Jesus e os discípulosEste é o tempo de descalçar as nossas feridas. As mais fundas e as mais leves. As que nos fizeram e as que nós fizemos. Este é o tempo de desproteger todas as feridas. Tirar-lhes as meias coloridas e os sapatos bem atados à pele. É tempo de colocar as feridas à mostra. É tempo de deixar que o sol, que é Jesus, nos aqueça até transformar as feridas em água fresca.

Costumamos ter vergonha das nossas cicatrizes porque nos lembram as nossas feridas. As cicatrizes são um grito costurado de silêncio mas, ainda assim, um grito. A semana que vivemos está igualmente costurada. De silêncio. De um silêncio que é filho do amor e que encerra em si todas as feridas do mundo. Durante esta semana, Jesus destapa todas as suas feridas para que possamos lembrar-nos das nossas. Esta semana somos as feridas de Jesus. Durante esta semana Jesus vai destapar todos os cantinhos da sua alma e vai fazer-se mais perto do que nunca. Não há nada que esteja mais perto da alma e da pele do que a presença de uma ferida. De um golpe. Ou do desenho que resta dele. Somos a cruz de Jesus. Somos a coroa de espinhos. Somos a humilhação, a mágoa, a tristeza, o sofrimento acabado em infinito. É tremenda esta responsabilidade. Jesus vem rezar conosco esta verdade que nos une profundamente a todos: somos as feridas de Jesus. “Tu és a minha ferida”.

“Tu és a minha ferida”

Ainda assim, Jesus segura-nos no queixo devagar e convence-nos a erguê-lo. Não nos deixa baixar a cabeça nem o coração. Convence-nos a olhá-lo nos olhos. Temos vergonha das nossas feridas como se tivéssemos culpa delas. Não! Jesus vem dizer-nos que é preciso contemplar as feridas como Ele nos contemplou a nós. Por isso, durante os dias que compõem o silêncio ferido desta semana, é importante que tenhamos a coragem de ser a ferida de Jesus. Com orgulho e sem medo de dor alguma. A verdadeira dor (aquela que Jesus nos privou de sentir) não existe porque Jesus quis engoli-la sozinho.

Durante o tempo que resta da Semana da Luz, pensa numa das tuas feridas de estimação. Aquela que te fez a pessoa que mais te desiludiu. Aquela que te fez a pessoa que te abandonou no dia em que mais precisavas dela. Aquela que te fez quem fingiu que não te conhecia por não concordar com a tua forma de ser ou de sorrir. Aquela que te foi feita pela mesma pessoa uma e outra vez. E outra. E outra. Aquela que te foi feita por quem não soube ser justo contigo. Aquela que te foi feita pelas mãos do mundo, por quem ousou dizer-te que, afinal, não podias acreditar num mundo melhor. Aquela ferida. Essa. A que te faz engolir à seco. Pensa nessa ferida que te tira o sono e que, ao mesmo tempo, te adormece todos os dias mais.

Está pensando nela? Então, agora, coloca-a no colo e oferece-a a Jesus. De feridas, percebe Ele. Nunca te esqueças que foste (e és!) tu a ferida mais querida de Jesus. Ele colocou-te no Seu colo e, do alto da Cruz ensanguentada, ofereceu-te ao Pai.

 

fonte: IMissio