Foto: Santuário da Divina Misericórdia-EUA

O sacerdote mariano Walter Gurgul, MIC, de origem polonesa, estava com 90 anos e desde 1997 vivia no Santuário Nacional da Divina Misericórdia de Stockbridge, EUA. Padre Walter era muito estimado, lembrado como uma alma gentil, e faleceu em 6 de dezembro, no Berkshire Medical Center em Pittsfield, Massachusetts.

Foi um grande estudioso e defensor da fé católica. Quando jovem, durante a Segunda Guerra Mundial, passou um tempo em um campo de trabalho soviético. Quando descobriu sua vocação, reconheceu que foi a Mãe Santíssima quem o conduziu aos Padres Marianos da Imaculada Conceição.


Campo soviético de trabalho forçado

Walter Gurgul nasceu em 28 de setembro de 1930, em uma pequena fazenda em Belz, no leste da Polônia (agora oeste da Ucrânia). Teve uma infância simples e feliz que terminou inesperadamente em 1939, quando os soviéticos invadiram a Polônia.

“O dia 10 de fevereiro de 1940, um dia que lembramos tão bem”, compartilhou Pe. Gurgul numa recente entrevista para a Revista Marian Helper, da Editora dos Padres Marianos nos EUA.

A família Gurgul, de oito pessoas, e seus vizinhos estavam entre as centenas de milhares de poloneses que foram forçados a subir em vagões de carga para a Sibéria após a invasão soviética. Foram colocados em campos de trabalhos forçados onde pelo menos metade dos seus compatriotas morreu de fome ou doença.

Pe. Gurgul, recordou que era um lugar muito frio. “E éramos constantemente lembrados de que estávamos ‘destinados a morrer aqui como cães’. Passamos fome por mais de três dias seguidos.”

Os Gurguls receberam um único quarto com um forno de pão e uma cama. Seu pai trabalhava no feno e sua mãe carregava água. Seu amado pai acabou adoecendo e foi mandado para um hospital, de onde nunca mais voltou.

Enquanto isso, o jovem Walter ia à escola de segunda a sábado. Ele se saiu tão bem que a KGB (serviço secreto soviético) começou a notá-lo. As palavras de seu pai para ele ecoaram em seus ouvidos: “Meu querido garotinho. Filho, aprenda, aprenda o máximo possível. Será útil e lhe servirá em sua vida.”

Temendo que o filho fosse levado pela KGB e sem comida suficiente, a mãe de Walter começou a pensar na possibilidade de uma fuga.

No verão de 1941, toda a comunidade polonesa do campo foi reunida pelas autoridades soviéticas. Alguns pensaram: “Seremos baleados no local!”, mas para sua grande surpresa, os poloneses foram informados de que estavam tendo sua liberdade concedida. 

No entanto, mais tarde eles ouviram daqueles que tinham um rádio contrabandeado que em 22 de junho de 1941, Hitler havia declarado guerra à Rússia e Stalin queria reunir os poloneses para criar um exército polonês para lutar contra os alemães.

A fuga

Em uma noite fria de novembro de 1941, puxando os filhos em trenós, a mãe e a tia de Walter partiram a pé para escapar, percorrendo a jornada de mais de 29 km pela floresta até uma estação ferroviária.

“Onde eles conseguiram sua força?”, perguntou Pe. Gurgul. “Foi seu instinto materno inato que os levou a esse heroísmo, para salvar seus filhos amados.”

Ele acrescentou: “Lembro-me dos lobos e ursos selvagens. Era extremamente frio e assustador.”

Eles pularam em um trem rumo ao sul. Chegando ao Uzbequistão, foram recebidos pelo exército polonês, que se compadeceu deles e lhes deu uma cabana de palha e barro. Walter trabalhou colhendo algodão nos campos. A única comida que conseguiram arranjar foi um mingau de arroz. Desesperado por carne, sua mãe matou um cachorro. Poucos dias depois dessa refeição, toda a família, exceto o filho mais velho, adoeceu com febre tifoide. Walter testemunhou a morte de seu irmão de 2 anos, Bronus, e de sua irmã de 4 anos, Irenka.

Após a recuperação, os membros restantes da família encontraram um oficial polonês que reconheceu seu nome. 

“Gurgul?” o oficial perguntou. “Eu estava no exército com seu pai em 1939!”.

Ele levou Bolek, o filho mais velho, e Walter para um local seguro – para os pelotões onde mais de 70 jovens poloneses estavam sendo abrigados. No final de fevereiro de 1942, os militares poloneses anunciaram que precisavam enviar os meninos para o exterior.

“Estávamos deixando o Oriente para sempre”, disse Pe. Gurgul. “Deixamos para trás toda a miséria e sofrimento. Um novo capítulo de vida havia começado.”

Novo capítulo

Devido à Lei de Proteção Britânica, sobreviventes poloneses poderiam ser enviados para as colônias britânicas. Sua mãe e os filhos mais novos foram enviados para o Quênia, enquanto seu irmão mais velho foi enviado para o Egito e Walter foi enviado para a Palestina. Lá ele frequentou a escola primária em Nazaré e um colégio salesiano em Jerusalém.

Em 1947, o British Protection Act expirou e Walter foi enviado para a Inglaterra, onde se reuniu com sua mãe e irmãos. Continuou os estudos do seminário, desejando ser sacerdote salesiano.

Vocação para o sacerdócio

Um dia, em 1950, em visita à sua mãe, encontrou um capelão polonês que lhe disse:

“Oh, Walter, você não vai ser padre salesiano, vai ser padre ‘polonês'”.

Enquanto isso, Pe. Joseph Jarzebowski, MIC (o mariano que trouxe a devoção da Divina Misericórdia para a América), e outros marianos tinham acabado de chegar à Inglaterra e iniciado noviciado em Hereford. Walter foi aceito na Congregação dos Padres Marianos, chegando em 19 de janeiro de 1953.

Sobre o Pe. Jarzebowski, Walter afirmou: “ele teve um efeito profundo em mim”.

Como assim?

“Ele sempre falava de Maria”, disse Pe. Gurgul. “Na verdade, ele costumava saudar a todos com ‘Ave Maria!’”.

Ordenação

Padre Walter foi ordenado em Roma no dia 4 de julho de 1960.

“Foi o dia mais lindo da minha vida, porque minha mãe estava lá para testemunhar”, lembrou.

Após sua ordenação, ele passou mais dois anos em Roma, estudando um novo idioma a cada dois anos. Em determinado momento, ele sabia polonês, russo, alemão, francês, inglês, latim, grego, italiano e português. Ele pediu permissão para estudar em Paris e recebeu permissão de seu superior – foi um sonho que se tornou realidade. Porém, pouco antes de partir de Roma para Paris, ele recebeu a notícia de que um Mariano estava doente na Inglaterra, por isso, deveria retornar para ajudar a lecionar em Fawley Court.

Ele ensinou geografia, latim e outras matérias, incluindo mestre de esportes. Amava futebol e tênis. Com os alunos, adotou o estilo de ensino que aprendeu com os Salesianos – rezar com os alunos, ensinar os alunos e brincar com os alunos! Mesmo seus alunos mais difíceis o amavam e tiravam notas altas em suas aulas. Ele também foi diretor da escola até o seu fechamento em 1986. Depois continuou a servir nas paróquias da área.

Mudança para os EUA

Foto: Reprodução vídeo/YouTube Padres Marianos-EUA

O Padre Gurgul mudou-se para os Estados Unidos em 1997. Ele serviu numa das paróquias marianas em Plano, Illinois, por um período de tempo. Mas a maior parte de seus anos nos Estados Unidos foi passada no Shrine em Stockbridge, onde ganhou a reputação de excelente confessor.

“Ele passava horas no confessionário”, lembrou Pe. Kaz Chwalek, MIC, Provincial dos Padres Marianos dos Estados Unidos e Argentina. “E ele era um estudioso das Escrituras. Suas homilias eram muito comoventes e aprofundadas em seu conhecimento das Escrituras.

“Além disso, ele sempre tentou ser útil”, disse o Pe. Kaz. “Ele ajudava a ensinar latim aos nossos seminaristas. Ele limpava a casa tarde da noite ou muito cedo – não porque precisava, mas porque queria. Faria tantas pequenas coisas que ninguém sabia.”

Ao longo de sua vida, Pe. Walter manteve correspondência com outros exilados siberianos. Ele costumava falar sobre as amáveis ​​e pobres mulheres russas que deram o que podiam para ajudar os poloneses a sobreviverem enquanto fugiam da Sibéria.

Devoção a Nossa Senhora

Foto: Ir. Bárbara de Jesus/Santuário da Divina Misericórdia-EUA

O padre Walter deu o crédito à sua mãe por incutir nele o amor por Nossa Senhora. 

“Essa se tornou a maior influência espiritual da minha vida”, disse ele.  Por isso, tanto antes como depois de se tornar sacerdote na Polônia, parecia natural rezar tanto à Virgem Santíssima.

“Eu envolvo Nossa Senhora em tudo o que faço”, disse ele. “Por exemplo, antes de pregar, peço a orientação da Mãe Santíssima”.

“Quando você ama Maria, você fica sem palavras. Não temos palavras para expressar adequadamente nosso louvor e amor por ela. Às vezes, a única palavra que me vem à mente é o nome dela: ‘Maria … Maria … Maria”.

Sua oração favorita era o Ângelus. 

“Pode parecer estranho, mas rezo o Ângelus depois de tomar meu banho matinal”, disse ele. “Sinto-me limpo e rezo ara que o Ângelus me limpe por dentro. Corpo limpo, alma limpa! Então, à noite, no final do dia, depois das minhas orações, a última coisa que faço é pegar um Rosário e mantê-lo comigo enquanto durmo”.

“Meu conselho a todos os que quiserem ouvir: 1) transforme suas últimas palavras do dia em um ato de contrição por qualquer coisa que você possa ter feito para ofender a Deus. 2) fique em contato com Nossa Senhora. Ela nos leva a Jesus. 3) carregue sempre um rosário, use um escapulário ou tenha um cartão de oração com você”.

Os Padres Marianos agradecem a casa de repouso Kimball Farms, em Lenox, pelo grande cuidado que dispensaram ao Pe. Walter no último ano de sua vida. 

 “Agradeci, despedi-me e entreguei-o ao Senhor, rezando para que Nossa Senhora o cumprimente e o leve a Jesus”, contou o Provincial Pe. Kaz sobre o Perdão Apostólico.

Agradecemos ao Senhor por nos ter dado o Pe. Walter Gurgul.

Fonte: Santuário Nacional da Divina Misericórdia, EUA.