“As velas choram enquanto iluminam. Suas lágrimas nascidas no fogo transbordam e escorrem pelo seu corpo. Choram por saber que, para brilhar, é preciso morrer”. Rubem Alves
Diante da morte de algum familiar, amigo ou conhecido, é comum que sentimentos como tristeza, desânimo e angústia fluam frente a vida daquele que ficou.
Porém, mais comum ainda são os mecanismos que utilizamos no cotidiano para tornar cada vez mais invisível a temática da morte. Dessa forma, se favorece a criação de pessoas que não sabem lidar com um tema tão complexo e profundo que ocorre com todos os seres vivos.
Com muita frequência se percebe, por meio da história, que o homem vem se reinventando, buscando em mitos, lendas ou até mesmo na ciência, estudos ou invenções que desafiam o sentimento de mortalidade, e através destes meios, acabam por tentar vencer ou aliviar a sensação negativa de que em algum momento a morte irá chegar (Kovács, 2011).
Diante desse cenário social em que a morte é assunto quase proibido, quando essa temática é inevitável diante da perda de um ente querido, acabamos por não saber lidar com os sentimentos e emoções que o tema morte gera em nós. Isso faz com que criemos alguns mecanismos de defesas que visam à negação da perda, como: evitar entrar em contato com as emoções difíceis, revolta com a fé, resistência em se adaptar na vida sem a pessoa, dentre outros sentimentos que dificultam a elaboração do pesar (PARKES, 1998).
Processo do luto
Existem algumas tarefas no processo de elaboração do luto, dentre estas está na pessoa: Aceitar a realidade da perda; Elaborar a dor da perda; Ajustar-se ao ambiente onde estava a pessoa que faleceu; Reposicionar-se em termos emocionais frente a pessoa que faleceu e seguir a vida (PANGRAZZI, 1998).
Para que tais tarefas sejam cumpridas, é necessário que a pessoa esteja aberta as emoções/sentimentos que o luto pode acarretar, além de ter um ambiente de escuta acolhedor frente a uma temática tão delicada e profunda.
Para tanto, surgem vários ambientes e atividades que são propícios para ajuda à pessoa enlutada, dentre eles a psicoterapia surge como uma das possibilidades, sendo um espaço de escuta respeitosa e segura para que o enlutado possa se expressar, elaborar o luto e seguir a vida. Outro espaço que tem surgido com bastante força para ajudar aos enlutados está relacionado a fé e espiritualidade (Carvalho, 2007). Geralmente são ambientes em que trabalham a temática da perda em direção a uma aceitação emocional do tema, evidenciando de uma forma suave que a morte é um caminho comum à toda humanidade. Nestes espaços os enlutados podem falar com muita frequência de suas angústias e também acrescentar novas atividades a seu cotidiano.
Uma pergunta bastante comum é: Quando o processo de luto termina? Segundo Pangrazzi (1998), a resposta para tal pergunta está associada com o sujeito conseguir cumprir as tarefas relacionadas ao luto (reconstruir a fé; reconstruir a identidade; enfrentar os sentimentos difíceis) de uma forma mais otimista. Assim, aqueles sentimentos de desesperança e depressão, de maneira progressiva e lenta, misturam-se com sentimentos mais positivos, e isso vai possibilitando a pessoa se investir afetivamente em novas situações e figuras de apego.
É natural que o enlutado por vezes acabe recaindo nesse processo, entretanto esse é o caminho para que o enlutado consiga elaborar tal fato e seguir a vida, não esquecendo a pessoa que se foi, mas lembrando dela sem sentir dor.
REFERÊNCIAS
CARVALHO, A. Saudade dos que se foram. Blumenau: Nova Letra, 2007.
FRANCO, M. H. et al. Vida e morte: Laços da Existência. In: KOVÁCS, M. J. A morte em vida. 2ª edição – São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011. cap. 1, p. 11- 33.
PANGRAZZI, A. Convivendo com a perda de uma pessoa querida. São Paulo: Paulinas, 1998.
PARKES, C. M. Luto: estudos sobre a perda na vida adulta. 3ª edição – São Paulo: Summus, 1998.
Rafael Luiz Batista – Psicólogo Clínico, para a Revista Divina Misericórdia, Ed. 68.