Um jovem que viveu a fé cristã com a alegria da juventude
Médico, surfista e, por que não, santo. Assim é conhecido o brasileiro Guido Schäffer que desde a juventude evangelizava seus amigos.
Guido Vidal França Schäffer nasceu em 22 de maio de 1974, na cidade de Volta Redonda, RJ. É filho do médico Guido Manoel Vidal Schäffer e de Maria Nazareth França Schäffer. Desde o nascimento residiu com os pais no famoso bairro de Copacabana.
Foi batizado na Matriz de Santa Cecília no mesmo ano em que nasceu. Recebeu a Primeira Eucaristia em 1983 e o Crisma em 1990, ambos na Paróquia de Nossa Senhora de Copacabana. Seus pais, católicos, levavam os filhos às missas dominicais e os ensinavam a rezar todas as noites.
Quando jovem, decidiu seguir a profissão do pai. Cursou medicina entre 1993 a 1998. Como médico, Guido testemunhava sua fé aos pacientes que atendia e aos colegas de profissão. Ele redigiu um artigo sobre a espiritualidade dos profissionais da saúde onde afirmava que “a medicina é uma obra de Deus, pois toda medicina provém de Deus (cf. Eclo 38,2). Portanto, como obra de Deus ela deve glorificar o seu Criador. (…) Assim, purificados pela Palavra de Deus, como o profeta Isaías que teve os lábios tocados com uma brasa viva que saiu do altar (cf. Is 6,6-7), devemos narrar a glória e o esplendor de Deus”.[1]
Guido foi um jovem comum: namorava, pensava em se casar e construir sua família, praticava esporte, surfava. Porém, para ele, “todas as nossas ações devem visar o amor de Deus”, escreveu em suas anotações pessoais.
Certo dia, participando de um retiro espiritual, Guido ouviu de um padre a seguinte passagem bíblica: “Não desvieis o vosso olhar do pobre, e Deus tampouco se desviará de ti” (Tb 4, 7). Nesse momento refletiu em seu íntimo e tomou consciência de que algumas vezes desviou o olhar dos pobres. Pediu perdão a Deus e suplicou: “Jesus, me ajuda a cuidar dos pobres”. E meditando as palavras “vende tudo o que tens, dá aos pobre e terás um tesouro no céus; depois vem e segue-me” (Lc 18,22), Guido “não tendo nada em seu nome a não ser o diploma de médico – conta sua mãe – decidiu dedicar a medicina aos pobres”.
Aos poucos seu projeto de vida foi dando lugar aos planos de Deus. A carreira de médico foi deixada de lado… o seu maior desejo passou a ser entrar para um seminário. Como sacerdote, Guido seria médico de almas. Iniciou, então, os estudos no Mosteiro de São Bento em 2002 e ingressou no Seminário São José em 2008.
Infelizmente, Guido não chegou a ser ordenado sacerdote. Um acidente pôs fim aos planos de Deus para a sua vida. Em 1º de maio de 2009, com 34 anos, faltando apenas um ano para a sua ordenação, ele perdeu a vida fazendo aquilo que mais gostava nos momentos de lazer: surfar. A prancha atingiu a sua nuca e ele morreu afogado na praia da Barra da Tijuca.
Fama de santidade
O seu amor à Eucaristia, a sua vida de oração, a sua entrega abnegada aos pobres e doentes, a sua dedicação missionária e a sua humildade são traços que compõe o retrato de sua alma. Guido tinha especial devoção à Santíssima Virgem Maria, a quem chamava Mãe do puro Amor. A Ela compôs uma oração: “Ave-Maria, Mãe do puro Amor, dai-nos a graça da obediência e da docilidade à Palavra de Deus para que repletos de sabedoria possamos irradiar a luz de Cristo em nossos corações”.
Maria Nazareth, sua mãe, conta que aos 6 anos Guido teve uma experiência sobrenatural. “Eu o encontrei chorando no quarto. Ele disse que havia visto Jesus, e Ele havia lhe dito para obedecer aos pais e prestar atenção no que o padre dizia por que um dia iria cuidar dos outros”, se recorda emocionada.
Os colegas de seminário contam que Guido era o primeiro a chegar à Capela e o último a sair. “O amor é viver intensamente esta vida com os olhos fixos em Jesus”, deixou escrito.
Até hoje, na data de seu aniversário, devotos peregrinam ao cemitério onde ele está enterrado para rezar, cantar, pedir e agradecer. “Em vida, Guido dedicou parte da juventude para cuidar dos pobres”, contam aqueles que o conheceram. Ele é descrito como alguém que estava sempre disposto a ouvir os problemas dos outros com a capacidade de dizer-lhe palavras certas deixando em paz aquele com quem dialogava.
Guido fundou diversos grupos de oração e foi um pregador incansável da Palavra de Deus. “Busquem a Palavra com avidez, isto é, como quem tem uma grande sede e fome, pois quem se alimenta da Palavra experimenta a doçura do céu”, escreveu numa carta destinada aos jovens do grupo Chama do Amor com data de 16.07.2008. “Que o desejo ardente pela Palavra do Senhor vos leve a transbordar de amor uns pelos outros”, anotou na mesma carta.
O pedido de beatificação
Guido Schäffer atende ao primeiro critério do Vaticano para se iniciar um processo de canonização: sua trajetória na Terra criou uma “fama de santidade”. O processo foi aberto no dia 17 de janeiro de 2015 na Basílica Imaculada Conceição, em Botafogo. “O exemplo do jovem Guido é parte de uma grande multidão de santos que temos percorrendo as ruas de nossas cidades!”, escreveu Dom Orani João Tempesta – cardeal arcebispo metropolitano do Rio de Janeiro.
A belíssima história de Guido mostra-nos que não precisamos deixar de fazer o gostamos para viver a santidade. Pois a santidade precisa ser vivida naturalmente.
“Tudo me é permitido, mas nem tudo convém. Tudo me é permitido, mas eu não me deixarei dominar por coisa alguma” (1Cor 6,12) e é assim que deve proceder no nosso caminhar rumo à santidade. “O Mestre chama todos à santidade, sem distinção de idade, profissão, raça ou condição social”, afirma Dom Orani.
Assim como Guido, podemos ser santos sem deixar de ser jovem, sem deixar de lado as atividades própria de um jovem; santos de calça jeans, que saem com os amigos, porém com a convicção de que somos cristãos e que somos chamados a evangelizar e a testemunhar o amor misericordioso do Senhor.
A vida de Guido – jovem, médico, surfista, seminarista – é para nós um exemplo de pureza. Ele é, sem dúvida, padroeiro e intercessor dos jovens. À seu exemplo, busquemos nos alimentar mais e mais com a Palavra de Deus, pois, como escreveu Guido “quem guarda a Palavra de Deus é plenamente realizado no amor” (carta aos jovens do grupo Chama do Amor).
Tainá Gonçalves e Fernanda Portela
Grupo de Jovens do Santuário da Divina Misericórdia
[1] Publicado em www.guidoschaffer.com.br