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Chegamos à época da Quaresma, a época de penitência e sacrifício, que começa nesta Quarta-feira de Cinzas, dia 17 de fevereiro. Com isso, muitos de vocês podem estar pensando: “Por que devo escolher ‘sofrer’ mais, como prática espiritual, quando já sofri tanto neste ano que passou?

Quase todos nós, em certa medida, experimentaremos os efeitos psicológicos desse desastre global nos próximos anos. E aqueles que já sofriam antes da pandemia? Certamente isso aumentou sua dor. E, claro, não vamos esquecer aqueles que sofreram tragicamente e morreram com o próprio vírus e as milhares de famílias que tiveram de se despedir de seus entes queridos.

Embora a chegada da vacinação tenha servido como um sinal de esperança para muitos, as coisas ainda não voltaram a ser como eram. Contra este pano de fundo de luta e incerteza mundial, faz sentido se você teme dedicar um tempo à penitência.

Portanto, este ano, em vez de se privar de algo que o ajuda a enfrentar, lembre-se de que há muitos precedentes para adicionar uma prática espiritual prudente durante a Quaresma, especialmente quando você já está sofrendo.

 

O exemplo de Santa Faustina

Santa Faustina é o exemplo perfeito para nós. Ela queria jejuar durante a Quaresma, mas sua doença debilitante representava um obstáculo. Tendo em conta o seu estado e as circunstâncias, o seu confessor a encorajou a continuar a comer, mas pediu-lhe que enquanto comesse “meditasse sobre como o Senhor Jesus, na Cruz, aceitou o vinagre e o fel” (Diário de Santa Faustina, 618).

Ela escreveu:

“Esta seria a mortificação. Não sabia que tiraria tão grande proveito para a minha alma. Esse proveito é que continuamente reflito sobre a Sua dolorosa Paixão e, quando me alimento, não distingo o que como, mas estou ocupada com a morte de Meu Senhor” (D. 618).

O Senhor deve ter ajudado a prescrever essa penitência para ela, porque cheira a prudência e reverência espiritual. Mostra que nem todas as penitências precisam ser árduas. Afinal, a palavra “penitência” não é necessariamente sinônimo de grande dor.

Penitência” deriva de uma palavra latina que significa “lamentar”. A penitência de Santa Faustina, meditando sobre a Paixão do Senhor enquanto comia, certamente inspirou nela um sentimento de tristeza.

Diversas vezes em seu Diário, Santa Faustina escreve sobre quanto muitas vezes custava para ela comer (ver 1428-1429). Então, em certo sentido, para Santa Faustina pode ter sido um pouco mais de sacrifício comer do que jejuar. Mas é claro que, quando alguém está doente, precisa se alimentar se quiser ter uma chance de recuperar a saúde. Seu confessor, portanto, veio com a solução perfeita para manter sua saúde física e ajudá-la a observar a Quaresma com a devida reverência.

 

Prática espiritual para Quaresma

Durante esta pandemia, todos nós estamos sofrendo, se não fisicamente, pelo menos emocionalmente. Então, nesta Quaresma, vamos escolher uma prática espiritual que melhora nossa saúde mental ou física, que também inspira em nós um sentimento de tristeza por nossos pecados.

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O exercício é crucial para a saúde mental e física: que tal caminhar todos os dias enquanto medita na Paixão do Senhor? Também pode ser uma alimentação saudável: que tal, em vez de fast food, cozinhar uma refeição saudável enquanto medita sobre a Paixão do Senhor? Todos nós precisamos de recreação: que tal passar mais tempo desenhando, tocando um instrumento, ou qualquer outra recreação de que você goste – enquanto medita na Paixão do Senhor?

A prática espiritual para esta Quaresma pode ser o que você achar edificante, qualquer válvula de escape saudável que o nutra, pense em fazer mais disso nesta Quaresma e, como fez Santa Faustina, medite na Paixão do Senhor enquanto faz isso.

Espiritualmente nutritivos, mas prudentes – são essas as penitências que o Senhor deve querer que observemos nesta Quaresma.

E se quisermos aprender com Santa Faustina, faríamos bem em procurar as bênçãos e graças que o Senhor está nos concedendo em meio ao nosso sofrimento.

Ela escreveu:

“Fiz uma hora de adoração em ação de graças pelas graças que me foram concedidas e por toda aquela doença; a doença é também uma grande graça” (Diário, 1062).

Descobrir que Santa Faustina agradeceu ao Senhor por sua doença pode parecer perturbador à primeira vista. Então, novamente, o catolicismo é uma religião de paradoxos.

Chamamos de “boa” a sexta-feira em que o Senhor sofreu e morreu. Eu entenderia se você ainda não estiver pronto para agradecer ao Senhor pelo coronavirus. Mas seríamos negligentes se não considerássemos as bênçãos e graças que o Senhor nos concedeu no ano passado em meio à nossa dor e sofrimento. Porque no final, toda dor e sofrimento vão passar. Mas a bondade do Senhor, Suas bênçãos e Suas graças duram para sempre.

 

 

Fonte: Padres Marianos, Massachusetts– EUA.