Os fiéis leigos pertencem àquele povo de Deus que é representado na imagem dos trabalhadores da vinha, de que fala o Evangelho de Mateus: “O Reino dos Céus é semelhante a um proprietário, que saiu muito cedo, a contratar trabalhadores para a sua vinha. Ajustou com eles um denário por dia e mandou-os para a vinha” (Mt 20, 1-2).

São homens e mulheres que exercem suas funções e compromissos temporais, assumindo o compromisso de trabalharem decidida e corajosamente pela causa do Reino de Deus e a sua justiça na dimensão temporal. São pessoas que se sabem discípulas do Crucificado-Ressuscitado e que se lançam na obra de transformação das diversas realidades terrenas para que toda a atividade humana seja transformada pelo Evangelho.

Os leigos formam a grande maioria da comunidade dos fiéis. Engajados nos diversos setores da vida eclesial e social, visibilizam a dinâmica do Reino de Deus. Fazem-no desenvolvendo as diversas atividades cotidianas, comprometidos na construção de um mundo mais justo e mais fraterno, engajados positiva e evangelicamente na construção de uma sociedade na qual todos tenham mais vida. Estes homens e mulheres, jovens e idosos inseridos em setores da sociedade, impregnam as realidades temporais com o espírito cristão, testemunhando os valores do Reino. Sustentados pela fé, sentem-se impelidos a buscar caminhos de identificação com o Cristo encarnado na história. São presença marcada por conteúdo, atitudes, ações e gestos que fazem a diferença!

A Igreja, situada entre as realidades materiais, sabe da missão específica dos leigos: “prestar um testemunho credível à verdade salvífica do Evangelho, ao seu poder de purificar e transformar o coração humano e à sua fecundidade na edificação da família humana na unidade, justiça e paz”.

O vigor da fé se manifesta no engajamento de cada fiel leigo nas realidades temporais, manifestando solidariedade para com os menos favorecidos da sociedade, empenhando-se na obra do cuidado pela casa comum e procurando colocar as próprias intuições, dons, talentos e carismas ao serviço da promoção e do crescimento humano de todos.

Paulo VI dizia que “os leigos, a quem a sua vocação específica coloca no meio do mundo e à frente de tarefas as mais variadas na ordem temporal, devem também eles, através disso mesmo, atuar uma singular forma de evangelização. A sua primeira e imediata tarefa (…) é o pôr em prática todas as possibilidades cristãs e evangélicas escondidas, mas já presentes e operantes, nas coisas do mundo. O campo próprio da sua atividade evangelizadora é o mesmo mundo vasto e complicado da política, da realidade social e da economia, como também o da cultura, das ciências e das artes, da vida internacional, dos ‘mass media’ e, ainda, outras realidades abertas para a evangelização, como sejam o amor, a família, a educação das crianças e dos adolescentes, o trabalho profissional e o sofrimento. Quanto mais leigos houver impregnados do Evangelho, responsáveis em relação a tais realidades e comprometidos claramente nas mesmas, competentes para as promover e conscientes de que é necessário fazer desabrochar a sua capacidade cristã muitas vezes escondida e asfixiada, tanto mais essas realidades, sem nada perder ou sacrificar do próprio coeficiente humano, mas patenteando uma dimensão transcendente para o além, não raro desconhecida, se virão a encontrar ao serviço da edificação do reino de Deus e, por conseguinte, da salvação em Jesus Cristo”.

Buscando recordar a característica da vocação laical, somos interpelados a, talvez, rever atitudes. Eles não são “suplementos” ou “reservas”. Iluminados pelo Evangelho do Crucificado-Ressuscitado cooperam de forma privilegiada na expansão do Reino de Deus sobre a Terra.

 

Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre (RS)