Muito antes das revelações de Santa Faustina a respeito da Misericórdia Divina, a Congregação dos Padres Marianos vivia a espiritualidade da Misericórdia.
Tanto o Padre Fundador da Congregação, Santo Estanislau Papczynski, como o Padre Renovador da Congregação, Jorge Matulewicz, praticavam e promoviam a prática das obras de Misericórdia.
Templum Dei Mysticum (TDM) O Templo Místico de Deus, escrito pelo Fundador da Ordem dos Marianos da Imaculada Conceição, Santo Estanislau Papczynski é a mais completa e detalhada exposição, no ocidente cristão, da doutrina sobre as obras de misericórdia. O capítulo XXI desse escrito tem como título Restauratio Templi Mystici . Reparação do Templo Místico. O “templo místico de Deus” é a alma do cristão.
A alma, afirma Santo Estanislau, é destruída pela opera impia, isto é, pelos pecados. Por isso, são necessárias obras misericordiosas, para efetuar a reparação, isto é, uma renovação da alma, para nela ser restabelecido o estado anterior ao pecado. Numa palavra, aquilo que foi danificado necessita ser reparado.
As obras de misericórdia são chamadas pelo Padre Papczynski de pietatis actiones, isto é, ações de piedade, de bondade, de clemência. Ele afirma que, por meio delas,
se pode alcançar tudo de Deus.
Santo Estanislau, nesses seus escritos, segue a tradicional divisão das obras de misericórdia, que são catorze.
Apresenta as sete que dizem respeito ao corpo – as obras corporais: dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, dar abrigo aos peregrinos, assistir aos enfermos, visitar os presos, enterrar os mortos. E as sete que dizem respeito à alma ou ao espírito – as obras espirituais: dar bons conselhos aos que necessitam, instruir os que não sabem, corrigir os que erram, consolar os aflitos, perdoar as injúrias, sofrer com paciência as adversidades e fraquezas do próximo, rogar a Deus pelos vivos e pelos mortos.
Obras de misericórdia corporais
Como a primeira das obras de misericórdia corporais, Padre Papczynski apresenta a obra visitar os enfermos, que diz ele é expressamente louvada por Jesus Cristo, porque, sendo feita ao próprio Cristo, é uma das obras pelas quais no juízo final se receberá o Reino Celeste: “estive doente e viestes visitar-me” (Mt 25, 36). “São de louvar – diz Santo Estanislau – os que visitam os doentes pobres, porque junto aos seus leitos não chegam com vacuis manibus, isto é, de mãos vazias”. Por outras palavras, Santo Estanislau nos exorta a visitar aos doentes pobres com as mãos cheias de dons, com os quais eles poderão ser ajudados na sua doença e pobreza. Dedicava-se frequentemente a essa obra de misericórdia, o Padre Papczynski. Como afirma um dos textos do seu processo de beatificação, deslocava-se muito frequentemente aos enfermos.
O Padre Leporini (um dos seus biógrafos) informa-nos que ele visitava frequentemente os hospitais dos pobres, distribuindo entre eles copiosas esmolas e provendo-lhes do necessário para cuidarem de seus corpos doentes. Além disso, com as orações, com certa frequência obtinha-lhes a cura. Santo Estanislau escreveu no Templo Místico de Deus: “Em muitos lugares, sobretudo em Roma, há locais para os doentes, aos quais a liberalidade dos isericordiosos provê, em abundância, não só medicamentos, mas tudo de que precisam. Com essa liberalidade abrem uma via segura para o céu”.
Depois, Santo Estanislau relata o que provavelmente constatou com os próprios olhos, quando, nos anos de 1667 e 1668, esteve em Roma. Ali, afirma ele, “podem ser vistos os mais altos prelados da Igreja, mesmo cardeais – os quais não se envergonham de exercer essa humilde obra de misericórdia: Põem-se em fila aos pés dos pobres e dos doentes, aos quais dão tanto alívio, quanto proveito próprio e edificação do povo. Portanto pergunta o Padre Papczynski quem não ousaria fazer o que não se envergonha de fazer a sacra púrpura, isto é um cardeal?”
Passando à segunda e à terceira das obras de misericórdia espirituais (apresentadas juntamente), Padre Papczynski louva-as afirmando que prover ao alimento e dar de beber aos necessitados é um sinal de uma grande bondade. Santo Estanislau desejava que os fiéis imitassem as pessoas que se distinguiram no exercício das obras de misericórdia, tais como o papa Clemente IX, que “frequentemente convidava os indigentes para a sua mesa, seguindo assim o costume de outro papa, Gregório Magno”. De fato, Clemente IX, assim afirmam os historiadores, todos os dias recebia à sua mesa doze pobres aos quais servia alimento.
Padre Papczynski apresenta também o exemplo de mulheres “célebres nesta virtude”, tais como Santa Isabel, Santa Edviges e Santa Cunegunda, que pessoalmente iam ao encontro dos necessitados. Admite que “a dignidade ou os cargos públicos podem impedir o empenhar pessoal e direto, nessa obra de misericórdia”; contudo, afirma, “se alguém o faz per alios, isto é, com a intermediação de outros, não será privado da recompensa”. Com grande diligência, o Padre Papczyński procurava aliviaras indigências e os infortúnios dos pobres, e, por isso, mereceu o apelativo de Pai dos pobres e Pai dos necessitados e dos órfãos.
Quando, com a morte do Bispo de Poznan, Stefan Wierzbowski, em 1687, foi interrompida a construção de um hospital para manter, com os meios de subsistência de todo o gênero, os idosos pobres, em Góra Kalwaria, menciona o Padre Kazimierz Wyszy ński (sucessor de Santo Estanislau) o Padre Papczynski, para que essa obra de misericórdia não se perdesse, junto com seus companheiros religiosos, assumiu a continuação desse trabalho e, com as próprias mãos, completou a construção.
Pe. Casimiro Krzyzanowski, MIC
Capítulo tirado do livro Obras de Misericórdia