Padre Cícero Romão Batista, o conhecido sacerdote nordestino com fama de santo e que faleceu punido pelo Vaticano, foi reconciliado com a Igreja Católica. Assim anunciou o Bispo de Crato (CE), Dom Fernando Panico, neste domingo, 13. A ocasião para tornar público o fato foi a abertura da Porta Santa da Catedral de Nossa Senhora da Penha, pelo Ano da Misericórdia.
“O Papa, com a autoridade que ele tem, depois dos estudos feitos e todo o aconselhamento que houve, escutou a voz da misericórdia”, disse Dom Panico durante a celebração.
Padre Cícero, conhecido pelo seu envolvimento na política, sofreu suspensão da ordem sacerdotal por parte Santa Sé, em 1894, sob acusação de manipulação da fé. Segundo o site da Diocese de Crato, em 2006, Dom Panico formou uma comissão e deu entrada na Congregação para Doutrina da Fé, no Vaticano, ao processo de reabilitação de Padre Cícero, ou seja, a recuperação da ordem que havia sido suspensa. Mas, “como o padre já havia falecido e as punições cessadas, não tinha o que o Papa reabilitar”, afirma o texto da diocese nordestina.
Ainda segundo o site, “de 2006 a 2014, uma equipe de direito canônico do Vaticano estudou como resolver esta questão. Eles chegaram à conclusão de que a Igreja teria que ter uma Reconciliação”, apagando as oposições à ação do padre que faleceu em 1934.
Desde a morte de Padre Cícero, inúmeros de romeiros vão até Juazeiro do Norte, como grande expressão de fé.
“Como a ação do Padre Cícero se tornou crescente mesmo após a sua morte, eles disseram era oportuno a reconciliação da Igreja com o Padre”, disse o chanceler da diocese, Armando Lopes Rafael sobre a reconciliação.
A carta da reconciliação foi enviada pelo Papa Francisco à Diocese de Crato em outubro deste ano, assinada pelo Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin. No texto, ainda não divulgado na íntegra, é a apontada a relação entre Padre Cícero e a evangelização, ressaltando “os bons frutos que hoje podem ser vivenciados pelos inúmeros romeiros que, sem cessar, peregrinam a Juazeiro atraídos pela figura daquele sacerdote”.
“Procedendo desta forma, pode-se perceber que a memória do Padre Cícero Romão Batista mantém, no conjunto de boa parte do catolicismo deste país, e, dessa forma, valorizá-la desde um ponto de vista eminentemente pastoral e religioso, como um possível instrumento de evangelização popular”, afirma a missiva vaticana.
A figura do sacerdote foi em algumas ocasiões associada aos ideais comunistas. Entretanto, o próprio Padre Cícero se distanciou desta postura e afirmava que “o comunismo foi fundado pelo demônio”.
“Lúcifer é o seu chefe e a disseminação de sua doutrina é a guerra do diabo contra Deus. Conheço o comunismo e sei que é diabólico. É a continuação da guerra dos anjos maus contra o criador e seus filhos”, dizia.
Padre Cícero
Nascido em 1844 na cidade de Crato, Padre Cícero, foi ordenado em 1970, tendo ido para a região de Juazeiro dois anos depois. Em 1894, foi suspenso da ordem por manipulação da fé, em razão de um caso que ainda hoje é chamado “milagre da hóstia”.
O sacerdote, conforme relatos, teria dado a comunhão a uma mulher e a hóstia teria sangrado em sua boca. Pe. Cícero pediu que dois médicos e um farmacêutico estudassem o caso e estes alegaram que se tratava de algo inexplicável à luz da ciência.
O então Bispo de Fortaleza (CE), Dom Joaquim José Vieira, tendo conhecimento do fato, nomeou Comissão que o estudou e concluiu que não houve milagre. Com isso, o Vaticano suspendeu a ordem de Pe. Cícero.
A partir de 1911, o Padre Cícero passou a se envolver diretamente com a política. Neste ano, com a emancipação de Juazeiro, foi nomeado o primeiro prefeito do município. Mais tarde, foi eleito também para outros cargos políticos e participou da Sedição de Juazeiro, em 1914, junto com grandes coronéis, contra a intervenção do governo federal no Estado.
Nesta época, por causa do chamado “milagre da hóstia” muitas pessoas já peregrinavam a Juazeiro, com romarias cada vez maiores.
Diante disso, em 1916, a Santa Sé declara que Cícero estaria excomungado por ainda alimentar o fanatismo. Mas, por causa da saúde dele, que já se encontrava com seus 72 anos, o Bispo de Crato, Dom Quintino Rodrigues, evitou que o Vaticano aplicasse a excomunhão e exigiu dele uma retratação pública. Então, o Santo Ofício reviu a pena, e apesar de não decretar sua excomunhão, manteve suspensa a ordem sacerdotal.
Padre Cícero faleceu em Juazeiro do Norte no dia 20 de julho de 1934, aos 90 anos. Está sepultado na Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Juazeiro do Norte.
No próximo domingo, 20 de dezembro, em Missa nesta Igreja, Dom Fernando Panico irá fazer o anúncio oficial da reconciliação de Padre Cícero com a Igreja Católica aos romeiros de Juazeiro do Norte.
fonte: ACI