O Diário de Santa Faustina é uma obra da mística católica muito conhecida hoje na Igreja.
Traduzido para vários idiomas no mundo, leva a mensagem de Jesus Misericordioso a todos e é um sinal visível da ação salvadora de Deus no mundo contemporâneo.
Árabe China Coreano Francês Húngaro Indonésio
“Devo anotar os encontros de minha alma Convosco, ó Deus, nos momentos de Vossas especiais visitas. Devo escrever sobre Vós, ó inconcebível em misericórdia para com a minha pobre alma. A Vossa santa vontade é a vida da minha alma. Recebi esta ordem de quem Vos representa aqui na terra, ó Deus, e ele me esclarece sobre a Vossa santa vontade. Jesus, bem vedes como me é difícil escrever e como sou incapaz de descrever com clareza o que experimento na minha alma. Ó Deus, poderá a pena descrever aquilo que muitas vezes não há nem mesmo palavras? Mas sois Vós, ó Deus, quem mandais que escreva e isso me basta” (Diário, 6).
E o que é mais interessante, surgiu de uma maneira muito simples. Permita-me contar esta história.
No dia 17 de janeiro de 1933, Padre Michał (Miguel) Sopoćko foi nomeado para ser confessor da Congregação das Irmãs de Nossa Senhora da Misericórdia na cidade de Wilno (Vilnius), na Lituânia.
O primeiro encontro entre Irmã Faustina e seu confessor aconteceu provavelmente no decorrer de uma semana após a vinda de Irmã Faustina a Wilno, ou seja, no final de maio ou no começo de junho de 1933. Esse encontro, em Wilno, da simples religiosa mística e do professor de teologia foi decisivo na história do desenvolvimento da devoção à Divina Misericórdia.
Irmã Faustina anotou em seu Diário:
“Veio a semana da confissão e, para a minha alegria, vi aquele sacerdote que já conhecia antes de vir a Wilno. Conhecia-o da visão. Então, ouvi na alma estas palavras: Eis o Meu servo fiel, ele te ajudará a cumprir a Minha vontade aqui na terra. Então não me dei a conhecer logo a ele. Como o Senhor desejava. E por algum tempo, lutei com a graça. Em cada confissão a graça de Deus invadia-me de maneira estranha, todavia não desvendava minha alma diante dele, e até pretendia não me confessar com esse sacerdote. Depois desta decisão, uma terrível ansiedade se apoderou de minha alma. Deus me censurava fortemente. Quando abri toda a minha alma a esse sacerdote, Jesus derramou na minha alma todo mar de graças. Agora compreendo o que é a fidelidade a uma graça particular e como ela atrai toda uma série de outras”. (D. 263)
Como experiente confessor e teólogo, Padre Sopoćko reagiu com cuidado às palavras da religiosa a respeito de que, segundo o prognóstico de Jesus, ele deveria ajudar-lhe na divulgação da mensagem sobre a Divina Misericórdia. Não há por que se espantar com isso. Certamente em sua vida sacerdotal já tinha encontrado pessoas que lhe falaram de pretensas visões. “Menosprezei esse relato dela e a submeti a uma prova, a qual fez com que, com a permissão da superiora, Irmã Faustina começasse a procurar um outro confessor. Algum tempo depois voltou a mim e declarou que suportaria tudo, mas de mim já não se afastaria” – recordava o sacerdote. Para ter mais certeza sobre a Irmã Faustina e para não cair na ilusão, alucinação ou na fantasia, o Padre Sopoćko pediu à superiora do convento de Wilno, a madre Irena Krzyżanowska, primeiramente, opinião a respeito dela e, depois, um exame de sua saúde psíquica e física. Os exames constataram a boa saúde da Irmã Faustina, sem sintomas neuropáticos, nem quaisquer desvios psíquicos.
Desde que a Irmã Faustina começou a contar ao sacerdote o que estava acontecendo em sua alma, as confissões dela tornaram-se longas, suscitando comentários maldosos das Irmãs, por isso Faustina procurava confessar-se por última. Mas essa atitude não melhorou muito a situação. O próprio Padre Sopoćko também ficava sem muito tempo para ouvir as longas confidencias da Irmã Faustina no confessionário, por isso recomendou à Faustina que ela registrasse tudo em um caderno e de vez em quando entregasse para que ele pudesse examinar. Mas parece que a falta do tempo não foi o único motivo dessa ordem. O Padre Sopoćko podia agora analisar as visões descritas pela Irmã Faustina tranquilamente e com calma, sem pressa, ocasionada pela fila da confissão. Independente dos motivos, graças à atitude do Padre Sopoćko, surgiu um extraordinário documento: Diário das vivências espirituais e místicas da Irmã Faustina.
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O Diário não surgiu com facilidade. Em primeiro lugar, a Irmã Faustina não era instruída – ela tinha concluído apenas três séries da escola fundamental. Em segundo lugar, as condições para escrever eram limitadas, estava ocupada com o trabalho na horta, para escrever tinha somente os momentos livres, tendo para isso que se ocultar diante das Irmãs.
A própria Irmã Faustina assim comenta este fato:
“Meu Jesus, Vós vedes que, além de não saber escrever, ainda não tenho uma boa caneta e, algumas vezes, realmente tenho tanta dificuldade em escrever que tenho que juntar letras para formar frases. E isso não é tudo – pois, junto das irmãs, ainda tenho a dificuldade de anotar estas coisas em segredo. Muitas vezes tenho que fechar o caderno a cada instante para ouvir pacientemente o que essa pessoa tem para me dizer, enquanto o tempo que eu tenho para escrever vai passando. Fechando de repente o caderno – faço borrões. Estou escrevendo com a autorização das superioras e por ordem do confessor. No entanto, é uma coisa estranha que algumas vezes consiga escrever mais ou menos bem, mas outras vezes – eu mesma não consigo ler o que escrevi”. (D. 839).
E anotou em outro lugar:
“Neste momento quando peguei a caneta na mão, rezei brevemente ao Espírito Santo e disse: Jesus abençoai esta caneta, para que tudo que me mandais escrever seja para a glória de Deus. Então ouvi a voz: Sim, abençoo, porque nessa escrita está o selo da obediência à superiora e ao confessor e por isso mesmo já Me dás glória, e muitas almas tirarão proveito para si. Minha filha, quero que dediques todos os momentos livres a escrever sobre a Minha bondade e misericórdia; é teu dever e tua missão em toda a tua vida dar a conhecer às almas a grande misericórdia que tenho para com elas, e animá-las à confiança no abismo da minha misericórdia” (D. 1567)
A principal “fábula” do Diário não são os acontecimentos exteriores, relativamente fáceis de escrever, mas a essência do Deus misericordioso conhecida nas vivências místicas e as regras de sua atuação no mundo, bem como a Sua participação direta na contemporânea história da salvação de Faustina.
É incomum não apenas o conteúdo do Diário, mas também a sua forma. Embora não fosse instruída e cometesse erros ortográficos, a autora escrevia com uma caligrafia muito bonita e uniforme. E, o mais importante, no texto não há nada riscado, modificado. Isto não deixa margem à dúvida de que o que ela transmitia – e, além disso, em condições desfavoráveis – fluía diretamente da alma, por inspiração do próprio Deus. “Muitos teólogos, com longos anos de estudos, não seriam capazes de solucionar, mesmo por aproximação, essas dificuldades teológicas com a correção e a facilidade com que o fazia Irmã Faustina” – observa o Padre Sopoćko.
Inicialmente Faustina escrevia em fichas, e depois num caderno que a pedido do confessor lhe comprou a superiora do convento. Ela preencheu seis cadernos – Diário – que guardava em sua cela. Começou a escrever no ano de 1933 e terminou no ano de 1938. Um ano depois do início das suas anotações (1934), quando na primavera o Padre Sopoćko viajou para a Terra Santa aconteceu uma coisa estranha. Irmã Faustina, influenciada pelo conselho de um pretenso anjo, que mostrou ser o demônio, queimou o Diário. Depois da volta do Padre Sopoćko, novamente obedecendo a sua ordem começou a escrever novamente o Diário.
O demônio várias vezes incomodava Irmã Faustina para que deixasse de escrever o Diário, mas ela sempre escrevia vitoriosa.
“No momento em que estava escrevendo estas palavras ouvi o grito de Satanás: Ela escreve tudo, escreve tudo, e por isso nós perdemos tanto! Não escrevas sobre a bondade de Deus. Ele é justo – E, uivando furioso desapareceu” (D. 1338).
O Diário nasceu no meio de vários desafios e lutas e hoje é uma grande riqueza da nossa igreja e a resposta de Deus para os tempos de hoje. Quando a Irmã Faustina esgotada pelos sofrimentos e lutas pensava que já havia feito de tudo, ouvia esta voz de Deus:
“Durante a Hora Santa, à noite, ouvi estas palavras: Estás vendo a Minha Misericórdia para com os pecadores, que neste momento se manifesta com todo seu poder. Repara como escreveste pouco sobre ela; isso é apenas uma gota. Faz o que estiver ao teu alcance para que os pecadores conheçam a Minha bondade. (D. 1665)
Deus chama a Irmã Faustina de Apóstola e Secretária da sua Misericórdia:
“(…) Apóstola da Minha Misericórdia, proclama ao mundo toda esta Minha insondável misericórdia. Não desanimes com as dificuldades que encontrarás na divulgação da Minha misericórdia. Essas dificuldades, que tão dolorosamente te atingem, são necessárias para a tua santificação e para comprovar que essa obra é Minha. Minha filha, sê diligente em anotar cada sentença que te digo sobre a Minha misericórdia, porque se destinam a um grande número de almas, que delas tirarão proveito” (D. 1142).
“Hoje num diálogo mais prolongado o Senhor me disse: Como desejo a salvação das almas! Minha caríssima secretária, escreve que desejo derramar a Minha Vida Divina mas almas dos homens e santificá-los, desde que queiram aceitar a Minha graça. Os maiores pecadores atingiriam uma grande santidade, desde que tivessem confiança na Minha misericórdia. As Minhas entranhas estão repletas de misericórdia, que está derramada sobre tudo o que criei. O Meu prazer é agir na alma humana, enchê-la da Minha misericórdia e justificá-la. O Meu reino está sobre a terra – a Minha vida, na alma humana. Escreve, Minha secretária, que o guia das almas sou diretamente Eu – e, indiretamente, as guio pelo sacerdote e conduzo cada uma à santidade por um caminho somente por mim conhecido”. (D. 1784)
A devoção de Jesus Misericordioso sofreu uma grande prova, como profetizou a Irmã Faustina.
“(…) Virá o tempo em que esta obra, que Deus tanto recomenda, será como que totalmente destruída – e, depois disso, a ação de Deus se manifestará com grande força, dando testemunho da verdade” (D. 378).
No ano de 1959, a Santa Sé proibiu a divulgação do culto de Jesus Misericordioso nas formas propostas pela Irmã Faustina.
A proibição terminou quando, na cidade de Cracóvia, Polônia, começou o processo de beatificação da Irmã Faustina. Naquela oportunidade foram examinados todos os escritos de Irmã Faustina e não se encontrou nenhum erro. A Santa Sé, no ano de 1978, retirou a proibição e abriu o caminho para que um dia o Diário pudesse ser editado. Poucos meses depois, o cardeal de Cracóvia, Karol Wojtyła, foi escolhido como chefe da Igreja Católica do mundo adotando o nome de João Paulo II. João Paulo II, tendo o auxílio dos escritos da Irmã Faustina, no dia 30 de novembro de 1980, publica a encíclica sobre a Misericórdia de Deus, chamada Dives in misericordia.
Somente no ano 1981 foi feita a primeira edição do Diário. Esta edição foi conjunta: das Irmãs de Nossa Senhora Mãe de Misericórdia e da Congregação dos Padres Marianos, dos Estados Unidos. Esta primeira edição serviu como modelo (edição típica) para que se fizessem no mundo inteiro outras versões linguísticas.
No Brasil, a primeira edição do Diário foi feita no ano de 1982, pela Congregação dos Padres Marianos e suscitou a ideia de fundar no Brasil o Apostolado da Divina Misericórdia. Hoje o Diário na sua versão brasileira está na sua 41ª edição, sem contar as várias reimpressões.
Publicação do Diário de Santa Faustina no Brasil ao longo dos anos. (1982-2015)
Pe. André Lach, MIC