texting and eating - Smart phone in Hand _

Uma leitura importante para os pais.

Você já reparou o comportamento das crianças à mesa, na hora da refeição? Tenho pensado um pouco nisso ultimamente. Nos restaurantes, os adultos conversam e as crianças se divertem em seus tablets e smartphones. Há mesas com várias crianças, cada uma com seu aparelhinho… à mão. De repente, os adultos riem – provavelmente, alguém falou algo engraçado – mas as crianças permanecem concentradas nas suas telas. Num outro momento, uma criança ri ou fica brava – talvez tenha vencido ou perdido uma fase do jogo –, os adultos continuam conversando e as outras crianças, entretidas no seu mundo virtual. É como se estivessem em lugares diferentes, não sentados à mesma mesa, aguardando serem servidos. Impressionante!

Então, estas cenas, cada vez mais frequentes, têm me feito refletir sobre o comportamento infantil. Mais precisamente, sobre a ausência do adulto na orientação da criança. Sim, porque se alimentar com calma e atenção fazem bem à saúde, todos sabemos, e precisamos ensinar às crianças. Além disso, que convivência é essa que se restringe ao diálogo adulto – isso quando também não estão no celular – permitindo que a criança permaneça alheia ao que se passa à mesa?

Mas a tecnologia não é a única que minimiza a oportunidade do diálogo saudável e prazeroso nos momentos de refeição em família. No Brasil, os restaurantes sempre têm a área das crianças, os plays. Até as redes de fast food, onde, em tese, se deveria sentar e comer depressa, oferecem estes espaços. Repare: as famílias chegam, escolhem uma mesa, organizam bolsas, casacos e afins e, logo em seguida, as crianças correm para a área dos brinquedos. E lá permanecem! A comida chega, alguns pais exigem o retorno dos filhos à mesa, outros, nem isso, comem depois. O que está acontecendo com a educação, aquela que deve ser dada pela família, aquela que envolve valores, define padrões de comportamento, ensina como se comportar?

Nossas crianças já não sabem se comportar à mesa! Em casa, quando não estão com seus tablets e smartphones, comem em frente à televisão ou, se comem à mesa, assim que se sentem satisfeitas, simplesmente se levantam e vão fazer outra coisa – as mais educadas pedem licença. Ninguém espera a refeição acabar – e entendo por acabar quando tudo o que tinha para ser servido foi, desde a refeição em si, até a sobremesa ou o cafezinho.

Numa viagem à Europa, fui recebida por uma família para o almoço. Lá havia uma menininha de três anos que, na época, lutava contra um câncer – uma menina pequena e doente, então. Pois bem, sentamo-nos todos à mesa, o almoço foi servido, os adultos conversavam e a incluíam na conversa também – ela era a única criança na casa –, depois da refeição, a sobremesa e o café, e a menina lá, pequena e doente, conversando com todos. Estranhei a situação, por que fazê-la esperar para sair da mesa? Por que não deixa-la ir brincar em seu quarto? Muitos por quês – veja o que faz a ingenuidade do olhar. Depois entendi que ela ficava porque era tratada como igual, porque estava sendo educada. Porque existem regras de civilidade quando se vive em sociedade e se está à mesa. Porque o momento da alimentação é sagrado. Enfim, muitos porquês de resposta também.

Sim, somos brasileiros, americanos, diferente dos europeus. Concordo. Mas o que me assusta é a ausência do estranhamento. Nossas crianças querem brincar e brincam. Acham chato ficar conversando, então podem sair. Os pais querem se divertir com os demais adultos, por que manter crianças à mesa para ter que lhes dar atenção e falar sobre assuntos infantis também? Sinto, mas me parece ser mais fácil lhes entregar aparelhos tecnológicos ou escolher restaurantes com área de brinquedos para que se distraiam e não perturbem, porque criança entediada perturba, quer achar algo para fazer.

É exatamente isso que me incomoda; não a tecnologia ou os plays, mas o fato de elas não conviverem e de não o fazerem por opção adulta, mesmo que velada. No fundo, o adulto não quer se ocupar com elas. Esse é o problema. E o que parece falta de educação é também, e antes de mais nada, falta de respeito à criança. Porque é ela quem está deixando de ser educada, civilizada. Claro que, se ela tiver que escolher, vai querer brincar. Mas ela tem maturidade suficiente para escolher livremente? Não seria mais prudente lhe darmos opções de escolha? Se seu filho já se acostumou aos brinquedos – sejam tecnológicos ou não – por que não começar com opções de escolha? Conversa antes, refeição e brincadeira depois? Ou o contrário. Ou outras possibilidades, como folhas e lápis para brincarmos todos juntos à mesa. Desenhos, stop, forca, jogo da velha etc.

Enfim, quem tem filho tem a obrigação de educá-lo, e educar crianças dá trabalho. Vamos pensar sobre o assunto?

 

fonte: Aleteia