Ajuda aos defuntos e moribundos

A união dos que peregrinam neste mundo com os irmãos que descansaram na paz de Cristo, de modo nenhum se interrompe, pelo contrário, é fortalecida, pela comunicação dos bens espirituais, segundo a fé da Igreja primitiva. Assim, a nossa congregação, seguindo a fé perene na Igreja na comunhão dos santos no Corpo Místico de Cristo, desde seu berço, com muita piedade cultiva dos defuntos a memória e lhes oferecem sufrágios. Procurem os membros, portanto, ajudar com orações e sufrágios as almas dos fiéis defuntos, que estão detidas no purgatório pelas penas expiatórias, principalmente pelos sacrifícios da Santa Missa, pelas indulgências e mortificações, oferecendo também por elas as obras de zelo e outras suas boas obras, pois “é um santo e salutar pensamento rezar pelos mortos, para que sejam livres dos seus pecados” (2 Mac 12, 46). Igualmente não descuidem de socorrer aqueles que se encontram em grave perigo de morte. (Constituições e Diretório, 19)


Papczynski_AlmasOração pelos falecidos:
expressão genuína da fé, esperança e caridade cristãs

A nossa fé em Jesus Cristo Ressuscitado ressuscita-nos para “uma esperança viva, para uma herança incorruptível” que nos está reservada nos Céus (cf. 1Pe 1,3-4). O Espírito Santo ilumina os olhos do nosso coração (cf. Ef 1,18; 1Cor 2,20) e faz-nos compreender que “tesouros de glória” encerra a nossa herança entre os santos (Ef 1,18), “o Deus preparou para aqueles que O amam” (1Cor 2,9).

Nós acreditamos que “os que morrem na graça e amizade de Deus perfeitamente purificados, vivem para sempre com Cristo” (Catecismo da Igreja Católica – CIC – 1023). O Céu, que é a plena comunhão de vida e de amor com o Pai, o Filho e o Espírito Santo, com a Virgem Maria, com todos os santos e anjos, “é o fim último e a realização das aspirações mais profundas do homem, o estado de felicidade suprema e definitiva (CIC, 1024).

Acreditamos também que “os que morrem na graça e amizade de Deus, mas não de todo purificados, embora seguros da sua salvação eterna, sofrem depois da morte uma purificação, a fim de obterem a santidade necessária para entrar na alegria do Céu” (CIC, 1030). “Todo pecado, mesmo venial, traz consigo um apego desordenado às criaturas, o qual tem de ser purificado, quer nesta vida quer depois da morte” (CIC, 1472). “A Igreja chama purgatório a esta purificação final dos eleitos” (CIC, 1031).

O que é o purgatório? É “um atraso”, imposto pelos nossos pecados, “um atraso antes do braço de Deus, uma queimadura de amor que faz sofrer terrivelmente, uma nostalgia de amor. É precisamente uma nostalgia de amor que nos lava do que ainda é impuro em nós. O purgatório é um lugar do desejo, do desejo louco de Deus, do Deus que já conhecemos, porque já o vimos, mas ao qual não estamos ainda unidos”[1].

A doutrina da fé sobre o purgatório foi definida pela Igreja nos Concílios de Florença, em 439, e de Trento, em 1563. O Concílio Vaticano II, ao falar sobre a comunhão dos santos – dos que peregrinam nesta terra, dos que são purificados depois desta vida e dos que são glorificados – afirma: “Reconhecendo claramente esta comunicação de todo o Corpo Místico de Cristo, a Igreja dos que ainda peregrinam, cultivou com muita piedade, desde os primeiros tempos do Cristianismo, a memória dos defuntos e, ‘porque é coisa santa e salutar rezar pelos mortos, para que sejam absolvidos de seus pecados’ (2 Mc 12,16), por eles ofereceu também sufrágios” (Lumen Gentium, 50). Os sufrágios que a Igreja oferece em favor dos falecidos, para que sejam purificados dos seus pecados e cheguem à visão beatífica, são a esmola, as indulgências, a oração, as obras de penitência e, sobretudo, o sacrifício eucarístico.

Nesta comunhão dos santos que existe entre os que se purificam depois desta vida e os que ainda peregrinam nesta terra, há uma recíproca permuta de bens espirituais. “A nossa oração por eles, diz o Catecismo da Igreja Católica, pode não só ajudá-los, mas também tornar mais eficaz a sua oração em nosso favor” (CIC, 958).

No calendário litúrgico da Igreja há uma data em que especialmente dedicamos a santa Missa em favor dos falecidos – dia 2 de novembro – seguido de uma oitava de orações. A Igreja, reza diariamente pelos falecidos: a oração pelos falecidos faz parte de uma das preces da oração Eucarística; na Liturgia das Horas, a última prece de vésperas é sempre pelos falecidos; o Angelus termina, habitualmente, com uma oração pelos falecidos; na novena à Divina Misericórdia, segundo as revelações de Jesus à Santa Faustina Kowalska, o oitavo dia é dedicado às almas do purgatório. Eis as palavras de Jesus: “Hoje, traze-Me as almas que se encontram na prisão do purgatório e mergulha-as no abismo da Minha misericórdia. Que as torrentes do Meu Sangue refresquem o seu ardor. Todas estas almas são muito amadas por Mim. Elas pagam as dívidas à Minha justiça. Está em teu alcance trazer-lhes alívio. Tira do tesouro da Minha Igreja todas as indulgências e oferece-as por elas. Oh! se conhecesses o seu tormento, incessantemente oferecerias por elas a esmola do espírito e pagarias as suas dívidas à Minha justiça” (Diário, 1226). Nestas palavras o purgatório é apresentado como “prisão” e “lugar de tormento”. Todas essas almas são muito queridas por Jesus. Estas palavras são um convite a oferecermos por elas a “esmola do espírito”, particularmente as indulgências.

Em 1998 celebrou-se o milênio da comemoração dos Fiéis Defuntos, instituído por Santo Odilon, o centenário da Arquiconfraria de Nossa Senhora de Cluny, encarregada de orar pelas almas do purgatório, bem como o 40° aniversário do Boletim Lumière et vie, que promove a oração pelos finados. Por ocasião destas celebrações, João Paulo II enviou uma mensagem ao Bispo de Antum e Abade de Cluny. Destaco algumas passagens desta mensagens:

“Unida aos méritos dos santos, a nossa oração fraterna vai em socorro daqueles que estão à espera da visão beatífica. Tanto a intercessão pelos mortos como a vida dos vivos segundo os mandamentos divinos obtém méritos, que servem a plena realização da salvação. É uma expressão da caridade fraterna da única família de Deus, pela qual ‘correspondemos à íntima vocação da Igreja’ (LG, 51): ‘salvar almas que amarão a Deus eternamente’ (Sant Teresa de Lisieux, oraçõe, 6). Para as almas do purgatório, a espera da felicidade eterna, do encontro com o amado, é fonte de sofrimento por causa da pena devida ao pecado, que mantém longe de Deus. Mas há também a certeza de que, terminado o tempo de purificação, a alma irá ao encontro daquele que ela deseja (cf. Sl 42 e 62).

As orações de intercessão e de súplica, que a Igreja não cessa de dirigir a Deus, têm um valor enorme. Elas são ‘próprias de um coração conforme com a Misericórdia de Deus’ (CIC, 2635). O Senhor deixa-se sempre tocar pelas súplicas dos seus filhos, pois é o Deus dos vivos. Durante a Eucaristia, mediante a oração universal e o memento pelos defuntos, a comunidade reunida apresenta ao Pai de todas as misericórdias aqueles que morreram, a fim de que, pela prova do purgatório, se esta lhes for necessária, a fim de que, pela prova do purgatório, se esta lhes for necessária, sejam purificados e cheguem à felicidade eterna. Ao confirma-los aos Senhor, reconhecemo-nos solidários com eles e participamos na sua salvação, neste admirável mistério da comunhão dos santos (…). Com efeito, a própria santidade já vivida, que deriva da participação na vida de santidade da Igreja, representa o primeiro e fundamental contributo para a edificação da Igreja, como ‘comunhão dos santos'” (Christifideles Laici, 17).

Destas palavras do Santo Padre e à luz da doutrina sobre a comunhão dos santos, a melhor oração pelos falecidos é viver santamente. “Encorajo, pois, os católicos, diz-nos o Santo Padre, a orarem com fervor pelos defuntos, por aqueles das suas famílias e por todos os nossos irmãos que morreram, a fim de obterem a remissão das penas devidas aos seus pecados e ouvirem o apelo do Senhor: ‘Vem, ó minha alma querida, ao repouso eterno entre os braços da minha bondade, que te preparou as delícias eternas’ (São Francisco de Sales, Introdução à vida devota, 17, 4)”[2].

Como religioso da Congregação dos Marianos, não posso deixar de referir que faz parte do carisma da nossa Congregação, já desde 1673, o auxílio a prestar aos irmãos falecidos. A nossa Congregação, diz o número 19 das Constituições, “tem cultivado desde as suas origens, como grande piedade, a memória dos falecidos, e tem oferecido sufrágio por eles. Por isso, os irmãos empenhar-se-ão em ajudar, com oração e sufrágios, os fiéis falecidos em purificação, depois desta vida, oferecendo sobretudo o sacrifício da Santa Missa, as indulgências, as mortificações, bem como as obras de zelo e outras suas boas obras, pois ‘é um santo e salutar pensamento orar pelos falecidos, para que sejam livres dos seus pecados’ (Mc 12,46)”.

Em todas as paróquias brasileiras onde trabalham os Padres Marianos, se isso é possível, em todas as segundas-feiras do ano são feitas orações especiais pelos falecidos e pelas almas do purgatório. Também nas paróquias onde se reza a novena perpétua à Divina misericórdia, no sexto dia da novena são lembrados os falecidos e almas do purgatório. Outras orações especiais são feitas na oitava do dia dos finados. Se você está preocupado com a salvação dos seus entes queridos, junte-se a nós nessas orações das segundas-feiras, sextas-feiras, no Dia de Finados e nos dias da oitava de finados.

Pe. Basileu dos Anjos Pires, MIC[3]

[1] EMMANUEL, MARIA IR. – O impressionante segredo das almas do purgatório. Editora e depositária: Cidade do Imaculado Coração de Maria, Fátima, 2002 (9ª edição), pg. 16.

[2] In L’Osservatore Romano, 19 de setembro de 1998, pag. 2.

[3] Este artigo é parte do artigo Orar pelos vivos e falecidos, publicado no livro Obras de Misericórdia – IV e V Semanas de Espiritualidade sobre a misericórdia de Deus. Fátima-Portugal, 2003.