Aquele que fez a experiência de ser acolhido pela misericórdia divina, que recebeu o amor misericordioso de Deus, torna-se instrumento dessa misericórdia. Realiza com gratidão e alegria obras de misericórdia (espirituais e corporais) para com o próximo, mesmo para com os inimigos, a quem igualmente devemos amar. É chamado a viver de misericórdia na vida cotidiana, a permanecer em Cristo para ir ao encontro dos outros. (Cf. Jo 15, 4)
Quem experimenta a misericórdia divina, não desperdiça as ocasiões – proporcionadas pelo próprio Deus – de compartilhar essa misericórdia com os outros. Não só como iniciativa ocasional, mas como uma atitude constante de caridade entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre filhos e pais, e para com os idosos; através da ação séria de dar o justo salário ao empregado; da acolhida ao estrangeiro; da acolhida e proteção do sagrado dom da vida e de todos os outros dons que Deus nos concede.
Na prática das obras de misericórdia está o termômetro da autenticidade da nossa fé e o caminho pelo qual adentramos cada vez mais no coração do Evangelho. Ali encontramos indicações precisas de como praticar a misericórdia. Ao longo da tradição da Igreja as obras de misericórdia são apresentadas em dois grupos: obras espirituais e obras corporais.
Atitudes de amor: obras de misericórdia
As espirituais dizem respeito não só ao corpo, mas sobretudo à alma. São elas: dar bom conselho; ensinar os ignorantes; corrigir os que erram; consolar os tristes; perdoar as injúrias; sofrer com paciência as fraquezas do próximo; rogar a Deus pelos vivos e pelos mortos.
E as obras de misericórdia corporais são: dar de comer a quem tem fome; dar de beber a quem tem sede; vestir os nus; dar pousada aos peregrinos; dar assistência aos enfermos; visitar os presos; enterrar os mortos.
As obras de misericórdia não são práticas filantrópicas (que decorrem do amor para consigo mesmo), mas resposta ao amor misericordioso de Deus.
Para ser feliz, Deus não necessita nem do homem nem dos seus serviços, não necessita das nossas forças, nem das nossas obras de misericórdia, Ele se basta a Si mesmo. Sua glória é infinita, nada nem ninguém pode menosprezá-la. Contudo, além de ser infinitamente poderoso, Ele é infinitamente bom. Tem sede de nós. Sede de que façamos parte da relação de comunhão Dele. Para que Ele possa nos tornar participantes dessa comunhão, que nos redime, Ele espera a nossa correspondência, o nosso abandono confiante na Sua misericórdia. Espera a nossa docilidade à Sua graça, à Sua vontade, a nossa docilidade ao Espírito Santo. Espera que sejamos instrumentos da Sua misericórdia. Espera o nosso amor.
Modelo de atitude
Exemplo de alguém que aceitou ser instrumento da misericórdia divina, em meio à pobreza e à dor deste mundo, foi Madre Teresa de Calcutá. Por onde passou, ela irradiou a cálida luz do amor e da compaixão de Deus. É a própria misericórdia de Cristo que contemplamos nela.
Todo batizado foi chamado por Cristo a ser luz no mundo, a viver as obras de misericórdia naquilo que está em seu alcance. Contudo, é importante lembrar com Santo Agostinho que o valor das obras de misericórdia está na pureza do amor com que elas são feitas: “Elas não têm valor por si mesmas, mas por suas motivações”. “Põe amor em tudo o que fazes e as coisas terão sentido. Retira delas o amor, e elas tornar-se-ão vazias”.
No próximo, é também o próprio Cristo quem está esperando por nossa resposta de amor:
Quando foi que te vimos peregrino e te acolhemos, nu e te vestimos? Quando foi que te vimos enfermo ou na prisão e te fomos visitar? ’. (…) ‘Em verdade eu vos declaro: todos as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes’” Mt 25, 35-40.