Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo
segundo São Lucas (Lc 2, 16-21)
Foram, pois, às pressas a Belém e encontraram Maria e José, e o recém-nascido deitado na manjedoura. Quando o viram, contaram as palavras que lhes tinham sido ditas a respeito do menino. Todos os que ouviram os pastores ficavam admirados com aquilo que contavam. Maria, porém, guardava todas estas coisas, meditando-as no seu coração. Os pastores retiraram-se, louvando e glorificando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, de acordo com o que lhes tinha sido dito. No oitavo dia, quando o menino devia ser circuncidado, deram-lhe o nome de Jesus, como fora chamado pelo anjo antes de ser concebido no ventre da mãe.
Santa Mãe de Deus
No dia em que temos a alegria de começar um novo ano de trabalhos e oração, a Santa Madre Igreja nos convida a celebrar o mais importante título com que a cristandade, desde as suas origens, tem honrado a Virgem Maria e, por meio dela, Aquele que por ela quis vir ao mundo. Referimo-nos à solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus: dia de preceito, dia de mistério, dia de, com os olhos postos em nossa Mãe Dadivosa, renovarmos todo o conjunto de nossa santa fé católica. Antes, porém, de vermos quais propósitos a festa de hoje nos pode inspirar, olhemos de mais perto as doçuras e preciosidades que se escondem sob este tão grande e tão misterioso título com que a Virgem Santíssima é há séculos aclamada.
Desde antes de dar seu Filho à luz, Maria foi chamada por Santa Isabel a “mãe de meu Senhor” (Lc 1, 43). E os evangelistas, por sua vez, não se envergonham de referir-nos o que a respeito de Cristo pensavam os nazarenos: afinal, não era Maria sua mãe? (cf. Mt 13, 55). Com efeito, a “mãe de Jesus” (cf. Jo 2, 1; 19, 25), como carinhosamente lhe chama o discípulo a cujos cuidados seria confiada (cf. Jo 19, 26s), é sempre mencionada por sua relação Àquele que “ela concebeu do Espírito Santo como homem e que se tornou verdadeiramente seu Filho segundo a carne” (CIC, § 495). Ora, quem é esse Filho, que é esse fruto bendito senão o própria a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Filho eterno a quem o Pai, gerando-o desde sempre, transmite tudo o que é, tudo o que tem?
Santidade singular
Sob o olhar da fé podemos descobrir aqui a belíssima conveniência dessa maternidade divina, em razão da qual quis o próprio Deus cumular de graças e enriquecer com uma santidade singular aquela que escolhera para dar à luz o Redentor. É esta, pois, uma verdade atestada já por São Paulo: “[…] quando veio a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho, que nasceu de uma mulher” (Gl 4, 4): pois do mesmo modo como da substância de Adão Eva fora formada, ainda virgem e sem pecado, assim também o Cristo haveria de tomar parte na carne imaculada de Maria, toda pura e sempre intacta. Eis a justiça, eis a sabedoria com que Deus, servindo-se dos mesmos instrumentos pelos quais a serpente fê-lo ruir, reergue o gênero humano sobre a humildade da nova Eva!
Indefectivelmente fiel à fé recebida dos Apóstolos, a Igreja nunca temeu confessar que Maria é, de fato, Mãe de Deus (Theotókos). Não porque o Verbo divino, ao fazer-se carne, tenha nela tido origem, mas porque dela recebeu o santo corpo pelo qual operou a obra da nossa salvação; não porque a Virgem Deípara tenha gerado a natureza divina, mas porque deu à luz Cristo, verdadeiro Deus. Mãe de Deus, mãe de Nosso Senhor, mãe da Cabeça da Igreja: devido a esta grande e amável dignidade, não pode a Virgem Maria deixar de ser também mãe dos membros de Cristo, mãe nossa, à cuja proteção devemos recorrer. Mãe de Cristo Rei; rainha, portanto, dos homens e dos anjos. Mão do Divino Mediador; mediadora, portanto, para todos os que desejam ir a Jesus e, por meio dele, ao Pai celeste.
Consagremos o ano que hoje começa aos cuidados desta Mãe admirável. Que ela, pondo-nos sob a proteção de seu manto maternal, nos preserve do pecado, nos ajude a vencer as tentações, nos dê força de vontade para querermos ser santos. Que ela nos faça perseverar, firmes e constantes, no serviço ao Senhor até o dia de nossa morte, por mais duro e áspero que seja o caminho. Que ao longo deste novo ano possamos associar-nos às dores da Mãe de Deus, a fim de um dia participarmos, ao seu lado, das alegrias que a sua divina maternidade conquistou para todos os redimidos pelo sangue de Cristo!
Fonte: Padre Paulo Ricardo