Alguma vez você sentiu que, no meio de uma dificuldade grande, encontrar a pessoa certa, no momento certo, pode fazer toda a diferença? Nem sempre é o que ela diz ou faz nessa hora; apenas encontrá-la já dá um conforto particular no meio da tribulação.

Pensemos numa outra situação: quando sentimos saudades de alguém. Não é suficiente lembrar quão importante foi essa pessoa, o que ela significou num momento determinado, o que ela disse numa ocasião. Uma parte de nós necessita escutar sua voz, tocá-la, encontrar-se com os olhos dela.

As duas situações permitem perceber, com relação à misericórdia de Deus, que ela não pode ser apenas explicada, precisa ser “tocada”. Precisamos nos encontrar com Ele, senti-Lo por perto. Às vezes não é suficiente saber que Deus nos ama e nos cuida; precisamos sentir, enxergar e até apalpar esse amor.

São João Paulo II, num dos textos dele*, explica que a origem do termo misericórdia remete a uma unidade tão profunda e fundamental como a de mãe e filho. Trata-se de um amor gratuito, que não é fruto do merecimento. Com relação ao tema proposto, manifesta a profunda unidade entre Deus e a pessoa que experimenta a misericórdia Dele. Trata-se de uma unidade ainda mais forte que a da mãe com o filho das suas entranhas (ver Is 49,15).

No fundo, trata-se do dinamismo da Encarnação (ver Jo 3,16). De Deus, que permite que sintamos sua misericórdia através das mais diversas mediações. Do Mediador por excelência, Jesus Cristo, o rosto de misericórdia do Pai. Na plenitude dos tempos, foi o Verbo eterno que assumiu a carne.

Hoje, com o desdobramento desse dinamismo, é a Igreja, o Corpo vivo de Cristo, que ordinariamente distribui essa misericórdia. A imagem de Nossa Senhora, e a fé dos filhos da Igreja que confiou no amor de tão grande intercessora, fez com que hoje essa imagem seja sinal da misericórdia de Deus, que continua buscando mediações que manifestem seu amor misericordioso.

O Papa Francisco explica para nós este dinamismo:

“As formas próprias da religiosidade popular são encarnadas, porque brotaram da encarnação da fé cristã numa cultura popular.
Por isso mesmo, incluem uma relação pessoal; não com energias harmonizadoras, mas com Deus, Jesus Cristo, Maria, um Santo.
Têm carne, têm rostos. Manifestam o encontro autêntico entre pessoas, manifestam a necessidade de criar vínculos profundos e estáveis”.**

Desta forma, o dinamismo da encarnação, que percorre toda a vida da Igreja e encontra manifestações na fé do povo de Deus, faz com que uma imagem seja sinal da misericórdia de Deus e de seu poder na vida das pessoas.

 


* S.S. João Paulo II, Dives in Misericodia, n. 4. Ali desenvolve o conceito de «misericórdia». Numa nota ao pé explica os alcances da raiz hebraica do termo.
** S.S. Francisco, Evangelii Gaudium, n. 90-91. Vale a pena acompanhar a reflexão proposta do n. 87 ao 92.

Por Cankin Ma Lam, Sodalício de Vida Cristã

Fonte: A12