No contexto do quinto domingo da Quaresma, o Papa Francisco refletiu sobre o episódio da mulher flagrada em adultério, narrado no Evangelho de S. João e pediu aos presentes que todos sejamos conscientes da realidade do próprio pecado para evitar julgar o próximo, pois somente Deus pode julgar e encarnou-se para “personificar” sua misericórdia e ensinar-nos como agir.
Essas foram as palavras do Papa na Audiência Geral deste domingo, 07 de abril:
“Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Neste quinto domingo da Quaresma, a liturgia apresenta o episódio da mulher adúltera (Jo 8,1-11). Nela se opõem duas atitudes: a dos escribas e fariseus de uma parte, e a de Jesus do outro. Os primeiros querem condenar a mulher, porque sentem os guardiões da Lei e da sua aplicação fiel. Entretanto, Jesus quer salvá-la, porque ele personifica a misericórdia de Deus – que perdoando redime e reconciliando renova.
Enquanto Jesus está ensinando no templo, os escribas e fariseus lhe trazem uma mulher surpreendida em adultério; eles a colocam no meio da multidão e perguntam a Jesus se devem apedrejá-la, como a Lei de Moisés prescreve. O evangelista especifica que eles colocam a questão “para testá-lo e ter motivos para acusá-lo” (v. 6). Pode-se supor que seu objetivo era esse: não apedrejá-la teria sido motivo suficiente para acusar Jesus de desobediência à lei; consentir o apedrejamento, por outro lado, poderia servir de pretexto para denunciá-lo à autoridade romana, que havia reservado para si a autoridade de outorgar este tipo de punição e não admitia o linchamento popular.
Os interlocutores de Jesus estão fechados nos gargalos do legalismo e querem trancar o Filho de Deus em sua perspectiva de juízo e condenação. Mas ele não veio ao mundo para julgar e condenar, mas para salvar e oferecer às pessoas uma nova vida. E como Jesus reage?
Primeiro de tudo ele permanece por um tempo em silêncio, e ele se inclina para escrever com o dedo no chão, como para recordar que o único Legislador e Juiz é Deus, então ele diz: “Aqueles de vocês que estão sem pecado, joguem a primeira pedra” (v. 7). Assim, Jesus apela à consciência daqueles homens: eles se sentiam “Paladinos da justiça”, mas Ele os leva à consciência de sua condição de homens pecadores, para os quais o direito de vida ou morte não pode ser reivindicado em seus semelhantes.
À essa altura, um após o outro, começando com os mais velhos – ou seja, os que mais experimentaram suas próprias misérias – todos eles saíram, desistindo de apedrejar a mulher. Essa cena também convida cada um de nós a tornar-nos conscientes de que somos pecadores e deixar cair de nossas mãos as pedras da denigração e da condenação que às vezes queremos lançar contra os outros.
No final, permanecem apenas Jesus e a mulher ali: “a miserável e a misericórdia“, como diz Sant’Agostinho. Jesus é o único sem culpa, o único que poderia atirar a pedra contra ela, mas não o faz, porque Deus “não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva” (ver Ez 33.11). E Jesus despede a mulher com estas palavras maravilhosas: “Vá e de agora em diante não peques mais” (v. 11). Ele abre diante dela um novo caminho, criado pela misericórdia, uma estrada que requer seu compromisso de não pecar mais. É um convite que se aplica a cada um de nós.
Neste tempo de Quaresma somos chamados a nos reconhecermos como pecadores e a pedir perdão a Deus. Pois ao mesmo tempo que nos reconcilia e nos dá paz, nos faz começar uma história renovada. Cada verdadeira conversão é destinada a um novo futuro, a uma nova vida, bela, livre do pecado, generosa.
Que a Virgem Maria ajude-nos a testemunhar todo o amor misericordioso de Deus que, em Jesus, nos perdoa e renova nossa existência, sempre nos oferecendo novas possibilidades”.
Fonte: Acidigital