São Leopoldo Mandic, sacerdote que viveu e testemunhou a misericórdia de Deus aos penitentes que acorriam a ele para celebrar o sacramento da confissão. São Leopoldo nasceu em 12 de maio de 1866 em Castelnuovo, no sul da Dalmácia.
O testemunho recebido da família o levou, aos 16 anos, a entrar para os capuchinhos de Veneza com o desejo de restaurar a unidade entre a Igreja católica e as Igrejas ortodoxas orientais, vivendo com ardor o espírito ecumênico para dar esperança a um mundo que mostrava preocupantes sinais de lacerações, marginalizações e conflito.
Sua saúde precária e suas enfermidades direcionaram providencialmente a sua missão à total dedicação ao mistério da confissão, fazendo-o afirmar que o seu “oriente” era a cidade de Pádua e a sua vocação era levar a misericórdia de Deus ao máximo de almas.
Em março de 1932, doze anos antes de o mundo viver a Segunda Guerra Mundial, e da Itália, aliada da Alemanha, sofrer as consequências do seu envolvimento no conflito, o Frei Leopoldo predissera que a Itália seria fortemente atingida.
Quando questionado sobre a cidade de Pádua, o Frei respondeu:
“Será, e duramente. Também o convento e a igreja serão atingidos, mas esta pequena cela, não, esta não! Aqui Deus usou de tanta misericórdia para com as almas, que deve ficar como monumento de Sua bondade!”.1
Seu Ministério
No confessionário deu confiança aos que tinham dúvida, esperança aos pecadores e consolação aos aflitos.
Pouco antes de morrer, o Frei declarou que confessava há mais de 50 anos e não sentia remorso por ter quase sempre absolvido o penitente, mas sim pesar pelas poucas ocasiões nas quais não pudera fazê-lo; e examinava-se rigorosamente para saber se, nesses casos, havia feito tudo quanto estava a seu alcance para que aquelas almas fossem tocadas pela graça do arrependimento.
Contudo, quando necessário, sabia manifestar uma fortaleza capaz de vencer os corações mais duros.
Morrer combatendo
O amor enlevado à Cruz marcou a vida de Frei Leopoldo. Além do heroico empenho no atendimento diário das confissões, vivia em constante luta contra seu temperamento forte e impetuoso. Também não lhe faltaram sofrimentos físicos: dores gástricas, oftalmias, artrite deformante.
Depois da celebração do seu jubileu de ouro sacerdotal, em 1940, seu estado de saúde piorou muito e o Frei foi diagnosticado com a doença que o levaria à morte: um tumor maligno no esôfago.
A enfermidade progrediu a ponto de não lhe ser possível deglutir alimento algum, com exceção das Sagradas Hóstias, graça singular que lhe causava imensa alegria.
Vendo aproximar-se a hora final, Frei Leopoldo pediu a graça de morrer combatendo, e a obteve.
No dia 30 de julho de 1942, levantou-se às cinco e meia da manhã e dirigiu-se à capela da enfermaria. Na véspera, apesar do seu estado precário, tinha atendido várias confissões. Após uma hora de orações, caminhava rumo à sacristia a fim de preparar-se para celebrar a Santa Missa, quando subitamente caiu ao solo. Levado para o leito, recebeu a Unção dos Enfermos, ainda com inteira lucidez.
O superior do convento recitou três vezes a Ave Maria e depois a Salve Rainha. O santo frade repetia as palavras, com voz cada vez mais fraca. Quando terminou de dizer: “Ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre Virgem Maria”, sua alma foi para o Céu.
Em 1983, quando se realizava o Sínodo Mundial dos Bispos, convocado para tratar do Sacramento da Penitência; justamente o Sacramento que o santo capuchinho tanto amou, o Papa João Paulo II realizou a sua canonização.
Essas foram as palavras do Papa:
“Para todos aqueles que o conheceram, ele não foi mais que um pobre frade, pequeno e doentio. A sua grandeza está em outra parte: em oferecer-se como sacrifício, em doar-se, dia após dia, por todo o tempo da sua vida sacerdotal, ou seja, por 52 anos, no silêncio, na discrição, na humildade de uma pequena cela-confessionário: ‘O bom pastor oferece sua vida pelas ovelhas’”.2
1 BERNARDI, P.E. Leopoldo Mandic – Santo da Reconciliação. 7.ed. Padova: Violato, 2004, p.49-50.
2.JOÃO PAULO II. Homilia na Missa de canonização de São Leopoldo Mandic, em 16/10/1983. In: L’Osservatore Romano. Cidade do Vaticano, 17-18 out., 1983, p.4.
Fonte: Agência Zenit e Pe. Edwaldo Marques