontram Religiosos(as), freis e freiras, irmãos(as), monges(as), e também aqueles que, embora não professem os três votos religiosos, consagram suas vidas a partir de uma regra em busca da perfeição da caridade.

A vocação clerical consiste numa pequena parte, exclusivamente masculina, que recebem as ordens sacras: diaconado (diáconos), presbiterado (padres) e episcopado (bispos). Estes recebem a missão de servir, pastorear e santificar o povo de Deus por meio da celebração dos santos mistérios. Estes condizem e cuidam do rebanho em nome de Cristo, assim como, garantem a presença sacramental de Deus no mundo.

Como disse anteriormente, a vocação é um caminho de realização pessoal e comunitária. Como a vocação carrega tão grande fim, é de suma importância estabelecer critérios para o discernimento vocacional.

Primeiro

Se a vocação é caminho de realização, o primeiro sinal de ter encontrado a sua vocação é o estado de felicidade, ou seja, quando se tem a firme convicção de que este é o melhor lugar possível, ou seja, é frutuoso para a minha salvação.  Isso não entra em contradição com estados emocionais ou físicos, apesar de os ponderar.

Segundo

Nenhuma vocação pode ser definida individualmente. Ela deve ser discernida com a ajuda de uma pessoa competente que garanta uma maior clareza na escolha, seja um confessor, diretor espiritual, ou até uma pessoa de extrema confiança. Além de ser uma escolha majoritariamente minha, precisa ser também uma escolha da Igreja e nela deve frutificar.

Terceiro

A vocação deve ser o caminho menos egoísta possível. Este exige uma maturidade muito grande. É um eco do “não seja feita a minha vontade, mas a Tua” (Lc 22,42). Significa escolher um caminho que me ajude a servir e não que o caminho me sirva. Isso previne de não deixar que ganhos secundários se tornem o nosso foco.

Por último, e mais importante, é a escuta do Espírito Santo

Só Ele garante uma escolha certa, da mesma forma que Ele é quem a sustentará durante toda a vida. Ter abertura de coração e sinceridade diante de Deus faz com que Sua luz amplie nosso ser, direcionando-nos e preparando-nos. Por fim, o que resta é a pergunta: “O que queres de mim Senhor?”. Onde ouvirmos mais alta a voz de Cristo, que nos convida, este é nosso lugar.

Neste tempo de relações frágeis e egoístas, somos bombardeados de falsos incentivos. Mas é preciso ter coragem e dizer um sim a Deus, até porque Seu chamado é um chamado à felicidade e não uma simples ordem imposta. A vocação deve ser acolhida como um presente de Deus. Disse o Papa Francisco: “Então, gostaria de vos dizer que não tenhais medo de dar passos definitivos: não tenhais medo de os dar.”

Que Deus nos de a graça de responder fielmente ao nosso chamado!

João Marcos Esser
Revista Divina Misericórdia – Ed. 41