Oficialmente falando, o carnaval está no nosso calendário brasileiro somente na terça-feira e nem mesmo é um feriado obrigatório, mas ponto facultativo. Todavia, a realidade é bem outra. Já nesta sexta feira (4 dias antes!) o Facebook mandava-nos avisos, dizendo que se iniciou “a maior festa do ano”, cujo fim também se prolonga além do oficial, adentrando no tempo da quaresma.
Não há consenso sobre o real significado da palavra carnaval. O sentido mais usado, e talvez o mais correto, seja de “despedida da carne”, uma referência ao tempo da quaresma que se aproxima. Também não se sabe bem onde e quando surgiu. Sabe-se, porém, que hoje o maior carnaval do mundo acontece no Brasil!
O que realmente define a essência do carnaval é ser uma festa de liberação. De alguma forma os que se envolvem no carnaval sentem-se liberados das regras sociais e até mesmo morais. Essa liberação vai desde a mais ingênua – a liberação do trabalho – até as mais exaltadas no campo sexual, onde as premissas de pudor, fidelidade e castidade, já tão vilipendiadas nos dias “normais” se veem ainda mais rejeitadas.
Como esta é uma reflexão espiritual gostaria que o leitor lesse comigo o que uma santa da Igreja disse sobre o carnaval. Como nós católicos recentemente finalizamos o Ano Jubilar da Misericórdia, Santa Faustina, a mística que recebeu as Mensagens sobre a misericórdia do próprio Jesus, pode muito bem nos falar.
“Nos últimos dias do carnaval, quando fazia a Hora santa, vi Nosso Senhor no momento de flagelação. Oh! que suplício inconcebível! Como Jesus sofreu terrivelmente quando foi flagelado! (…) O Seu Sangue corria pelo chão e, em alguns lugares, o Corpo começou a descarnar-se. E vi nas costas alguns dos Seus ossos despidos de carne… Jesus silencioso, gemia e suspirava.” (cf Diário, 188)
“(…) Nestes dois últimos dias de carnaval (…) O Senhor me fez conhecer, num instante, os pecados do mundo inteiro cometidos nesse dia. Desfaleci de terror e, apesar de conhecer toda a profundeza da misericórdia de Deus, admiro-me que Deus permita que a humanidade exista.” (…) (cf. Diário, 926)
“Últimos dois dias de carnaval. Os meus sofrimentos físicos aumentaram. Procurei unir-me mais estreitamente com o Salvador, pedindo-Lhe misericórdia para o mundo todo, que enlouquece em sua maldade. (…) (cf Diário, 1619)
Como vemos, as palavras são muito fortes. Três pontos temos que levar em conta para melhor entender a gravidade destas palavras: a) santa Faustina é uma mística, ou seja, traz um alto grau de união com o Senhor. Ela literalmente sente os sofrimentos de Jesus; não fala a partir de uma teoria b) ela está se referindo ao carnaval de 80 anos atrás… O que ela diria se estivesse viva hoje?; c) em outro momento do seu Diário ela diz que a flagelação de Jesus se deu, sobretudo, devido aos pecados de impureza. Daí entendemos por que, nos dias de carnaval, ela vê Jesus flagelado.
Estas breves, mas tão contundentes palavras, devem nos levar a uma reflexão e posicionamento de vida que, já adianto, não é uma reflexão baseada no “politicamente correto”. Não é possível para o cristão dizer que o carnaval é a “maior festa”. Nem mesmo que é uma festa, no sentido real desta palavra. O carnaval tem que ser denominado por aquilo que realmente é: em sua maior expressão, uma celebração pagã de culto ao vício. Verdade que nem todas as pessoas têm malícia em mente ao ir pular carnaval. Mas, de modo geral, é um evento que coloca em grande perigo a vida espiritual dos filhos de Deus.
Os jovens, sem dúvidas, sãos as maiores vítimas dos dias de carnaval. Quantos perderão a virgindade. Quantos experimentarão drogas pela primeira vez! Quantos adentrarão no vício do álcool! Quantos que já viviam os vícios mencionados acima ainda mais se apegarão a eles! Quantos abortos virão nos meses seguintes ao carnaval! Quantos talvez venham a morrer em estado de pecado mortal, podendo perder-se eternamente!
Por fim, nossa reflexão deve ir também para a situação de nosso país. Lemos na Bíblia que, quando o povo passava por dificuldades, era comum fazer penitencia, pedindo perdão a Deus e assim implorar por sua misericórdia. Nunca é momento para ofender a Deus, mas, de modo especial agora, deveriam os cariocas, cujo Estado está quebrado, os gaúchos, e, na verdade, todos os brasileiros, clamarem por misericórdia para este país.
Mas, alguns dirão, é preciso que o povo tenha momentos assim, para poderem lidar com o estresse da vida. Essa justificativa de uma alegada catarse social é pífia, pelo menos para nós cristãos. Ela indica que a vida reta, familiar, as festas da fé (Páscoa, Natal, etc) não nos alegram o suficiente e precisamos de uma “escapadinha” da vida normal. Isso também é mais uma consequência danosa do carnaval: ele fecha os olhos das pessoas para a verdade, mantendo-as na ilusão. Ilude espiritualmente e ilude inclusive socialmente, pois a multidão que bagunça no carnaval será a mesma sem leitos nos hospitais, sem bom transporte público, etc. Realmente, em todos os sentidos, um preço muito alto a ser pago.
Que Santa Faustina, que alcançou tantas graças para sua Polônia, interceda também pelo Brasil, para não ofendermos tanto ao Senhor!