Misericórdia: o Amor de Deus que preenche as nossas misérias

 

Em novembro de 2020, aconteceu o 19º Congresso Nacional da Divina Misericórdia, no Santuário da Divina Misericórdia, em Curitiba. As palestras foram fundamentadas a partir do livro “A Misericórdia de Deus em Suas obras” – ensinamentos teológicos do bem-aventurado Padre Miguel Sopoćko, que foi o confessor e o principal diretor espiritual de Santa Faustina.

Após o encontro, os organizadores decidiram por ampliar os estudos formativos iniciados no Congresso, para que os demais conteúdos do livro também fossem aprofundados para, assim, contribuir com o desenvolvimento da espiritualidade e a formação dos devotos.


Capítulos 11 a 23 – Padre Eli Carlos, MIC

Retomando as formações, o Padre Eli Carlos Alves de Sousa, MIC, deu continuidade às conferências, meditando os capítulos 11 a 23, que apresentam momentos da vida de Jesus.

Imagem: reprodução do YouTube

O convidado, Padre Eli, inicia pelo capítulo 22 do livro, no qual o Padre Miguel Sopoćko fala da relação entre o Amor e a Misericórdia e apresenta a dupla forma de amor: amor de concupiscência e amor de benevolência.

De acordo com a explicação do Padre Eli Carlos, o amor de concupiscência é aquele em que a pessoa que ama busca somente o próprio bem; busca se satisfazer com a pessoa que ama. Não se preocupa com o bem do outro, trata-o como um objeto do seu prazer. Neste amor não existe, necessariamente, reciprocidade.

Já no amor de benevolência, acontece o contrário. Busca-se o bem da pessoa que se ama. E isso leva ao entendimento de que este é o amor de Deus. Pois, Deus sempre busca e deseja o máximo bem da pessoa que Ele ama. O Padre Sopoćko destaca que este amor é de alguém superior para alguém inferior.

“Dizer que Deus é superior, significa dizer que Ele é completo, que Nele não falta nada e que Deus é essencialmente amor. E dizer que somos inferiores, significa dizer que em nós falta muita coisa, que existe miséria em nós. Por isso, o Padre Sopoćko diz que a Misericórdia de Deus é o amor diante da miséria, que somos nós”, explica o Padre Eli.

Se você se pergunta em que sentido as pessoas são miseráveis, o Padre Miguel Sopoćko esclarece que “somos miseráveis no sentido de que em nós existe muita miséria. A miséria é provocada pela falta de algo. Esta falta provoca um vazio em nossa vida, por isso, somos miseráveis em diversos sentidos”, resume o conferencista Padre Eli Carlos.

Com o Seu amor, Deus preenche tudo o que falta no ser humano, e preenche especialmente as misérias causadas pelo pecado. A partir deste entendimento, pode-se pensar:

O que falta no ser humano, que Deus Pai nos oferece através do Filho Jesus Cristo? Como Deus, com a Sua misericórdia, preenche as nossas faltas e os nossos vazios?

As respostas para estes questionamentos, o Padre Eli busca por meio da meditação de alguns momentos da vida de Jesus.

 

Anúncio de Misericórdia

Imagem: iStock

Recordando a grave situação de pecado que a humanidade vivia há 2 mil anos, o Padre Miguel fala da Anunciação, quando o Anjo Gabriel visita a Virgem Maria e anuncia o plano divino para a redenção dos homens. Não existindo uma pessoa que pudesse expiar os pecados da humanidade, então Deus, por misericórdia, anuncia a Maria que vai enviar o seu próprio Filho, Jesus, para alcançar a salvação da humanidade.

Jesus veio ao mundo como irmão, assim, já não é preciso ter medo de se aproximar do Nosso Senhor. Pode-se confiar em Jesus de todo o coração. Portanto, como apresenta o Padre Sopoćko: a confiança é o mais belo fruto da encarnação.

Derramamento das graças misericordiosas

Depois da Encanação, a Virgem Maria vai visitar a sua prima Isabel, que estava grávida de João Batista. E, então, acontece “o primeiro derramamento das graças misericordiosas do Salvador”, como explica o Padre Sopoćko. Este derramamento acontece quando João pula de alegria no ventre de sua mãe Isabel, quando Maria a saudou.

Então, Jesus nasce. Jesus já é Rei, mas a sua corte é formada apenas por três pessoas simples e humildes, que abriram o coração à graça misericordiosa de Deus. Seus primeiros visitantes foram pobres pastores, e com esta visita se revelou a essência da missão de Jesus: “Eu sou o bom pastor” (Jo 10,11). Já na manjedoura, Jesus se torna o pastor que conduz a humanidade.

No oitavo dia, como mandava a tradição judaica, a criança foi circuncidada e, como o Anjo Gabriel já tinha revelado, deram o nome de Jesus, que significa Deus salva. Em seu nome percebe-se a obra de Misericórdia de Deus. Este nome conduz à confiança, como nenhum outro nome poderia fazer.

“Deus lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus todo joelho se dobre no céu, na terra e debaixo da terra. Precisamos ter esse nome com mais frequência em nossos lábios, pois, como diz São Pedro nos Atos dos Apóstolos, não existe abaixo do céu outro nome pelo qual devamos ser salvos. É o nome de Jesus que nos oferece a Misericórdia de Deus”, assegura o padre mariano.

Com a chegada dos reis magos, sábios que viajaram de longe para visitar Jesus e adorar o novo Rei, revela-se algo fundamental neste encontro: a Misericórdia de Deus é oferecida a todos os povos, sem exceção. “Neste momento, Jesus preenche a soberba de eu achar que somente eu mereço a salvação, somente eu mereço a misericórdia. Os reis magos são exemplos para nós, pois quando chegaram a Belém não se decepcionaram com a humildade de Jesus, Maria e José, pelo contrário, com profunda fé se prostraram e adoraram o Menino Rei. Eles acreditaram no sinal de Deus, que os tinha guiado até aquele momento e reconheceram naquele menino o Rei dos reis”, destaca o Padre Eli.

 

Vida pública de Jesus

Imagem: iStock

A vida oculta de Jesus compreende os seus 30 anos de vida. Após esse tempo, Jesus se revela ao mundo como Messias, Salvador, e por três anos vive a Sua vida pública.

O Evangelho de São João apresenta Jesus se encontrando com os primeiros discípulos. Ao escolher os primeiros discípulos para o seguirem e auxiliarem no anúncio do Reino de Deus, Jesus ensina algo muito importante:

“Não podemos salvar o mundo sozinhos – Jesus quis ter companheiros ao seu lado. Deus nos ensina que somos irmãos e Ele quer que caminhemos juntos. Se temos esta disposição de dialogar e caminhar junto com os irmãos, então teremos a força de Deus para buscar a santidade e buscar edificar o reino de Deus na terra”, explica o Padre Eli Carlos.

Após a purificação no Templo, Jesus se encontra com Nicodemos. De acordo com o Padre Sopoćko, a purificação que Jesus realizou foi um sinal de Misericórdia antes de tudo na vida dos chefes religiosos de Israel, pois estes viviam na tibieza, haviam transformado a Casa de Deus em um covil de ladrões. Ao realizar a purificação, Jesus age com Misericórdia indicando o caminho que se deve seguir e o respeito pela Casa de Deus.

Vendo esta atitude e zelo de Jesus, Nicodemos vai encontrá-Lo. Nicodemos era um mestre e conhecia muito bem as leis, mas ele tinha grande sede de Deus, e esse vazio é preenchido por Jesus.

Outro encontro de Misericórdia que Jesus tem é com a Samaritana. De acordo com o palestrante, Jesus a encontra na beira de um poço, e ela sentia um grande vazio dentro de si, talvez devido à discriminação. Mas, com Misericórdia, Jesus preenche as suas misérias.

Em todos os encontros, seja com os discípulos, com Nicodemos, com a Samaritana, com todo homem e mulher que O procuraram e se deixaram encontrar por Jesus, Ele os preencheu com a Sua Misericórdia.

“Nós precisamos tomar esta decisão também. Eu quero ser encontrado por Jesus? Ele é o Bom Pastor que sempre sai à procura da ovelha perdida. Nós vamos deixar que o Senhor nos encontre a cada dia da nossa vida para nos oferecer misericórdia? Façamos uma reflexão: O que falta em mim? Qual vazio eu percebo em minha vida? Qual a minha miséria que precisa ser preenchida pela misericórdia de Deus? A misericórdia tem um nome, é Jesus – Deus salva. Clamemos este nome com confiança”, aconselha o conferencista.

Encerrando a sua formação, o Padre Eli rezou a seguinte oração de Santa Faustina:

Oh, como é grande o Vosso Nome, ó Senhor! Ele é o vigor da minha alma. Quando as forças me abandonam e as trevas invadem a minha alma, o Vosso Nome é o sol, cujos raios iluminam, mas também aquecem. Sob a influência do Vosso Nome a alma torna-se bela e brilhante, Dele extraindo o esplendor. Quando ouço o dulcíssimo Nome de Jesus — o meu coração bate mais forte, e existem momentos em que, ouvindo o Nome de Jesus, sinto-me desfalecer. O meu espírito anseia por Ele.” Amém. (Diário de Santa Faustina, 862).

 

Continua na próxima semana …