Ao apelo de Deus para que a pessoa colabore na obra da salvação dá-se o nome de vocação.

A vocação é um desejo e um dom da bondade divina para com o homem. A fonte de onde brota toda vocação é o batismo e é pela ação contínua do Espírito, recebido no batismo e demais sacramentos, que a pessoa consegue responder, ao longo das diferentes etapas da vida, ao apelo de Deus para o seguimento e o testemunho.

Em cada homem existe a capacidade oferecida por Deus de sair de si, de ir além do seu mundo limitado, de ampliar seu modo de pensar, sentir e atuar, e se lançar para além daquilo que se é e vive, e ir ao encontro de Deus como fim último de sua vida.

Essa capacidade de sair de si, quando se encontra com o apelo de Deus, isto é, o chamado vocacional, dá origem a um caminho. Assim foi com Abraão, com os profetas e com Maria, mãe de Jesus. A partir do encontro do desejo divino com a resposta humana é que a aventura do seguimento ganha vida.

As etapas pelas quais passa o seguimento vocacional, em particular na vida religiosa, são a entrada, a perseverança e a eficácia da vocação.


Encanto

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O passo de deixar tudo para seguir a Jesus Cristo frequentemente é marcado pelo medo de deixar seu próprio mundo existencial e do que vai se encontrar à frente. Mas é marcado também pelo encanto da nova forma de vida que se abraça. Quando a pessoa deixa sua casa, família, amigos e entra na vida religiosa ela encontra na comunidade a qual passa a fazer parte uma nova casa, família e amigos. É um momento de encanto que a novidade traz. Passando o tempo, a pessoa percebe que precisa ir assumindo novos compromissos em relação a escolha de ter entrado na vida religiosa. E toda a existência vai sendo aos poucos comprometida com o amor a Cristo.

O encanto pelo qual é marcada a entrada na vida religiosa com o tempo dá lugar ao questionamento sobre as motivações pelas quais se persevera na vocação. Em uma vocação profissional a pessoa busca em primeiro plano a autorrealização, já na vida religiosa a autorrealização não é o fim a ser buscado, mas fruto da entrega de si a Cristo. Sendo Cristo o motivo central da vida da pessoa a autorrealização virá como efeito. Tomando essa consciência, ocorre um processo de purificação motivacional e amadurecimento na liberdade de seguir e servir a Cristo Jesus.

Perseverança

Mas, se o chamado a seguir Cristo é um dom da graça, como pode se explicar tantos desânimos e falta de perseverança? Inúmeras seriam as respostas para o desânimo e não perseverança, aqui, porém, sugerimos algumas somente. E estas poderiam servir de sugestão para quem precisa verificar as motivações pelas quais persevera ou não.

Cada pessoa traz em seu coração ideais de realizar o amor de Cristo para com a humanidade. Tais ideais podem se manifestar no serviço aos pobres, na pregação do Evangelho, na oração entre outros. Num primeiro momento o encanto do servir alimenta o coração da pessoa, porém, as provações da vida acabam frequentemente revelando que algumas motivações escondem necessidades não conscientes.

Motivação

Entre o ideal proclamado e a vida concreta é que se reconhecem as motivações que levam a perseverar e descobrir se a busca vocacional tem seu centro em Cristo ou na necessidade de autorrealização. Uma pessoa sente o desejo de ajudar os pobres, mas se isso não trazer reconhecimento ela poderá se desmotivar ao longo do tempo. Outra pode sentir o desejo de viver em comunidade, mas quando se dá conta que os irmãos ou irmãs não se adaptam ao seu ideal e se revelam difíceis, então pode ocorrer o desencanto e a não perseverança. Outra ainda pode sentir o desejo de comunicar o Evangelho, mas se isso não traz sucesso logo vem o sentimento de fracasso.

Eficácia

Uma pessoa pode até perseverar como um herói, sendo eficiente no serviço. O risco, no entanto, é que seja uma perseverança funcional e eficiente, mas não necessariamente eficaz.

A eficiência está no nível profissional, no desenvolvimento das habilidades, mas a eficácia é obra da graça divina que acontece com a purificação das motivações.

É a ação contínua do Espírito Santo que desperta a vocação, motiva a entrada no serviço do Senhor e dá a eficácia na missão.

O desejo de Deus em chamar seus filhos e filhas frequentemente encontra respostas generosas. Se houver abertura do coração para se deixar ajudar por Deus e por aqueles que Ele coloca no caminho, certamente as limitações serão superadas e a escolha vocacional irá ganhar eficácia ao longo da vida.

Com o tempo virá a autorrealização como fruto de um abandono sereno e confiante em Deus.



Padre Leonardo Willian Mariano, MIC,
para a Revista Divina Misericórdia, Ed. 65