A Quaresma, que teve início na quarta-feira de cinzas, não deve ser fácil. É uma árdua jornada de 40 dias que nos leva à maior de todas as recompensas possíveis: a nossa salvação.

A cada Quaresma há um silêncio, uma espera que parece preencher o ar. As luzes e a música do Natal se tornam uma lembrança distante e temos uma escolha a fazer – uma escolha para nos aproximarmos de nosso Salvador Misericordioso, que deseja que voltemos a Ele.

Enfrentamos essa escolha em cada dia do ano. Mas na quarta-feira de cinzas, quando deixamos a pele marcar com as cinzas, os riscos de nossa salvação parecem mais reais. Talvez seja porque nos tornamos penitentes públicos – literalmente “marcados” homens e mulheres.

A partir disso, como devemos usar esse tempo da Quaresma? Como devemos experimentar uma intimidade mais profunda com nosso Salvador? Como devemos receber as grandes graças que Ele está nos oferecendo?

Pense na Quaresma como uma forma de “campo de treinamento espiritual“. Nosso condicionamento, nosso treinamento, nossas flexões vêm na forma de oração, reflexão e penitência.

Repito: não deveria ser fácil. Mas nosso Senhor e Nossa Mãe Santíssima estão aqui para nos ajudar.

 

PRIMEIRO: devemos confrontar nossos pecados

Durante a Quaresma, refazemos os passos de Cristo no deserto. Lá, Cristo, enquanto se preparava para o Seu ministério, resistiu com sucesso às tentações de Satanás. De nossa parte, durante a Quaresma, nos preparamos para viver de acordo com Sua Palavra. Desta forma, com força, determinação e sinceridade de coração, somos chamados a resistir ao mal.

Não podemos fazer isso sozinhos. Devemos confiar em nosso Senhor e em Nossa Mãe Santíssima em oração. De fato, a oração é a “língua nativa” de nosso Senhor. Por meio do Diário de Santa Faustina, nosso Senhor nos ensina como podemos falar com ele.

Ele diz à alma pecadora: “Não fujas, filha, de teu Pai, dispõe-te a dialogar a sós com o teu Deus de misericórdia, que quer dizer-te palavras de perdão e cumular-te com Suas graças. Oh, como Me é cara a tua alma!” (1485)

Esta Quaresma, confie em nosso Senhor e Nossa Senhora. Peça a Nossa Senhora sua intercessão para que você possa cumprir a exortação de Cristo a “se arrepender e crer no Evangelho” (Mc 1,15). Tome nosso Senhor em Sua palavra quando Ele diz a Santa Faustina: “nenhuma alma que tenha invocado a Minha misericórdia se decepcionou” (Diário, 1541).

SEGUNDO: neste tempo quaresmal, preste muita atenção para responder ao chamado de Cristo

Cristo ensinou: “Se alguém deseja vir após mim, deve negar a si mesmo, tomar sua cruz diariamente e seguir-me” (Lc 9,23).

Como você se nega? Você deve estar disposto a entregar seus vícios, seu orgulho, seus pecados. Você deve estar disposto a procurar em seu coração e decidir quem ou o que está no trono. Coisas materiais? Ambição pessoal? Deus?

Como Maria nos ensina o caminho para a cruz é altruísta. Ela sempre coloca as necessidades de Cristo antes das suas. Na Anunciação, ela mostra o que dizer “sim” a Deus significa. Para ela, isso significa descartar seus próprios planos e abrir seu coração para Ele em confiança.

Para nós significa: esforçar-se todos os dias para ser instrumento da vontade de Deus. Todos somos chamados a desempenhar um papel ativo na redenção do mundo. Como Maria ao pé da cruz de seu Filho, devemos nos tornar parceiros na Paixão.

Nesta Quaresma, coloque as necessidades de Cristo antes das suas. Passe seus dias em louvor a Ele e em serviço frutífero a Ele e aos outros. Comprometer-se a se envolver em obras de misericórdia. Por exemplo, em vez de usar seu tempo livre para relaxar, use-o como voluntário em sua comunidade. Deixe seu sacrifício servir como um presente em resposta ao Seu presente para nós na cruz.

 

POR FIM: contemple a face do Senhor

Como as Escrituras nos dizem: “Vendo a glória do Senhor, estamos sendo transformados à Sua semelhança” (2 Cor 3,18).

Esse é todo o objetivo da Quaresma: contemplar Seu rosto e imitar Seu exemplo – tornar suas instruções e ações próprias.

Leia as Escrituras diariamente, se ainda não o fez. Vá à missa mais vezes, se puder.

Quanto mais voltamos o olhar para a cruz, mais graças receberemos para sustentar nossas próprias cruzes.

Que essas cinzas sirvam para lembrar de que Deus é misericordioso com aqueles que O invocam com corações contritos. Pegando a cruz de Cristo, olhando para o Seu rosto, imitando o Seu exemplo, podemos nos preparar para uma Páscoa cheia de alegria e um Domingo da Divina Misericórdia repleto de graça. E que comecemos a viver a mensagem da Divina Misericórdia – amando a Deus e ao próximo – todos os dias do ano.

Para nós que fazemos essa escolha, a escolha de ser “marcado” homens e mulheres – posses, escravos, poeira, como Deus nos criou – deixe a árdua jornada começar. Ao aceitarmos nossa humildade, permitimos que Deus complete Seu plano de amor: elevar todos nós à dignidade de filhos e filhas de Deus, para nos tornarmos participantes da natureza divina (2 Pd 1,4). Como a leitura na quarta-feira de cinzas afirma: “Eis que agora é o dia da salvação!” (2 Cor 6,2).

 

Fonte: The Divine Mercy.