Na meditação do 9º dia do retiro 15 dias de oração com Santa Faustina, refletimos sobre como a justiça humana só pode realizar-se passando pela porta da misericórdia; e como a justiça encontra a sua perfeição graças à misericórdia.

Nossas meditações são apoiadas nos escritos do Diário de Faustina Kowalska.

Que Deus abençoe você que está rezando conosco e buscando um aprofundamento na espiritualidade da misericórdia.

 

Trecho do Diário

“Ó Deus inconcebível, como é imensa a Vossa misericórdia! Ela ultrapassa todo o entendimento humano e angélico juntos. Todos os anjos e homens saíram das entranhas da Vossa misericórdia. A misericórdia é a flor do amor. Deus é amor; e a misericórdia, a Sua obra. No amor se concebe; na misericórdia se manifesta. Tudo que vejo me fala da Sua misericórdia. Até a própria justiça de Deus fala-me da Sua imperscrutável misericórdia, porque a justiça nasce do amor.” (Diário, 651)

Nessa hora [três horas: a Paixão] realizou-se a graça para o mundo inteiro: a misericórdia venceu a justiça” (Diário, 1572).

Feliz a alma que, durante a vida, mergulhou na fonte da misericórdia, porque não será atingida pela justiça.” (Jesus para Santa Faustina – Diário, 1075)

O que aprendemos com Santa Faustina

Santa Faustina demonstra, em muitas citações do seu Diário, que o mistério da misericórdia entende-se melhor pela oração do que pelo raciocínio. A oração supera todo entendimento humano.

Ao falar que “Deus é amor e a misericórdia é seu ato”, entendemos que a misericórdia é, de certo modo, o que desse amor transcendente de Deus podemos ver, ouvir, tocar. É o amor concreto, em ato.

A própria justiça remete ao mistério da misericórdia, porque, no fundo, “ela decorre do amor”. Em Faustina transparecia bem a busca dessa unidade pessoal entre justiça e misericórdia.

O lugar por excelência em que a justiça é revelada como amor é a pessoa de Jesus Cristo, em particular no acontecimento da paixão, morte e ressurreição. É na hora da doação final de Jesus por todos que a “misericórdia predominará sobre a justiça” no mundo.

A justiça humana só pode realizar-se passando pela porta da misericórdia. A justiça encontra a sua perfeição graças à misericórdia.

Hoje, mais do que nunca, o mundo é sensível à causa da justiça. A tensão presente em toda parte, atesta uma preocupação ética universal. Ela está na origem de numerosos combates “contra o mal”.

Nós, cristãos, compartilhamos esse desejo profundo de uma vida justa em todos os níveis e em todas as suas formas. A evolução mais recente do pensamento social da Igreja confirma que se trata aí de uma solicitude fundamental: construir um mundo mais justo, em particular pela formação da consciência.

Muitas vezes nossos programas baseados na ideia de justiça estão sujeitos, na prática, a deformações. Muitas vezes, na prática, forças negativas prevalecem sobre ela: o espírito de julgamento, o rancor, o ódio e até a crueldade; os quais levam a limitar a liberdade do outro, a despojá-lo dos seus direitos humanos mais elementares, a reduzi-lo a nada.

A justiça sem a misericórdia não basta. Papa João Paulo II nos explica:

A experiência do passado e de nosso tempo demonstra que a justiça sozinha não basta, e ela pode até levar à sua própria negação e ruína, se não se permite que esta força profunda, que é o amor, modele a vida humana em suas diversas dimensões. (João Paulo II, Dives in Misericórdia, n. 12)

Por isso, devemos recorrer às forças ainda mais profundas de nosso espírito, a misericórdia, para dar consistência e vigor à nossa justiça. Esta tende a arbitrar entre os homens para repartir de maneira justa os bens, é verdade. Mas e misericórdia de Deus, por sua vez, é capaz de devolver o homem a ele mesmo.

 

Fonte: Fonte: Patrice Chocholski, Editora Paulinas.