Há uma nova febre nas redes sociais, entre os jovens e adolescentes: a evocação de um suposto espírito, chamado Charlie, que responderia girando um lápis. Como o leitor já não tão jovem assim vai logo associar, esta “brincadeira” costumava ser feita em ambientes escolares no passado, juntamente com a “brincadeira do copo”. Em suma, são ações aparentemente inocentes, levadas pela curiosidade, onde um espírito é evocado, variando a “fé” dos participantes se o tal espírito existe ou não.
A primeira vista parece não passar de mais um modismo. Provavelmente quem tenha iniciado este jogo talvez não estivesse planejando nada além de algo divertido. Ainda assim, tudo isso não é algo tão simples e ingênuo e temos que ver isso de forma mais profunda.
Cultura do ocultismo
A humanidade sempre esteve envolta com o ocultismo e suas muitas formas de expressão (magia, adivinhação, feitiçaria, espiritismo, astrologia, etc). Vendo o perigo que seus filhos corriam, Deus precisou dizer-nos:
“Não vos dirigireis aos que evocam os espíritos, nem aos adivinhos; não os consultareis, para que não vos torneis contaminados por eles. Eu sou o Senhor, vosso Deus.” (Lev 19,31)
A evocação (ou seja, o chamado) dos mortos é algo muito sério e grave, que nunca deveria ser feito. Isto por dois motivos principais: 1)leva a pessoa a deixar Deus de lado, buscando apoio em superstições e 2) expõe ao perigo de abrir espaço para a ação do mal, ou seja, sermos “contaminados”. Para entendermos isso, precisamos ser iluminados por outro texto bíblico:“…o próprio Satanás se disfarça em anjo de luz.” (II Cor 11,14).
O que São Paulo está nos dizendo é que o demônio pode se apresentar como alguém bom (um pai, uma mãe falecida), mas é ele quem está lá, enganando as pessoas. Aqui vale aquele ditado: “a curiosidade matou o gato”.
Vale lembrar que o espiritismo nasceu de uma mentira nos EUA em 1848: uma família com o sobrenome Fox disseminou a notícia de estarem comunicando-se com os mortos, que respondiam com golpes na mesa, quando solicitados. O pretenso contato da família Fox com os mortos espalhou-se pelo mundo, rendendo-lhes fama e dinheiro. No entanto, logo as filhas do casal vieram a público desmentir tudo, confessando que tudo não passava de uma mentira acompanhada de fanatismo.
Esta “brincadeira”, como dito, não é nova, mas, com o poder da internet, tende a ganhar nova força. Além disto, vemos os jovens serem alvo de um ataque ferrenho em nossos tempos: para eles foram escritos livros de ocultismo, como a série Harry Potter; para eles filmes como a série Crepúsculo são disseminados. Há uma indústria de engano dos jovens, que visa o lucro e também a destruição de sua fé cristã.
Real Problema espiritual?
Mas será que esta “brincadeira” tem mesmo a presença do demônio? Temos que tomar cuidado para não criar um clima de histeria sobre isso. O demônio, como diz Santo Agostinho, ” é um cão feroz, acorrentado. Faz muito barulho, late, rosna. Mas ele só morde se chegarmos perto” . A grande maioria das vezes que alguém evocar o “Charlie”, só vai ficar nisto: uma brincadeira sem nada de mais, a não ser alguém assoprando o papel ou empurrando a mesa, pra fazer medo.
Há ainda outro ponto a ser levado em conta: os jovens, adolescentes principalmente, ainda não sabem como lidar com certas circunstancias de tensão. Uma ação desta, em um grupo, pode desencadear momentos de histeria, medo, ainda que causada pelo sopro de um papel. Aqui não seria necessariamente algo espiritual, mas no campo emocional mesmo.
Todavia, ainda assim não é uma brincadeira inocente, pois pode levar alguns a aceitarem e evocação de mortos e, daí, da confiança em Deus para a magia, adivinhações, etc. No entanto, é possível sim que o inimigo, em alguns casos se manifeste. Além disto, algumas pessoas que estejam participando destas brincadeiras podem ter participado de outras formas mais graves de interação com o mal: bruxaria, magia negra, etc. Neste caso, o inimigo poderia sim se manifestar ali e até mesmo nas pessoas.
Brincar com evocação de espíritos não é de forma alguma algo simples, inocente e normal. Por isso a Igreja no orienta:
“Todas as formas de adivinhação hão de ser rejeitadas: recurso a Satanás ou aos demônios, evocação dos mortos ou outras práticas que erroneamente se supõem “descobrir” o futuro. A consulta aos horóscopos, a astrologia, a quiromancia (leitura das mãos), a interpretação de presságios e da sorte, os fenômenos de visão (bolas de cristais)…” (cf.: Catecismo da Igreja Católica, nn. 2116 e 2117)
Momento para a reflexão
É verdade que o momento em que vivemos, no tocante à fé, é muito difícil; estamos sendo atacados por todos os lados, tentativas de nos afastar da fé que nos salva. Algumas coisas são bem “pesadas”, outras aparentemente inocentes; as últimas tendem a preparar o terreno para as primeiras. Mas é também um momento propício; propício para que os pais e catequistas falem com os jovens, aprofundando com eles a real fé e o perigo do ocultismo. Uma oportunidade para a evangelização.
Que o Senhor e a Mãe Santíssima nos deem a graça de sermos protegidos em nossa vida espiritual!
São Miguel, rogai por nós!
Pe. Silvio, MIC
fonte: blog Acorda Terra de Santa Cruz!
P.S.: para maior aprofundamento sobre a questão espiritual e os perigos que nos cercam, sugiro a leitura do meu livro:
LIBERTOS PELA MISERICÓRDIA DE DEUS