Caro leitor: se algum repórter de televisão parasse você na rua perguntando “O que é a amizade?”, o que você responderia? Talvez o nervosismo da situação o impedisse de fazer uma grande exposição, mas certamente você tem experiência para responder a esta pergunta, pois possui algum amigo. É possível que você responda “amigo é alguém que amamos e que podemos contar a qualquer hora”, ou algo semelhante. De fato, esta é uma boa definição de amizade. Mas será que esta é a única característica?
Não é difícil percebermos que uma pessoa que se aproxima de nós por algum interesse (quer apenas usar a nossa alegria, o nosso dinheiro, a nossa influência, etc…), por mais que seja agradável, não é nossa amiga. Queremos sempre um amigo companheiro, fiel, leal… Alguém que nos entenda, que nos respeite como somos. Mas, se somos cristãos, isso ainda não nos basta: é preciso que o nosso amigo, um amigo de verdade, seja alguém que nos ame como ama a si mesmo. Não basta, então, que o nosso amigo seja alguém que nos respeite: é preciso um profundo e verdadeiro amor. Um amor que quer o nosso bem, a nossa salvação, o nosso crescimento, em todos os sentidos. Não é à toa que a Sagrada Escritura nos diz: “Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, descobriu um tesouro” (Cf. Eclo 6, 14).
Antes de investigar um pouco mais sobre essa forma muito elevada de amar, sobre as características de um bom amigo, penso que seja útil fazer outra pergunta: “se um amigo de verdade é tudo isso, como encontrá-lo?”. Não é, de fato, uma tarefa fácil; requer muito tempo. Estou convencido de que, por causa da reciprocidade própria da amizade, isto é, do fato de ela não vir de uma só pessoa, mas de duas, a melhor forma de conseguirmos um verdadeiro amigo é sermos este amigo tão especial para os outros. Através desta atitude, naturalmente conquistaremos o próximo.
Então, quais são as características de um verdadeiro amigo? O que devemos fazer para sermos esse verdadeiro amigo? Poderia listar muitas coisas, mas penso que três características são fundamentais: paciência, atenção e doação.
Paciência porque nem sempre é fácil conviver com os outros. Às vezes nos deparamos com os limites do nosso amigo: seja porque ele não entende algo direito, porque ele tem uma personalidade forte, etc. Outras tantas vezes nos deparamos com nós mesmos: descobrimos que também não somos perfeitos, que temos raiva, inveja, ciúmes… Nestas horas de dificuldade é muito importante sermos pacientes. A palavra “esperar” significa, normalmente, algo monótono, tolo. Mas, fundamentalmente, “esperar” significa crer e aguardar com amor o encontro com o Deus Redentor que, em sua obra, transforma toda criatura. Esse é o esperar que o amigo deve ter: devemos ser pacientes com os outros, esperando que o Senhor Deus os dê a graça e façam-lhes pessoas novas. Evidentemente, essa paciência não se confunde com a tolerância: nesta não há qualquer tentativa de mudança; apenas se tolera a pessoa do jeito que é e pronto. Quando há paciência, há um profundo desejo de mudança, uma esperança que o amigo se aproxime mais do amor de Deus. O verdadeiro amigo não é aquele que simplesmente tolera o outro, mas aquele que, com muito respeito, chama a atenção, corrige com amor, da mesma maneira com que recebe essas correções não como um ataque, mas como uma tentativa de ajuda que recebe. Como é bom quando temos alguém que nos fala: “você age desta maneira, mas acredito que poderia agir de uma maneira melhor”; alguém que acredita em nós… Devemos ser pacientes com os nossos amigos porque acreditamos neles, acreditamos que eles podem crescer ainda mais, porque podem – devem – alcançar a vida eterna! É isso que desejamos aos nossos amigos.
A segunda característica fundamental é a atenção. Se quisermos ser amigos de alguém, não podemos ser pessoas distantes na vida dele. Isso não significa estar junto o tempo todo, como se não existisse mais nada além daquela amizade (minha avó chamava isso de “grude”), mas dedicar um tempo para estar com o amigo: fazer coisas juntos, ouvi-lo, contar segredos. Não se faz um amigo de uma hora para outra, e nem com pouco tempo de dedicação. Uma amizade é como uma flor que exige de nós cuidado e atenção. Vale a pena ser amigo não só dentro de um grande grupo, mas conversar com cada um em particular, conhecer cada um individualmente.
O terceiro ponto característico da amizade é a doação. Nisto, o Papa Francisco insiste muito: é preciso compreender que não podemos ser fechados em nós mesmos, que precisamos do outro e precisamos nos dedicar ao outro. Uma vez que fomos pacientes e atentos aos nossos amigos, podemos perceber como agir para auxiliá-lo. Talvez ele precise de ajuda no trabalho, nos estudos… Talvez ele precise de consolo, companhia para sair e se divertir. Um verdadeiro amigo é aquele que consegue perceber isso e ajudar o outro no que mais precisa. Um amigo de verdade não pensa em si: quer pensar no outro, como um verdadeiro irmão. Sem essa doação não há qualquer amizade.
João Pedro da Luz Neto
Estudante de Filosofia