Será que, depois do perdão dos pecados na confissão, sobra algum “resto de pecado”?
Pergunta do leitor
Ao falar das indulgências, algumas pessoas mencionam os “restos do pecado”. Mas se o sacramento da Penitência nos perdoa de tudo, o que resta por perdoar? Também acho que é impossível esta necessidade de uma “rejeição total do pecado, inclusive venial”, para ganhar a indulgências plenária. Todos nós temos esta tendência ao pecado…
Resposta
Nosso pecados comportam graves consequências. É verdade que, quando nos confessamos deles no sacramento do Perdão, eles são perdoados. Mas a pegada do pecado requer um longo caminho de regeneração.
Dizem que um presidente dos Estados Unidos, para fazer seu filho entender as consequências dos nossos atos, lhe propôs um exercício: deu-lhe um martelo, um prego grande e uma tábua de madeira, e lhe perguntou se ele seria capaz de pregá-lo na tábua.
O menino respondeu que era muito fácil e, sem nenhum problema, com duas ou três marteladas bem dadas, enfiou o prego totalmente na madeira. Então seu pai lhe disse: “Muito bem. Agora tente retirar o prego, se você conseguir”. O menino suou muito na tentativa e, depois de quase uma hora, conseguiu arrancar o prego, deixando uma grande ferida na madeira.
Seu pai lhe disse: “Aprenda isso, meu filho. Fazer o mal é fácil, mas desfazê-lo é muito difícil, quando não impossível, e isso sempre deixa uma ferida”.
Um outro exemplo para entender as penas do pecado está na comparação de um pecador à um ladrão de carros.
“O ladrão de carros andando pela rua decide roubar um carro… entretanto no meio do caminho se arrepende e se apresenta à delegacia.
O juiz ao julgá-lo faz um elogio pela atitude, e perdoa a sua culpa, mas mesmo assim o condena a cumprir uns bons anos na prisão, até que sua pena esteja paga.”
Assim como o ladrão, quando cometemos um pecados somos acometidos pela culpa e pela pena.
Somos culpados pelo pecado que cometemos e precisamos pagar uma pena.
O sacerdote perdoa a nossa culpa, e isso libera a nossa entrada no céu, porém somente os puros entram no céu. Então toda essa pena precisa ser paga.
As Indulgências são formas de reduzir esta pena a qual devemos pelos nossos pecados.
O Papa Francisco explica assim: “Apesar do perdão, carregamos na nossa vida as contradições que são consequência dos nossos pecados. No sacramento da Reconciliação, Deus perdoa os pecados, que são verdadeiramente apagados; mas o cunho negativo que os pecados deixaram nos nossos comportamentos e pensamentos permanece” (Misericordiae vultus).
Portanto, a indulgência não busca perdoar nenhum pecado, mas sim superar totalmente as consequências negativas do pecado. Trata-se de uma realidade muito séria, longe de um automatismo mágico à margem da nossa busca sincera de Deus e do seu perdão, e que se traduz na vontade de levar uma vida autenticamente evangélica e refazer o caminho. Não é simplesmente passar por uma porta e tudo bem.
E em relação a isso que lhe parece impossível, posso lhe dizer que a Igreja nunca nos pede impossíveis. Se, ao invés de conceber esta rejeição do pecado como um ato da emotividade e dos sentimentos, você a encarar como um ato de pura determinação e vontade, perceberá que não é tão difícil. Mas tampouco fácil demais: é como se, diante de um prato que você comeria com deleite, decide não comê-lo, mesmo que implique em um sacrifício.
fonte: Aleteia