José deu crédito à Palavra revelada. Confiou.
Humilhou-se. Deu ouvido Àquele que é a Verdade

De que maneira São José, aquele que não foi concebido sem a mancha do pecado original — sujeito, portanto, à “concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida” (1 Jo 2,16) — alcançou a “santidade perfeita” (1Ts 5,23), “sem a qual ninguém pode ver o Senhor” (Hb 12,14)? A resposta é clara e inequívoca: pela fé.

O esposo de Maria viveu até as últimas consequências a verdade que o Magistério da Igreja ensina como via da perfeição cristã: “Obedecer (“ob-audire”) na fé significa submeter-se livremente à palavra ouvida, visto que sua verdade é garantida por Deus, a própria verdade” (Catecismo da Igreja Católica — 144).

Ninguém se iluda. Aquele que ensinou Jesus a orar, decidiu obedecer à voz de Deus quando terríveis dúvidas flagelavam sua alma e maus espíritos fustigavam seu espírito. Trocando em miúdos, embora atormentado por colossais forças opostas que se digladiavam na arena do seu coração, José deu crédito à Palavra revelada. Confiou. Humilhou-se. Deu ouvido Àquele que é a Verdade. Aderiu ao plano do Céu. Sem reservas, sujeitou sua liberdade à vontade do Altíssimo. Sem delongas, submeteu sua inteligência à Palavra ouvida: “Não temas receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo” (Mt 1,20).

Fé. Este é o segredo de José. Ao contrário dos demônios, que pecaram pela desobediência e arrastam as almas incrédulas para o fogo do inferno, por sua obediência, José tornou-se o terror dos demônios. Santa Faustina afirma que “O demônio pode ocultar-se até sob o manto da humildade, mas não sabe vestir o manto da obediência, e aí se manifesta todo o seu trabalho” (Diário, 939)¹. Com extrema gravidade, a Igreja nos exorta: “O homem, tentado pelo Diabo, deixou morrer em seu coração a confiança em seu Criador e, abusando de sua liberdade, desobedeceu ao mandamento de Deus. Foi nisso que consistiu o primeiro pecado do homem. Todo pecado, daí em diante, será uma desobediência a Deus e uma falta de confiança em sua bondade” (CIC 397).

Contrariando a lógica humana, o humilde carpinteiro de Nazaré nos ensina e convida a praticar aquilo que os orgulhosos homens de hoje, refratários à voz do Espírito Santo, recusam fazer: Sujeitar-se humildemente à Majestade infinita do Senhor Deus. “O motivo de crer não é o fato de as verdades reveladas aparecerem como verdadeiras e inteligíveis à luz de nossa razão natural. Cremos por causa da autoridade de Deus que revela e que não pode nem enganar-se nem enganar-nos” (CIC – 156), prega a Igreja.

Se José, um miserável filho de Adão, nascido igual a cada um de nós, conseguiu, então, todos nós, os degredados filhos de Eva, também podemos alcançar a santidade perfeita. A infinita misericórdia de Deus existe justamente para santificar todos os pecadores arrependidos que, pela fé, creem que “a Deus nenhuma coisa é impossível” (Lc 1,37). Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quando Lázaro, no túmulo, já cheirava mal, Jesus garante a Marta: “Se creres, verás a glória de Deus” (Jo 11,40).

A Santa Faustina, e a cada um de nós, Jesus revela: “Escreve, fala da Minha misericórdia. Diz às almas onde devem procurar consolos, isto é, no tribunal da misericórdia, onde continuo a realizar os Meus maiores prodígios, que se repetem sem cessar. Para obtê-los, não é necessário empreender longas peregrinações, nem realizar solenes ritos exteriores, mas basta aproximar-se com fé dos pés do Meu representante e confessar-lhe a própria miséria; o milagre da misericórdia divina se manifestará em toda a plenitude. Ainda que a alma esteja em decomposição como um cadáver, e ainda que humanamente já não haja possibilidade de restauração, e tudo já esteja perdido — Deus não vê as coisas dessa maneira; um milagre da misericórdia divina fará ressurgir aquela alma para uma vida plena. Ó infelizes, que não aproveitais esse milagre da misericórdia de Deus! Chamareis em vão, pois já será tarde demais” (Diário, 1448).

 

Nota: 1. Diário – A Misericórdia Divina na minha alma, Editora Apostolado da Divina Misericórdia, 2017.

Celso Deretti para a Revista Divina Misericórdia